A seca no Nordeste continua a preocupar as autoridades do setor elétrico. Em reunião realizada nesta quarta-feira, 31, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) decidiu levar as discussões sobre a redução da vazão da usina de Sobradinho para a Casa Civil da Presidência da República. Em tese, a decisão final sobre o assunto seria da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ibama.

“Em que pese a competência da ANA e do Ibama quanto ao pleito do setor elétrico de redução da defluência para 700 m3/s a partir da UHE Sobradinho, o Ministério de Minas e Energia entendeu ser oportuno encaminhar o tema para tratamento na Casa Civil da Presidência da República, dado seu caráter interministerial”, diz a nota divulgada pelo comitê.

A recomendação de redução da vazão da hidrelétrica já havia sido aprovada pelo CMSE no mês passado. Uma nota técnica do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) respaldou o posicionamento do CMSE e apontou que o volume de água que chega ao reservatório da usina ficou em 79,6% entre 1993 e 2014.

“Bacias vizinhas à do Rio São Francisco apresentam o mesmo comportamento de redução de vazões a partir de 1993”, afirma a nota. Um dos motivos que podem explicar esse comportamento é o uso do Rio São Francisco por comunidades vizinhas e pela agricultura irrigada, que reduziriam a quantidade de água que chega ao reservatório da usina.

Se a vazão de Sobradinho permanecer em 800 metros cúbicos por segundo, o comitê prevê que o reservatório da usina atinja 2,7% até o fim de novembro. Com a redução para 700 metros cúbicos por segundo, a expectativa, segundo o CMSE, é de um armazenamento de 4,5%.

De acordo com o comitê, a preocupação com a usina não está relacionada às condições de geração de energia, mas sim ao abastecimento de água. “Apesar de não haver riscos para o abastecimento energético, o setor elétrico vem utilizando seu arcabouço técnico sobre a hidrologia para sugerir aos órgãos competentes ações de gestão dos recursos hídricos armazenados nas usinas hidrelétricas, devido ao impactos que a situação pode causar no abastecimento de água”, afirma a nota do CMSE.

Consumo

Com a atualização dos dados de carga de 2014 e 2015, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) reviu as projeções para o crescimento do consumo total de eletricidade no País. Para o período entre 2016 e 2020, a projeção é de um crescimento de 4% ao ano.

De acordo com a nota, o Ministério de Minas e Energia deve lançar nos próximos dias uma consulta pública para discutir o mercado livre e as condições de acesso do consumidor, inclusive o residencial, atendido atualmente pelas distribuidoras. O governo informou ainda que não houve nenhuma ocorrência no sistema elétrico durante a Olimpíada no Rio de Janeiro que afetasse as competições ou o fornecimento de energia nas instalações.

Risco

Com a queda do consumo e sobra de energia, o governo afastou qualquer chance de racionamento no País neste ano. O risco é zero, levando em consideração a média dos últimos 84 anos de chuvas e a série sintética, que desdobra o histórico em 2 mil cenários hipotéticos.

De acordo com o comitê, no mês de agosto, as chuvas ficaram acima da média histórica na Região Sul, em 116%, e no Sudeste/Centro-Oeste, em 104%. No Norte e no Nordeste, as chuvas ficaram abaixo da média e atingiram, respectivamente, 45% e 35%.

No fim de agosto, os reservatórios das hidrelétricas atingiram 90,2% de sua capacidade de armazenamento no Sul, 47,1% no Norte, 46% no Sudeste/Centro-Oeste e 19,2% no Nordeste. A previsão, para o fim de setembro, é que os reservatórios atinjam a 96,5% no Sul, 40,1% no Norte, 40% no Sudeste/Centro-Oeste e 14,7% no Nordeste.

Segundo o comitê, no mês passado, 1.514,2 MW foram acrescentados ao sistema. O principal destaque foi a entrada em operação das últimas três turbinas de Teles Pires, que adicionaram 1.092 MW ao sistema. Desde janeiro, já entraram em operação 6.970 MW de energia nova e 3.027 km em linhas.