O presidente Donald Trump deixou claro nesta terça-feira que o combate à mudança climática não é uma de suas prioridades, mas não se manifestou sobre o Acordo de Paris sobre o clima, firmado em 2015 por 190 países, incluindo os Estados Unidos.

Todd Stern, emissário americano para o clima entre 2009 e 2016 e que esteve na primeira linha das negociações internacionais, considera que uma saída deste emblemático acordo teria um impacto profundamente negativo na imagem dos Estados Unidos.

PERGUNTA – Qual seria o impacto de uma saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris?

RESPOSTA – Acredito que, claramente, mancharia a imagem dos Estados Unidos, seria visto de forma extremamente negativa em todo o mundo e teria efeitos colaterais além do clima.

Podemos ver o exemplo de 2001, quando o presidente George W. Bush se retirou do acordo de Kyoto. O fato de logo após chegar ao poder anunciar que os Estados Unidos não participariam prejudicou muito o país na área diplomática.

Apesar de a administração Trump querer fazer da mudança climática uma questão menos importante, as pessoas em todo o mundo pensam que é importante.

PERGUNTA – Tendo em conta o discurso da administração Trump, não seria lógico, em certo sentido, a saída dos Estados Unidos do acordo?

RESPOSTA – Há um debate no governo entre os que dizem ‘vamos manter o que Trump disse durante a campanha e abandonar o acordo’ e os que, como (o secretário de Estado) Rex Tillerson defendem guardar um lugar na mesa de negociações.

Mas além da postura puramente ideológica, não há qualquer razão – do ponto de vista lógico – para sair, não há um verdadeiro interesse em fazê-lo.

Espero que falem com os dirigentes das empresas. Se o fizerem, serão aconselhados a manter o acordo. A maioria sabe que é preciso ficar, porque quando se raciocina a partir dos fatos em um mundo de fatos, sabe-se que a mudança climática é real.

PERGUNTA – Se os Estados Unidos se distanciarem de seus objetivos em matéria de emissões de gases do efeito estufa seria coerente permanecer no acordo?

RESPOSTA – Me oponho totalmente ao decreto firmado (nesta terça-feira) por esta administração, mas não estou de acordo com a ideia de que faríamos melhor abandonando o Acordo de Paris. Segue sendo importante que os Estados Unidos façam parte dele.

O que vai mudar (na luta contra a mudança climática) são os estímulos do governo federal – que são verdadeiramente importantes – mas nada vai parar de um dia para o outro.

Muitos estados têm determinação no que fazem, do mesmo modo que muitas cidades, e ocorrem muitas coisas na economia real que favorecem o desenvolvimento e a difusão de energias limpas a um ritmo que ninguém imaginou.