A polêmica dos preconceitos cantados nas marchinhas de antigamente passou longe da multidão que subiu e desceu as ladeiras do Bexiga, no centro da capital paulista, na tarde desta segunda-feira de carnaval. Com todo o fôlego possível, a população cantou Maria Sapatão, Cabeleira do Zezé, Chiquita Bacana e outros sucessos de antigamente, puxados pelo bloco Esfarrapado. Tudo isso sob uma enorme guerra de espumas, confetes, farinha e ovos promovida pelas crianças que acompanharam os músicos.

Dono do título de “mais antigo bloco em atividade da cidade”, com 70 anos — foi fundado em 1947 — o Esfarrapado não é um bloco saudosista para idosos. Ou pode até ser, uma vez que é grande a presença do público da terceira idade na festa. Mas ele é aquele bloco escolhido pelos pais que querem mostrar a graça do carnaval de rua para os filhos.

Gente como o empresário André Luís dos Santos, de 40 anos, morador de Interlagos, zona sul. Vestido de pirata, mesma escolha de sua mulher, ele trouxe as filhas de 6 e 10 anos para conhecer a folia.

“Na semana passada, fui com minha mulher no Acadêmicos do Baixo Augusta e a gente gostou bastante. Aí a gente resolveu levar as crianças. Pesquisei na internet, falei com amigos e vi que esse bloco (o Esfarrapado) era legal para levar elas”, conta.

De fato, entre um público de jovens adultos que dançava enquanto bebia e de idosos que lutam — com sucesso — para manter o bloco relevante no carnaval da cidade, surgiram verdadeiras “gangues” de crianças que se atacavam mutuamente com as espumas durante o desfile. Das menores, que levavam a pior, a aquelas na pré-adolescência, que viam na briga a chance de chamar a atenção de algum menino ou menina em especial, as crianças foram, sem dúvida, o público-alvo do bloco. De quebra, aprendem a cantar as tais marchinhas, que não são ouvidas em outras épocas do ano.

Pessoas de fora, como o empresário Santos, se faziam presente em bom número, mas o Esfarrapado é essencialmente um bloco do bairro. As crianças moradoras do Bexiga e da Bela Vista se misturavam às “turistas” da festa, mas sempre sob olha atento dos pais, dada a quantidade de gente.

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“Moro aqui há cinco anos e venho no bloco desde que me mudei. As crianças ficam falando dele, é maravilhoso ver todo mundo nessa festa”, contou a funcionária de uma escolinha do bairro Érika Makaenne, de 27 anos. Somando mãe, avó, tia e sobrinhas, o grupo dela era de 8 pessoas — a menorzinha das filhas não desgrudava a mão da mãe.

O Esfarrapado saiu do cruzamento das Avenidas 13 de Maio e Conselheiro Carrão e chegou a fechar a 9 de Julho e outro ponto da 13 de Maio, quando a via já é duplicada, durante o trajeto. Mas não houve transtornos maiores para o motorista.


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