O OUTRO O músico  como Ziggy Stardust, seu mais importante alter ego sobre os palcos: androginia e ficção
O OUTRO O músico
como Ziggy Stardust, seu mais importante alter ego sobre os palcos: androginia e ficção

Do menino detestado pelos colegas de classe ao maior astro da música pop dos séculos XX e XXI – até agora – a história de David Bowie é assunto de pelo menos uma dezena de biografias, quase todas encontráveis em português. “Bowie – A Biografia”, que acaba de chegar o Brasil pela Editora Best Seller, com o mesmo carimbo de “definitiva” das anteriores, tem a qualidade de alcançar, na edição brasileira, o último disco “Blackstar” e a morte do cantor em janeiro deste ano.

Escrito por Wendy Leigh (autora de “Prince Charming: The John F. Kennedy Jr. Story”), o livro mergulha com afinco nas relações familiares, afetivas e, sobretudo, sexuais do “Camaleão do Pop”. Munida de dezenas de depoimentos de amigos, amantes e profissionais que tiveram algum contato com Bowie, a biógrafa mostra como o bullying na infância alimentou seu projeto de carreira, como a personalidade transgressora da mãe o manteve imune aos julgamentos morais e que nem mesmo a culpa cultivada em relação ao pai, morto precocemente, foi suficiente para mantê-lo próximo ao filho, Duncan Jones, no auge de seu vício em cocaína.

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Bowie nasceu com um olho de cada cor, a heterocromia que viria a ser sua logomarca. Filho de uma família pouco tradicional do sul de Londres, era, ainda por cima, canhoto. Além de apanhar da professora por essa razão, o jovem David Bowie era chamado pelos colegas de classe de diabo. “Foi um aviso de como eu avaliaria minha jornada pela vida: ‘tudo bem, eu não sou igual a vocês, seus filhos da puta, então serei melhor”, diria o cantor anos mais tarde, sobre seus pensamentos na infância isolada.

A parte mais divertida do volume é, sem dúvida, a fase adulta do criador de Ziggy Stardust, precisamente do começo da carreira até o último casamento com a ex-modelo somali Iman Mohamed Abdulmajid, que o acompanhou até a morte, por câncer no fígado, e de quem herdou uma fortuna de US$ 50 milhões.

PAR Bowie manteve com Mick Jagger uma relação de parceria e disputa que alimentou revistas de fofoca com a suspeita de um caso entre eles
PAR Bowie manteve com Mick Jagger uma relação de parceria e disputa que alimentou revistas de fofoca com a suspeita de um caso entre eles

A biógrafa mostra que a apreciação ampla por sexo era, em Bowie, acompanhada por uma elegância de fazer inveja aos lordes da Câmara dos Comuns. Em uma das passagens, ela narra como a gentileza do astro – no auge de sua androginia – tornava uma proposta de sexo (em pé, no banheiro de uma festa) algo irrecusável para qualquer mulher que ele desejasse.

E eram muitas, às vezes, numa única noite, mesmo na fase em que Bowie se divertia ganhando as páginas dos jornais com a autodeclaração de homossexualidade, algo que legitimou, para sempre, todo o tipo de possibilidade sexual dentro da cultura pop. Ser diferente pode não ter tornado o menino de Brixton melhor do que o mundo inteiro, mas ensinou aos diferentes que eles podem ser bons, nas suas diferenças.