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Comunista comedor de criancinhas? Essa era a imagem que Roberto Freire menos queria passar para seus eleitores. Como primeiro candidato do Partido Comunista Brasileiro (PCB) à Presidência do Brasil desde 1945, ele tentava mostrar que, em 1989, as propostas de seu agrupamento político estavam a anos-luz de distância do movimento repressor tão presente na China comunista da época. Freire também se mostrava disposto a fazer possíveis alianças com PT, PDT e até PSDB, já prevendo que sua candidatura teria poucas chances de chegar ao segundo turno. Nesta entrevista, o líder comunista aborda temas que permanecem atuais hoje, como os direitos dos homossexuais, a descriminalização das drogas e do aborto. "Queremos uma definição concreta de que a mulher deve ser dona do seu corpo", afirmou.

 

Zagueiro central atuando sempre pela direita, o pernambucano Roberto Freire se consagrou mais pelo vigor do que propriamente pelo trato da bola nas partidas travadas, durante a Constituinte, entre parlamentares e jomalistas, em Brasília. Teve de refrear, porém, sua paixão pelo futebol por uma razão bem pragmática: está em campanha pela Presidência. Na única vez em que outro filiado ao Partido Comunista Brasileiro tentou essa proeza, em 1945, Freire tinha apenas 3 anos de idade. Na época, Yedo Fiúza amealhou perto de 10% dos votos, simbolizando a força de uma legenda que, na mesma eleição, elegeu um senador – Luiz Carlos Prestes – e 13 deputados federais. Hoje, as pesquisas praticamente desconhecem Freire, mas a candidatura vai até o fim, resistindo aos apelos de uma composição eleitoral à esquerda – o PCB quer, com Freire, mapear sua atual penetração no País.

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Roberto Freire
No futebol, ele atua pela direita

O candidato, de resto, embora seja o vice-presidente do partido, tem pouco a ver com a imagem do comunista típico. Além de futebol, joga basquete, é ótimo conversador, adora uma cervejinha e é amplamente carnavalesco. Pai de cinco filhos – a mais velha deixou um curso de balé em Leningrado para ajudar na campanha do pai -, ele ironiza: “Demonstração clara de que os comunistas não comem criancinhas, fazem criancinhas.” Acabou de ler “Os Filhos da Rua Arbat”, clássico do anti-stalinismo e, quando encontra tempo, ouve músicas que façam lembrar sua juventude – bossa nova, de preferência. Trata-se, portanto, de um comunista bossa nova:

ISTOÉ – Os acontecimentos recentes na China não atrapalham sua campanha?
Roberto Freire – São profundamente lamentáveis os acontecimentos da China. O processo de repressão adotado pelo governo chinês frustrou, acredito, toda a consciência democrática do mundo. As sociedades socialistas, com a União Soviética à frente, estão dando respostas para processes de crise que vão enfrentando e surgem propostas de democratização, buscando conseguir que as sociedades socialistas não sejam apenas mais justas, mas também sejam mais livres.

ISTOÉ— Isso não reativa, também, no Brasil, o preconceito que é tente com relação aos comunistas?
FreireBom, isso é um dado negativo. Só que eu juntaria alguns dados tremendamente positivos. A começar pelo fato de que há todo um processo de democratização no restante do mundo socialista. Então essa é uma faceta negativa desse processo mais geral de luta pelo socialismo no mundo, o que se passa na União Soviética, o processo da glasnost, o que ocorreu na Polônia, e tudo o que ocorre na Hungria, toda essa efervescência e essa discussão, que é inclusive muito rica no mundo socialista, isso também nos ajuda; a do Gorbachev, toda essa política de desarmamento e de paz da União Soviética e dos Países socialistas, tudo isso é muito positivo.

ISTOÉ — O sr. propôs há pouco tempo, durante a última onda de greves e atentados, um pacto antiterror. Foi um lance anti-PT e CUT, cujos militantes na época estavam sendo acusados pela bomba de Pernambuco?
Freire Não, até porque eu não acho que o PT tenha responsabilidade por aquele ato terrorista. Pode até ser que existam alguns aventureiros dentro do PT e que pensam que terrorismo é prática de luta da classe operária, mas estão muito enganados. Eu quero aproveitar para dizer que, quando nós nos pronunciamos contra isso, foi em cima da bomba de Volta Redonda, não foi da bombinha que ocorreu em Pernambuco. Só que nós não podemos admitir que isso de qualquer modo seja prática ou forma de luta da classe operária. Também não admitimos como prática da luta da classe operária grevistas encapuzados. O capuz serve para torturador ou para a Ku Klux Klan, não é da luta operária, em canto nenhum do mundo e nem da nossa tradição.

Operário encapuzado em greve me assusta, me lembra Ku Klux Klan

ISTOÉ — Isso não soa anti-PT?
Freire  Ao contrário. A tentativa que houve foi exatamente a de vincular ao PT essas manifestações. O que nós pretendíamos dizer é que temos de barrar o terrorismo até para que existam as grandes manifestações operarias, até para que o direito de greve seja garantido, porque com atentados terroristas nós não vamos ter nem a liberdade nem o direito de greve. A defesa da democracia não vai ser feita pela direita, a democracia é um bem fundamental para a esquerda brasileira, é um bem fundamental para a classe operária, para os trabalhadores, para que ela possa organizar-se e ser alternativa de poder. E nós nisso somos radicais e essa nossa postura faz lembrar um episódio que é muito importante, o episódio do sequestro do embaixador americano. Quando foi solicitada a soltura de 12 brasileiros que eram presos políticos, dentre eles estava o Gregório Bezerra. Pois é bom a gente lembrar que Gregório Bezerra se negou a sair e só saiu para evitar que o embaixador americano corresse risco de vida, mas saiu com uma carta dizendo que aquilo não era a forma de luta adotada pelo PCB.

ISTOÉ – Como é que o sr. explica a sua presença, como candidato comunista, no gabinete do empresário Roberto Marinho, da Rede Globo?
Freire Ora, eu fui lá como fui a diversos outros setores das comunicações sociais, como a TV Bandeirantes, o Jornal do Brasil, o Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo… ou seja, nós estamos conversando com todos.

ISTOÉ – Os donos da mídia não estão querendo usar o Partido Comunista Brasileiro para tirar votos de outros setores da esquerda?
Freire Não. Eu queria lembrar que os eleitores de Roberto Freire são os únicos eleitores que não têm como segunda opção o Fernando Collor, ou seja, são os eleitores de esquerda, os mais conscientes e coerentes. Eles fazem a segunda opção por Covas ou Lula, mas nunca por Collor. São diferentes dos eleitores do PT e dos outros partidos, que têm como segunda opção o Collor. Ninguém pode estar imaginando que eu não tenha essa característica básica de ser um candidato que fala do socialismo, que tem uma proposta coerente de tentar construir o socialismo no Brasil e tem atrás de si uma tradição de luta de 67 anos.

ISTOÉ – Mas o espaço dado ao sr. ultimamente não é maior do que o dado a outros partidos de esquerda?
Freire Note que quando vou falar com um bispo ou com um cardeal isto significa um dirigente comunista praticando um ato histórico, porque, antes, nunca o partido teve condições de dialogar com a Igreja. Eu não tenho bispo no meu partido, diferentemente de outros partidos. Então, é importante lembrar isso: é um fato histórico nesse País um alto dignitário da Igreja receber um alto dirigente comunista; e isso, é claro, tem espaço na imprensa. Ou não se cobre essa notícia? Agora, quando eu fui visitar Roberto Marinho, estava levando uma proposta contra terrorismo e a favor da democracia. Quero dizer é que não estou fazendo nenhuma concessão. É importante lembrar que esse processo político tem algumas coisas interessantes. O Partido Comunista Brasileiro veio a ser legalizado e a conseguir sua identidade depois da superação da ditadura, diferentemente de outros partidos que até tiveram a capacidade de se legalizarem no período da ditadura. Em nenhum momento, alguém ficou imaginando que isso tenha sido produto de concessão ou da conciliação que esse partido faz, para ser contra nós, os comunistas. E quando o PT se legalizou, em nenhum momento passou pela cabeça de ninguém que aquilo era uma jogada do sr. Golbery do Couto e Silva para acabar com os comunistas no movimemo operário. Não obstante, a chamada reforma partidária viabilizou a legalidade do PT e não a legalidade dos partidos comunistas.

O PT se legalizou na ditadura e nem por isso se dirá: “É obra do Golbery"

ISTOÉ – O sr. falou há pouco em Collor como opção uma reprovável para a eleição presidencial. E essa a sua opinião sobre Collor?
Freire Olha, é difícil a gente descobrir hoje o que representa de fato o político Collor. Ele surgiu em cima de uma palavra de ordem, em cima de um processo administrativo de Alagoas, que gerou uma grande de marketing: o marajá. E a partir do combate ao marajá, que também foi criado a nível da mídia eletrônica, a figura de Collor passou a ser importante do ponto de vista da política, num País que se degrada moralmente.

ISTOÉ — Mas o que se está buscando tem substância?
Freire  A sociedade brasileira está desacostumada a processos democráticos, pode ser instrumento fácil da demagogia, dos slogans e até de marketings bem feitos que talvez representem muito pouco em relação aos nossos reais problemas, mas que podem significar algo para o eleitor. Nasce, assim, uma esperança de que se possa resolver a realidade a partir do combate aos marajás, contra a impunidade, pela punição dos criminosos de colarinho branco. Depois, o ex-governador de Alagoas teve também a vantagem de poder fazer três programas de televisão, no horário nobre, em rede nacional; coisa que nenhum outro candidato teve, e fazendo um programa com muito boa técnica, algo que poderíamos dizer que foi um videoclipe. Os processos eleitorais aqui não são discutidos em função dos programas, das ideias, dos projetos políticos. Aqui, o pessoal espera o Gallup ou o Ibope para só discutir sobre os índices de vários candidatos. Eu tenho discutido muito menos as ideias do Collor, até porque essas não são muito claras. Tenho muito mais discutido os seus índices no Ibope, no Gallup.

ISTOÉ – Numa sociedade carente que busca o mito da juventude, a imagem do Partidão não está um pouco envelhecida para enfrentar uma campanha presidencial tão difícil?
Freire Ao contrário, o novo hoje no Brasil é exatamente o PCB e essa sua proposta a partir do socialismo renovado, a partir da sua radical vinculação à democracia como valor inerente à construção do socialismo. No campo da esquerda, nós estamos representando exatamente o que de mais moderno, o que de renovado, com o nosso projeto de discutirmos o socialismo para o Brasil. Eu quero dizer e tenho sempre repetido em alguns debates que talvez nós possamos estar sendo o novo exatamente porque temos história, porque somos o partido mais velho.

A esquerda tem se unido. Mas, agora, no primeiro turno, é diferente

ISTOÉ – Com quem é possível o PCB fazer alianças nesse processo de eleição?
Freire A esquerda brasileira, desde o processo constituinte, vem tendo algumas lutas unitárias muito importantes e muito significativas a nível da classe operária, dos trabalhadores, do movimento dos servidores públicos, dos movimentos diante das universidades, de toda a sociedade civil brasileira. Hoje, há muito mais convergência à esquerda do que divergência, mais trabalho unitário do que diversidade de ações. Dito isso, eu observo que no processo eleitoral se demonstra uma certa divergência. Isso é até muito salutar e próprio do sistema das eleições de dois turnos. Se a Constituição aprovou a exigência dos 51% dos votos para a eleição de governador, de prefeito ou de presidente, foi também para que se instalasse no Brasil o debate das ideias, para que houvesse o confronto dos programas, para que os projetos políticos das várias forças sociais dos vários partidos que existissem se confrontassem efetivamente na sociedade. E é isso que está ocorrendo. O primeiro turno é o turno privilegiado desse debate.

ISTOÉ – Com quem o PCB está simpatizando hoje para o acordo no segundo turno?
Freire  Algum tempo atrás, antes da convenção do PMDB, eu situava o partido de Mário Covas como uma tentativa de uma moderada social democracia brasileira. Já o PDT do sr. Leonel Brizola é integrante da Segunda Internacional, uma social democracia com alguns laivos populistas no Terceiro Mundo. O PT seria uma social democracia de esquerda, a partir da hegemonia que o grupo Articulação tinha no PT, que provocou inclusive o pedido de ingresso na Segunda Internacional Socialista feito por Lula quando da viagem à Europa. E a nossa candidatura é a candidatura do partido marxista deste País. Todos esses partidos poderiam estar agregados num segundo turno.

ISTOÉ – PSDB, PT, PDT. Mas o sr. não falou do PCdoB . . .
Freire  Ah, esse está junto com a gente. É que estou falando de partidos que têm candidatos.

ISTOÉ — A frente ainda incluiria o PV e o PSB?
Freire O PV, eu não sei. O PSB também, mas sem muita unidade, porque tem gente do PSB em vários lugares. Eu estou falando das candidaturas que representam as forças de esquerda. Não sei se isso até vai ficar, porque tem uma grande discussão do problema da composição que a Frente Brasil vai adotar a nível da vice-presidência. Eu diria até que, depois da convenção, o PMDB fez uma clara opção pelo campo democrático, no momento em que derrotou o projeto que a direita tentava criar dentro do PMDB, que era a candidatura Orestes Quércia, e com a derrota dos chamados moderados.

A maconha não deve ser tratada como droga, mas o tráfico tem de ser punido

ISTOÉ — Digamos que o sr. se eleja presidente da República. Com que quadros o sr. vai governar?
Freire Com os quadros da democracia e das forças progressistas deste País. Nenhuma força sozinha poderia governar bem este País.

ISTOÉ – As posições liberais que o sr. tem manifestado em relação a temas como o homossexualismo e droga são posições de campanha ou é uma posição de Partido Comunista Brasileiro?
Freire Eu diria que, primeiro, é uma posição pessoal, resultado de concepção de vida que tenho. Tenho uma relação com meus filhos, de homem que procura entender o seu tempo. Como tentei entender o meu tempo de jovem, e por isso mesmo discuto essas questões, buscando aquela tranquilidade de discutir e tentar entender. Minha posição frente à questão das drogas e do homossexualismo é algo que corresponde à minha concepção pessoal.

ISTOÉ – Não é uma posição partidária?
Freire  Acho que o PCB assumiu como partido político uma posição claramente avançada quando da votação da Constituinte brasileira, correspondente a essa posição e essa concepção pessoal que tenho. Então, não está havendo nenhuma contradição das minhas concepções pessoais com a visão que o partido tem dessas questões. E não tem nada a ver com o programa eleitoral, até porque há muito tempo temos nos posicionado dessa forma. Nós, quando votamos na Constituinte, apoiamos uma reivindicação dos movimentos das minorias sexuais, concretamente o movimento organizado dos homossexuais, na questão da orientação sexual. Era uma forma de demonstrar que isso não deve ser tratado como tratava a Previdência Social brasileira, como uma doença, catalogando o homossexualismo como um desvio de comportamento. Nós queremos que isso seja definido apenas como uma orientação que individualmente as pessoas podem assumir na questão sexual.

ISTOÉ – E quanto às drogas?
Freire  Antes, seria bom dizer que, na questão do aborto, queremos uma definição concreta de que a mulher deve ser dona do seu corpo: ela é que deve definir sua maternidade. Claro que guardadas as devidas precauções médicas. Então, nós também nos posicionamos a favor da descriminalização do aborto. E, na questão das drogas, achamos que a maconha tem de ser entendida não como droga, mas algo que precisa ser mais bem entendido e separado até da visão comum que se possa ter das drogas. As chamadas drogas pesadas têm de ter um tratamento vinculado à saúde pública, porque o grau de dependência que elas criam e até problemas que trazem de ordem genética, física e mental, exigem isso, além de serem necessários mecanismos para que o tráfico seja realmente punido, seja realmente perseguido. Mas aqueles que fazem uso da droga, em função do problema da dependência, têm de ser tratados de forma evidentemente diferenciada.

É mito achar que a dúvida não será paga. Até Gorbachev está pagando a dele

ISTOÉ – O que pensa o candidato do PCB sobre a dívida externa e a combalida economia brasileira?
Freire  Um dos mitos que se tentou criar foi aquela história de dizer que nós não vamos pagar a dívida. Ainda bem que alguns dos setores que tinham essa posição não a têm mais; e já chegaram talvez àquela que nós defendíamos e éramos olhados com uma certa desconfiança, acusados de que não estávamos tendo a posição que deveríamos ter, aquele radicalismo de não querer pagar. É que nós talvez estivéssemos nos lembrando do que se passou com a União Soviética logo após a revolução bolchevique. (Aquela foi a revolução talvez mais radical que ocorreu no mundo e tinha o Exército Vermelho em armas, que disse, num primeiro momento, que as dívidas do czarismo eram do czarismo e que não iam ser pagas pelo novo poder soviético.) Pois bem: depois, o próprio poder soviético teve de buscar integração com os sistemas financeiros internacionais e teve de discutir a questão da dívida. Até bem recentemente, parece que Gorbachev estava pagando as últimas parcelas dessa dívida do czarismo. E nós não podemos ter uma posição de imaginar que a realidade brasileira ofereça uma correlação de forças a ponto de nós podermos dizer que não vamos pagar a dívida, até porque eu acho que não é só saber se teríamos força ou não. E também porque isso iria significar uma postura que estava condenando o Brasil a uma autarquização, a um isolamento. E essa não é nossa opção dentro do Movimento Comunista Internacional, num congresso que houve em Havana: a decretação de uma moratória por um prazo que nós havíamos fixado em cinco anos e que queremos transformar em dez anos. Dependendo da correlação de forças a nível internacional, a proposta de Gorbachev é até viável, a que foi feita na ONU, de 100 anos de moratória. Quero dizer que há um certo consenso internacional de que é impossível continuarmos com essa drenagem que estamos fazendo de exportar o excedente líquido como estamos, não para pagar a dívida, mas para pagar o seu serviço. Isso não é apenas o Brasil, são todos os países devedores, que estão exportando capital quando necessitam dele para seu desenvolvimento.

ISTOÉ – E como é que o PCB trataria a questão do capital estrangeiro?
Freire  Nós tínhamos definido na Constituinte que era interessante a Constituição brasileira ter um capítulo sobre o capital estrangeiro, definir claramente o seu grau de complementaridade, a necessidade que se pode ter de poupanças externas, mas definindo o ramo ou setor da economia onde essa complementaridade pode exercer-se. Era preciso também tratar, corretamente, questões como as remessas dos lucros, ou as das relações com as matrizes nos seus países de origem. E, mais do que isso, fixar uma vinculação clara para certos e determinados tipos de empresas que foram criadas no Brasil e que me parecem ser muito interessantes como modelo para a participação do capital estrangeiro na economia brasileira.

Capital estrangeiro é bem-vindo, mas subordinado ao interesse nacional

ISTOÉ – Por exemplo?
Freire São as chamadas empresas tripartites, fórmula inicialmente adotada na Companhia Vale do Rio Doce. É uma empresa com capital estatal, sob controle estatal, mas com a participação da poupança privada nacional e até internacional. Eu acho que é interessante esse tipo de sistema de empresas, porque pode ser o ideal para a absorção da poupança externa, desde que evidentemente no grau de complementaridade e no caso concreto, aí, no grau de subordinação aos interesses nacionais que é determinado pelo controle estatal.

ISTOÉ – O Brasil não está na contramão num momento destes?
Freire Não, porque não se trata de impedir a participação do capital estrangeiro. Só que ele terá de estar subordinado aos interesses nacionais, terá de vir com um grau de complementaridade, terá de vir como nós, como capital brasileiro, somos tratados em qualquer lugar que vamos.

ISTOÉ – O sr. falou em preconceitos. O partido está tendo problemas ou algum tipo de perseguição na campanha?
Freire Não acredito ainda, embora seja importante se levar em consideração que todo processo político tem o grau de insanidade inversamente proporcional ao grau de democracia que a sociedade tem.