Na semana em que alguns parlamentares tentaram, na calada da noite, aprovar uma anistia para o crime de caixa dois e outros começaram a articular a volta do financiamento empresarial de campanhas políticas, que é a raiz de todos os grandes escândalos de corrupção no Brasil nos últimos trinta anos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), fez uma colocação inteligente, que passou despercebida do grande público, em meio ao turbilhão de notícias que tem tomado conta do País.

“Nesta eleição você verá que poucos tiveram recursos do fundo partidário para fazer a campanha. Na próxima, teremos eleição para governador, deputado estadual e federal, senador e presidente. Não há dentro desse sistema eleitoral capacidade de o financiamento público resolver todos os problemas. Por isso, a manutenção do sistema atual de financiamento, que eu acho que será mantido, impõe a lista fechada”, disse ele.

O voto em lista é a consequência lógica do fim do
financiamento empresarial das campanhas políticas

A lista fechada é um sistema em que os eleitores votam em partidos – e não nos candidatos. Nesse modelo, que contribuiria decisivamente para o aprimoramento da qualidade do parlamento brasileiro, cada partido apresentaria aos eleitores sua lista de candidatos e voto seria no número da legenda. Se a ideia vingar, desaparecerão os puxadores de voto, como os “Tiriricas”, os candidatos-celebridade e os grandes milionários, que podem, financiar suas campanhas do próprio bolso. A disputa política se dará, antes, dentro dos partidos, qualificando assim os futuros representantes. E o eleitor passaria a votar de maneira mais ideológica, identificando quais siglas representam ou não seus interesses.

Uma vez eleitos, os representantes não teriam mais qualquer dívida com seus financiadores e deixariam de ser, portanto, despachantes de luxo de interesses privados – até porque não precisariam se preparar financeiramente para campanhas futuras.

A crise brasileira, na verdade, nada mais é do que a implosão do modelo de financiamento privado levado ao extremo. Quem era Eduardo Cunha? O maior arrecadador, que se tornava capaz de montar sua própria bancada, ajudando centenas de deputados. O que explica a crise do PT, que, na semana passada, viveu mais um capítulo, com a Operação Arquivo X? O fato de o partido ter se lambuzado no modelo de financiamento empresarial.

As doações de empresas também provocam outro dano colateral, que é um capitalismo mais intervencionista. Como a política dependia do dinheiro privado, os negócios tornam-se mais dependentes de decisões políticas, num círculo vicioso. Portanto, depois da maior crise da história do Brasil, nada seria tão ruim como trazer de volta o financiamento empresarial. O voto em lista, de Rodrigo Maia, é uma boa ideia.