Há cinco anos, a Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC) iniciou uma verdadeira “cruzada” pela Educação em todo o estado, por meio da criação do movimento “A Indústria pela Educação”. Mais recentemente, essa iniciativa tornou-se ainda maior, quando virou “Santa Catarina pela Educação”. Isso porque, à FIESC, juntaram-se o poder público da Educação (nas esferas estadual e municipal) e as federações do Comércio, dos Transportes e da Agricultura de Santa Catarina. Além disso, também se associaram ao movimento fundações do Terceiro Setor, como o Instituto Ayrton Senna e o Instituto Natura. Um belo exemplo de como colocar em prática o que traz o artigo 205 da Constituição Brasileira: “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.

Ao longo de minha vida pública dedicada à Educação, aprendi que, quando a sociedade se organiza em prol desta causa, as chances de descontinuidade das políticas vinculadas à área tornam-se bem remotas, ao contrário do que ocorre quando são implementadas sem a participação da sociedade, ficando mais reféns das mudanças de governo. Além disso, Santa Catarina é de longe o estado da federação mais bem organizado territorialmente com base nos seus arranjos produtivos, sociais e culturais. Isso permite estruturar de forma mais sólida o chamado regime de colaboração, tão essencial para que os planos educacionais se materializem na prática.

Um dos primeiros exemplos dessa materialização pode ser verificado com a implementação de um projeto inovador que tem como objetivo maior desenvolver o pensamento crítico e a criatividade – habilidades essenciais para o século 21 – em alunos das escolas de Chapecó, nas redes municipal e estadual, e também naqueles matriculados nas escolas do SESI do município. Trata-se de um projeto envolvendo 15 países, liderado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), cuja metodologia vem sendo desenvolvida pelo Instituto Ayrton Senna em parceria com as secretarias de Educação.

Outro exemplo, mais recente, foi a implementação de escolas de ensino médio em tempo integral com educação integral em várias regiões de Santa Catarina, numa parceria com o Ministério da Educação (MEC), secretaria de Educação e o Instituto Ayrton Senna, contando com o apoio do Instituto Natura, do movimento Santa Catarina pela Educação, via SENAI, do Banco Interamericano para o Desenvolvimento (BID) e com grandes chances de também contar com o apoio da Capes/MEC, para dar escala ao modelo via modalidade on line para todo o estado. Segundo uma avaliação feita por Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, escolas com esse modelo educacional podem levar o Brasil a dar um salto na Educação, tomando como referência o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA) e os resultados alcançados em escolas similares implementadas nos estados de Pernambuco e do Rio de Janeiro.

Outro fato é que o estado de Santa Catarina, preocupado com o baixo percentual de jovens com formação profissional – um drama nacional e que se espera reverter com o novo ensino médio –, começa a implementar o ensino médio CONECTE, integrando o ensino regular com o técnico em “tempo real”, permitindo que após três anos de estudo o aluno saia com os dois certificados e bem preparado para o mundo do trabalho. Trata-se de uma iniciativa envolvendo a secretaria de Educação do estado e o SENAI/SC, com o apoio da Fundação Itaú BBA e do movimento Santa Catarina pela Educação.

No Brasil, há também outros exemplos a serem seguidos, como o ensino médio em tempo integral de Pernambuco, que inspirou o novo ensino médio; o bem-sucedido programa de alfabetização do Ceará, um exemplo para o país; e o modelo de ensino médio on line do Amazonas, que vem promovendo melhorias importantes nos resultados educacionais do estado, de tamanho continental. A grande diferença do que ocorre em Santa Catarina é na forma como todo o estado se mobiliza pela Educação, na articulação dos diversos setores locais e nacionais e na força da organização territorial. Tudo isso poderá, em breve, colocar Santa Catarina num patamar de liderança na Educação nacional. Não é à toa que lá se costuma dizer que “Educação é novo nome do desenvolvimento”.