Por trás da ascensão de David Neres e de outros garotos das categorias de base ao profissional do São Paulo está uma área de 221.565,20 metros quadrados com nove campos, hotel, alojamentos, 175 funcionários, entre técnicos, preparadores físicos, fisioterapeutas, cozinheiros. Inaugurado em 16 de julho de 2005, pelo presidente Marcelo Portugal Gouvêa, o Centro de Formação de Atletas Laudo Natel, em Cotia (SP), está em evidência.

Eleito no fim de outubro do ano passado, o presidente Carlos Augusto Barros e Silva, o Leco, entendeu que era necessário uma correção de rota para que o clube pudesse retomar o histórico de revelar bons jogadores. O último havia sido Lucas, vendido ao Paris Saint-Germain por R$ 115 milhões, em 2013. Engenheiro de formação, Marcos Francisco de Almeida, de 69 anos, 54 deles no São Paulo, foi designado para o cargo de diretor de futebol amador e, desde o dia 18 de março, implementou uma nova filosofia na casa.

“Comparo o CT com uma universidade. Aqui temos um bom câmpus, temos de ter bons professores e bons alunos. E para ter bons alunos, o vestibular precisa ser sério”, disse Marcão, como gosta de ser chamado. “Fazemos uma avaliação mais técnica, criteriosa…”

O sonho de Leco é ter em campo um time formado predominantemente por atletas forjados em Cotia. Isso nunca aconteceu. Diante da Ponte Preta, no jogo passado, o time teve cinco titulares revelados no clube. Nesta segunda-feira, contra o América-MG, serão pelo menos três. O número pode subir para quatro se o técnico Ricardo Gomes optar por Pedro em vez do argentino Chavez no ataque.

Apenas nesta temporada, seis atletas da base subiram para o profissional. Além de David Neres e Pedro, estão no elenco principal Luiz Araújo, Lucas Fernandes, Banguelê e Artur. Os próximos da fila são Éder Militão, que atua como zagueiro e volante, e o meia Shaylon, que encantou Leco em visita recente ao CFA de Cotia. “A presença da base no profissional será mais intensa em 2017”, disse Marcão.

O foco não é recuperar o investimento com uma negociação, mas usufruir o garoto esportivamente. “Vamos revelar jogadores para jogar no São Paulo. Não para vender”, comentou Marcão. “Se acontecer uma negociação, é consequência”.

INVESTIMENTO – Hoje, o custo mensal do CFA de Cotia é de R$ 2 milhões. O São Paulo calcula investimento entre R$ 500 mil e R$ 600 mil na formação de apenas um menino desde o time sub-15 até o profissional. Esse valor que deve diminuir nos próximos anos, como resultado da nova política na base. O clube definiu teto salarial de R$ 8 mil até o jogador chegar ao profissional, além de corte no valor das luvas. Alguns atletas ganhavam R$ 20 mil de salário e R$ 200 mil de luvas no primeiro contrato aos 16 anos. “Agora temos gatilhos. Os garotos podem ganhar mais com prêmios por convocação à seleção, ida ao CT da Barra Funda (onde treina o profissional)… Não teremos salários elevados”, explicou.

Além da revisão no aspecto financeiro, o São Paulo criou uma metodologia própria de avaliação. “Você sempre tem critérios de avaliar por comparação simples, sabemos como se avalia no basquete americano, beisebol, soccer… Mas você precisa criar sua própria identidade no futebol”.

Os jogadores são avaliados em campo e também fora dele. Eles passam por consulta com psicólogos periodicamente, sempre no sentindo de descobrir se estão prontos para enfrentar qualquer tipo de situação. Marcão implementou uma cartilha rigorosa. Pisou na bola três vezes seguidas significa o fim da linha. “Temos de cobrar. Está dando vida boa, tem de ter performance”.

A vida boa, dita pelo dirigente, é a estrutura do CT de Cotia. Os garotos dos times sub-17 e sub-20 moram no hotel do local, com 71 suítes. Os mais jovens têm quatro alojamentos à disposição. São servidas quatro refeições diárias, além da disponibilidade de áreas de lazer e até uma sala para reforço escolar. “Criamos um comportamento uniforme, horizontal, e eles não perdem o respeito. Trabalhamos para formar jogadores e cidadãos”, disse o responsável.