Criado na periferia de São Paulo, filho de um policial truculento e de uma manicure, João Gordo é a figura mais engraçada do punk no Brasil. Vocalista dos Ratos de Porão, que chegou a gravar na Europa e dividir o palco com os Ramones, ele ficou famoso como apresentador da MTV e da Record. Até casar com a argentina Vivi, com quem tem dois filhos, torrava todo seu dinheiro em drogas, discos e brinquedos. O que ele aprontou desde menino está em “Viva la Vida Tosca” (Darkside Books) divertido relato feito ao jornalista André Barcinski. Gordo descreve farras como a noitada regada a cocaína com Kurt Cobain e Courntey Love em São Paulo, as brigas com os pais, colegas de escola, gangues de carecas — e gente como Cazuza e Max Cavallera, do Sepultura. Fala ainda das intervenções “do além” (incluindo a umbanda) que permitiram sobreviver às insanidades. Sem papas na língua, João Francisco Benedan, o Gordo, é um cara doidão, mas do bem.

livro-joao-gordo-00

Confira alguns trechos do livro “João Gordo: Viva la Vida Tosca”, de André Barcinski (Darkside Books)

“Minha vida mudou de verdade quando ouvi o LP ‘A revista Pop apresenta o Punk Rock’, com Sex Pistols, Ramones, The Jam, Ultravox, London, Stinky Toys e outros. Foi a primeira vez que ouvi Ramones. Fiquei alucinado com aquilo. Não tinha solo, a guitarra parecia uma serra elétrica, era muito moderno o bagulho”.

“Sempre fui um sujeito pra baixo, sempre quis morrer. Só pensava em me matar e quase consegui, várias vezes. Mas nunca tive coragem de dar um tiro na boca, como o Kurt Cobain”.

“Foi na Europa que aprendemos a ser punks de verdade, que nós percebemos que éramos uns fascistões idiotas,que a gente não sabia de porra nenhuma. Isso mudou minha vida para sempre”.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

“Eu fumava três maços de cigarro por dia e cheirava heroína, fora o ecstasy, o pó, a cerveja e o uísque. Eu só comia merda, feijoada e hambúrguer o dia todo. As minas iam lá pra casa e ficam jogando baralho e ouvindo som comigo e se drogando. Não sei como não morri. Sou um cara de sorte, um protegido”.

“Meu pai era ausente e violento, mas eu sou um pai presente e carinhoso. Pego os meus filhos na escola, ponho eles pra dormir, estudo com eles, faço tudo por eles”.

“Sou um sobrevivente. Sobrevivi à obesidade mórbida, sobrevivi ao pó, sobrevivi aos punks e Carecas que queriam me matar, sobrevivi à polícia (…) e, principalmente, sobrevivi ao meu pai, superando todas as nossas diferenças. Lógico que, se não fosse ele, minha vida teria tomado outro rumo, talvez hoje eu fosse um operário infeliz na Vila Gustavo ou, quem sabe, até um PM. A opressão me fez mergulhar de cabeça no rock. Fui pra onde o vento me levou…”


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias