Para consolidar a paz, depois do acordo com a guerrilha das Farc, a Colômbia enfrentará no futuro a etapa mais difícil que o próprio processo de negociações, indicou neste sábado, em entrevista à AFP, o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, ganhador do Nobel da Paz.

“É uma etapa que vai ser mais difícil que o próprio processo de negociação”, afirmou o presidente colombiano, poucas horas antes de receber o Nobel por seu trabalho em prol da pacificação de seu país.

“Isso vai requerer muito esforço. E também um grande esforço de coordenação de todo o Estado para levar o benefício da paz às regiões que mais sofreram com o conflito”, explicou Santos, que termina em 2018 seu segundo e último mandato como presidente.

“Gostaria que meus sucessores continuassem por esse caminho, para consolidar a paz e lutar sempre por uma educação melhor”, assegurou.

Santos, que foi implacável ministro da Defesa no governo presidido por Alvaro Uribe e depois um presidente negociador e pacificador junto à guerrilha, garante que “não há mudanças entre esses dois períodos”.

“Sempre tive como objetivo a paz. Mas muitas vezes é preciso fazer a guerra para obter a paz. Era preciso enfraquecer as Farc, tínhamos que nos colocar numa posição de força para poder negociar”, explica.

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“Fui eu que mais trabalho dei às Farc e, inclusive, enquanto presidente, caíram o número um, Alonso Cano; o número dois, “Mono Jojoy”, e 63 outros dirigentes da guerrilha, mas tudo sempre pensando na paz”, acrescenta.

Santos se mostrou, no entanto, firme em relação à outra guerrilha, a do Exército de Libertação Nacional (ELN).

“Eu disse muito claramente: o sequestro de civis é inadmissível para o governo da Colômbia”, declarou.

“Eu disse que precisam libertar as pessoas sequestradas se quiserem iniciar negociações públicas”, disse ainda, admitindo, no entanto, que não tem garantias de que isso vá acontecer antes do fim de seu mandato.

Quanto à sua relação com o ex-presidente Uribe, principal opositor ao acordo com as Farc, Santos é taxativo: “o presidente Uribe tem todo o direito de pensar agora diferentes do que pensava antes”.

“Estamos fazendo tudo o que ele queria fazer, inclusive há provas documentais. Por exemplo, ele disse que era preciso mudar a Constituição para permitir que os guerrilheiros entrassem na política, mas hoje ele se opõe a isso”, argumenta.

A respeito do futuro, Santos afirma querer “deixar para as próximas gerações um país em paz, um país mais bem educado”,.

“E que meus sucessores sigam o caminho para consolidar a paz”, insistiu.

Posteriormente, ao receber seu Nobel, Santos dedicou o prêmio às vítimas do conflito na Colômbia.

Afirmou ainda que o povo colombiano, “com o apoio de nossos amigos de todo o planeta, está fazendo o possível e o impossível”.

“A guerra que causou tanto sofrimento e angústia a nossa população, de alto a baixo do nosso belo país, terminou”, acrescentou.


Ele também dedicou aos negociadores do governo e das Farc, que puseram um fim a um conflito de 50 anos resultante em 260.000 mortos e mais de seis milhões de deslocados.

“O verdadeiro prêmio é a paz do meu país. Esse é o verdadeiro prêmio!”, enfatizou.


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