A presidente afastada Dilma Rousseff foi ao Senado nesta segunda-feira (29) para fazer a sua defesa no processo de impeachment. Ela chegou ao Congresso por volta das 9 horas. Fez um discurso de 46 minutos e passou quase 14 horas respondendo a perguntas dos senadores. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o cantor Chico Buarque acompanharam as discussões

Em seu discurso, chegou a se emocionar por duas vezes. Uma delas foi quando afirmou que jamais renunciaria ao mandato, mesmo sob a forte pressão feita por seus adversários políticos. “Jamais o faria porque tenho compromisso inarredável com o Estado de Direito. Confesso que a traição e as agressões verbais me assombraram e, em alguns momentos, muito me magoaram, mas sempre foram superadas pela solidariedade de milhões de brasileiros pelas ruas”, declarou.  “Cassar meu mandato é como me submeter a uma pena de morte política”, afirmou, lembrando que, por mais de uma vez, encarou de frente a morte, como no período em que enfrentou um câncer. “Hoje, eu só temo a morte da democracia pela qual muitos de nós aqui lutamos. Não nutro rancor pelos que votarão pela minha destituição.”

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Dilma Rousseff disse ainda que o impeachment se tornou assunto central da pauta política e da imprensa, dois meses após a sua reeleição. E destacou que os partidos que apoiavam o seu principal oponente nas urnas, no pleito presidencial de outubro de 2014, o tucano Aécio Neves (PSDB), “fizeram de tudo” para impedir a sua posse e estabilidade. “Queriam o poder a qualquer preço e tudo fizeram para desestabilizar a mim e a meu governo”, emendou. E disse que por ter contrariado interesses, pagou e paga um elevado preço.

No discurso, ela criticou também o presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e falou que sua gestão foi prejudicada pelas chamadas ‘pautas-bomba’ no parlamento, que prejudicaram a economia e dificultaram a busca do reequilíbrio fiscal. “Foi criado assim o ambiente de instabilidade política.”

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“Contrariei interesses e por isso pago um preço alto”, disse a presidente afastada na sua defesa, ressaltando que o processo de impeachment só foi aprovado por conta da “chantagem implícita” de Cunha, que não queria que seu processo de cassação fosse aberto. E frisou que o fato de não ter se curvado à chantagem do peemedebista motivou a abertura de seu processo de impedimento.

“Curiosamente, estarei sendo julgada por um crime que não cometi” e criticou novamente Cunha. “Ironia da história? Não, de maneira nenhuma”, respondeu, dizendo que a abertura de seu processo de impeachment foi um fato que teve a cumplicidade e apoio de setores da mídia. “Encontraram na pessoa do ex-presidente da Câmara o vértice de sua aliança golpista.”

Dilma Rousseff fez um apelo ao senadores. “Não aceitem um golpe que, em vez de solucionar, agravará a crise brasileira”, disse. “Peço que façam justiça a uma presidenta honesta, que jamais cometeu qualquer ato ilegal. Votem, sem ressentimento, o que cada senador sente por mim e o que nós sentimos uns pelos outros importa menos neste momento do que aquilo que todos nós sentimos pelo país e pelo povo brasileiro”, afirmou. “Peço que votem contra o impeachment e pela democracia”, concluiu.

Apesar dos apelos do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, Dilma foi bastante aplaudida por seus apoiadores que acompanham a sessão nas galerias dentro do plenário do Senado. Foi necessário suspender o julgamento por alguns minutos para que a ordem fosse restabelecida.

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Julgamento
Durante a sessão de perguntas dos senadores, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) interpelou a presidente afastada sobre a parcela de culpa do governo petista na crise que ele chamou de “a pior recessão da história do país” – e se a presidente se sente “sinceramente responsável” por ela. Dilma argumentou que muitas medidas foram tomadas para desestabilizar seu governo. A presidente afastada também culpou a crise fiscal americana, além da crise energética do sudeste.

Dilma ainda bateu na tecla de que, além da crise econômica, em âmbito mundial, ela precisou enfrentar uma crise política, capitaneada pela oposição e pela mídia. “A eleição de Eduardo Cunha produziu uma situação complexa para o meu governo”, diz Dilma. Ela se referia às medidas não aprovadas pela Câmara, que, segundo Dilma, poderiam ter sanado as questões fiscais já no fim de 2014.

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Dilma é ouvida no Senado em julgamento do impeachment
Dilma é ouvida no Senado em julgamento do impeachment (Crédito:AFP PHOTO / EVARISTO SA)

 

Ao tomar a palavra, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) classificou as chamadas pedaladas fiscais e os decretos que autorizaram a abertura de créditos suplementares como “a ponta do iceberg” em relação aos problemas do governo da presidente afastada Dilma Rousseff. “São apenas parte do processo que se inicia com a chamada contabilidade criativa”, afirmou o senador, 28º parlamentar a questionar a petista em seu interrogatório.“A contabilidade criativa escondeu a debilidade econômica antes das eleições de 2014”, acrescentou Jereissati, que acusou a petista de usar o poder sobre os bancos públicos para financiar seu governo.

Em sua resposta, Dilma disse que o Congresso não aprovou nenhuma das propostas de ajuste fiscal enviadas pelo seu governo. Em vez disso, ela continuou, o Congresso votou “pautas bomba”, que dificultavam a resolução dos problemas fiscais. “Se isso não é boicote, não sei o que é boicote político”, afirmou. “Inviabilizaram meu governo”, disse.

A petista também voltou a dizer que um golpe de Estado não é igual a um golpe militar. “O mais grave dos crimes é condenar um inocente por crime que não cometeu, principalmente sendo a presidente da República, isso é romper a Constituição. Por isso a literatura chama esses golpes de golpe parlamentar”, defendeu.

Fator Lula

Dilma chegou acompanhada por um séquito de apoiadores no Senado e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O temor de senadores governistas é de que a presença do ex-presidente possa inflamar a presidente afastada e parlamentares aliados. A ordem é não provocar.

Outra preocupação é o tom adotado pela advogada Janaina Paschoal, uma das autoras do pedido de impeachment. Ela sinalizou a senadores que será incisiva, mas sem ser descortês nos questionamentos à presidente afastada.

Domingo à noite, uma reunião na casa da senadora Lídice da Mata (PSB-BA) discutiu a estratégia dos defensores da petista na sessão de segunda.

“Acredito que temos tudo para reverter isso”, afirmou o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), acrescentando que Dilma “é a pessoa mais preparada para defender seu governo”.