22/09/2017 - 18:00
Um debate sobre a arquitetura dos museus contemporâneos abriu oficialmente a programação de eventos da nova sede do Instituto Moreira Salles (IMS) em São Paulo, na manhã da quinta-feira 21. O tema não poderia ser mais apropriado: o edifício que custou R$ 150 milhões é um vistoso monumento arquitetônico, concebido para dar à cidade uma nova referência no âmbito cultural. “O IMS Paulista foi pensado para falar com uma avenida que crescentemente tem sido centro da cultura e da arte”, afirma Flávio Pinheiro, diretor do instituto, referindo-se à escolha da Avenida Paulista. A localização levou em conta não apenas os vizinhos ilustres — MASP, Itaú Cultural, Casa das Rosas, Centro Cultural Fiesp e a recém-inaugurada Japan House — mas também a tendência mundial de aproveitar espaços urbanos adensados, onde há fluxo de público constante e o acesso à cultura impacta positivamente nas interações sociais. “A forte presença de pedestres, o fácil acesso via transporte público, além, claro, da proximidade com outros centros culturais foram pontos muito importantes para a escolha da Avenida Paulista”, afirma Angela Hirata, presidente da Japan House São Paulo. Iniciativa do governo japonês, que até 2019 investirá no espaço US$ 30 milhões, a casa recebeu mais de 360 mil visitantes em quatro meses. “O público está muito além das nossas expectativas iniciais. O que pensávamos de visitação para o ano foi alcançado em dois meses de espaço aberto”, diz Angela.
VIDA INTELIGENTE
Presente dado a São Paulo pelos herdeiros do fundador do Unibanco e embaixador Walther Moreira Salles (1912-2001), o IMS Paulista tem restaurante, biblioteca, praça, cineteatro e três andares dedicados a exposições. Parte do colossal acervo da entidade, formado por 2 milhões de fotografias, 10 mil desenhos e gravuras, 150 mil itens de biblioteca e mais de 10 mil discos com gravações musicais históricas, hoje em reservas técnicas no Rio de Janeiro, pode ser consultado digitalmente. Para além de um museu, contudo, o espaço será um centro de reflexão e produção de cultura. Prova disso é contar com um estúdio na cobertura, voltado para cursos e oficinas. Assinado pelo escritório Andrade Morettin Arquitetos, vencedor de um concurso do qual participaram seis candidatos, o prédio é revestido por uma membrana translúcida que permite irradiar a luminosidade de seu interior. Sobretudo à noite, a sensação é de que há vida inteligente pulsando ali dentro.
As chegadas do IMS e da Japan House à Avenida Paulista se somam a outro espaço cultural aberto na cidade recentemente: o Sesc 24 de Maio, num antigo edifício adaptado pelo premiado arquiteto Paulo Mendes da Rocha em parceria com o escritório MMBB Arquitetos. Com área total de quase 30 mil metros quadrados, o prédio com dois subsolos, térreo e 17 pavimentos pode oferecer até 65 atividades simultâneas, em uma variedade de atrações que vão muito além do mundo da cultura: há salas para atividades físicas e uma piscina com solário. Não é acaso que tanto o Sesc 24 de Maio quanto o IMS Paulista ocupem edifícios de vários pavimentos, em terrenos relativamente apertados. “Há uma certa recorrência do que eu chamaria de uma nova tipologia da arquitetura cultural”, diz Renato Anelli, professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP São Carlos e conselheiro do Instituto Lina Bo e Pietro Maria Bardi. Exemplos internacionais são a reforma do MoMA, o museu de arte moderna de Nova York, que ganhou mais andares e um novo percurso vertical, e a monumental ópera de Hamburgo, na Alemanha, inaugurada em janeiro.
“O IMS Paulista foi pensado para falar com uma avenida que crescentemente tem sido centro da cultura e da arte”
Flávio Pinheiro, diretor do IMS
Uma das razões para a verticalização de novos centros culturais é a falta de terrenos disponíveis nas grandes cidades. Para resolver o problema, cresce também o interesse pela restauração de edifícios históricos, caso das unidades paulistanas dos centros culturais da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, ambos no centro da cidade. Tombada como patrimônio histórico de São Paulo, o edifício de mais de um século onde funcionou a sede da Cia. Melhoramentos, na Vila Romana, passa por uma obra de revitalização para abrigar parte do acervo histórico da editora e será aberto ao público. “Restaurar o Edifício Sede implica resgatar a identidade da Melhoramentos e o vínculo com a população local, intensificando suas relações de pertencimento com o bairro”, diz Ana Ditolvo, responsável técnica pelo projeto. Com tantas novidades, a capital paulista reassume o posto de capital cultural do País — ainda que o Rio de Janeiro não fique muito atrás, com novos espaços culturais de impacto como o MAR e o Museu do Amanhã.
Colaborou Camila Brandalise