Nas ruas de barro da “Selva de Calais”, as barracas de campanha estavam abandonadas, e os pequenos comércios, fechados. A área, que se tornou a maior favela de migrantes da França, continuava se esvaziando nesta terça-feira (25), no segundo dia de operações de evacuação.

“Jungle, finish”, “A ‘Selva’ acabou”, diz um sorridente Hassan, um migrante afegão, enquanto arruma seus pertences no abrigo improvisado que o protegia da chuva e do frio.

“Vou tomar um dos ônibus”, acrescenta, carregando um saco de lixo.

Os 6.000 a 8.000 migrantes – segundo estimativas oficiais – que até domingo viviam nesse assentamento informal do norte da França começaram a ser evacuados na segunda-feira (24) a bordo de ônibus para serem transferidos para um dos 451 centros de acolhida postos à disposição pelas autoridades em todo o território francês.

Até esta tarde, cerca de 3.000 haviam sido retirados.

“Devem ir embora. Aqui não tem mais solução para vocês. Os policiais vão passar em alguns dias”, adverte Marie-Paule, voluntária da associação Salam, um grupo de cinco sudaneses que ainda não deixou o local.

“Eu fico triste de ver o acampamento nesse estado. Me parte o coração ver o fim desse lugar onde viveram, mas é a melhor solução para eles”, estima.

As ruas que há menos de uma semana estavam cheias de gente agora estão sujas, abandonadas e tomadas por um forte odor de fumaça.

‘Cabul café’ resiste

Arbat, um sudanês de 25 anos, está pronto para ir embora.

“Vou tentar a sorte em outro lugar. Além disso, parece que as pessoas do meu país conseguem o status de refugiado mais facilmente”, disse ele, em francês, idioma que estudou em seu país antes de aperfeiçoá-lo em Calais, nas aulas dadas por voluntários.

Esse homem, que fala quatro idiomas, sonha com se tornar intérprete e “se casar com uma francesa”.

“Me disseram que todas as francesas são bonitas, é verdade?”, perguntou, animado.

Arbat também explica a seus compatriotas – dos quais muitos parecem estar perdidos – que devem deixar o lugar.

Mas nem todos estão dispostos a ir embora.

O “restaurante Paz”, lugar onde os migrantes se reuniam para tomar um café fechou, mas o “Kabul café” resiste.

“Vou embora quando a Polícia vier”, disse seu dono Abdul, desafiante, enquanto serve um prato a um cliente.

Ibrahim, um paquistanês na faixa dos 20, teme ser devolvido a seu país.

“Viram o que aconteceu em Quetta esta manhã? Esse terrível ataque (de uma Academia de Polícia)?”, pergunta o jovem, referindo-se ao ataque cometido por suicidas no sudoeste do Paquistão e que deixou mais de 60 mortos.

Ele disse “não confiar nas autoridades” e ainda não sabe o que fazer, nem para onde ir.