O deputado ruralista Luís Carlos Heinze (PP-RS) enviou uma carta à presidência da Fundação Nacional do Índio (Funai) com a indicação do nome do advogado Ubiratan de Souza Maia, para ocupar o cardo de coordenador-geral de licenciamento da autarquia vinculada ao Ministério da Justiça.

A indicação foi enviada diretamente ao presidente da Funai, Antonio Fernandes Toninho Costa, no dia 20 de janeiro. No ofício, ao qual a reportagem teve acesso, Heinze, que em 2013 chegou a declarar que os índios e homossexuais fazem parte de “tudo que não presta”, afirma que Ubiratan tem origem indígena, da etnia wapichana, de Roraima, e que se identifica com “os melhores princípios que devem orientar um cidadão de bem”.

Ubiratan de Souza Maia enfrenta extrema resistência de movimentos sociais e ambientais. Em abril do ano passado, em reunião da CPI da Funai, da qual Heinze foi vice-presidente, Ubiratan defendeu o arrendamento de terras indígenas para agricultores, o que é proibido por lei.

Em 2014, em audiência pública sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, de 2000, que altera a legislação sobre terras indígenas e repassa decisões sobre demarcações ao Congresso, retirando essa decisão do Palácio do Planalto, Ubiratan também defendeu que somente terras indígenas existentes em 1988, quando foi promulgada a Constituição, poderiam ser regularizadas.

A Funai tem feito forte oposição à PEC 215, por entender que a proposta “representa uma grave ameaça não apenas aos diretos indígenas, mas a toda sociedade, uma vez que é inconstitucional por vários aspectos”.

A reportagem procurou Heinze para comentar sua indicação, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Em 2013, em discurso no município de Vicente Dutra (RS), no qual criticava o então ministro da secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, Heinze referiu-se aos índios como parte de “tudo o que não presta”.

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Imagens de vídeo do discurso mostram Heinze dizendo que “no mesmo governo, seu Gilberto Carvalho, também ministro da presidenta Dilma, estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta, e eles têm a direção e o comando do governo”.

Questionada sobre a indicação de Heinze e o posicionamento já conhecido de Ubiratan de Souza Maia sobre as questões indígenas, a Funai limitou-se a declarar que, “assim como as demais indicações que tem recebido por parte de parlamentares, está sendo avaliada pelo presidente de acordo com as exigências técnicas pertinentes aos cargos”.


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