Assista à entrevista:

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No segundo bloco da entrevista, o jornalista lê um trecho do livro “1889”. Confira:

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Falar da vida privada das pessoas atrai público. Como jornalista de longa data, Laurentino Gomes conhecia bem esse fato, mas não poderia calcular onde isso o levaria. Em 2007, nas vésperas de sua aposentadoria, ao lançar “1808”, o primeiro volume da série que fecha agora com “1889”, última e melhor narrativa da trilogia que percorre o período da chegada da corte portuguesa até o governo Campos Salles, Gomes alcançou o feito inédito: manter por dois anos consecutivos um livro sobre história do Brasil no topo dos mais vendidos no País. A marca o obrigou a largar a carreira de executivo de mídia, mudar de casa e de vida e assumir o status de personalidade, amada por estudantes e detestada por muitos historiadores.

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“Não foi fácil”, diz o jornalista, na varanda de sua casa em Itu, onde vive com a mulher e agente literária, Carmen Gomes, e a cadela Lua. Laurentino Gomes é hoje um dos raros autores nacionais que vivem exclusivamente de sua literatura. Isso permite certos luxos como, por exemplo, estabelecer seu ritmo de trabalho – um livro a cada três anos. “Passo dois anos e meio pesquisando e seis meses escrevendo.” Para este “1889”, que como os anteriores traz a sinopse no subtítulo (Como um imperador cansado, um marechal vaidoso e um professor injustiçado contribuíram para o fim da Monarquia e a Proclamação da República no Brasil), o autor se exilou em State College, na Pensilvânia, para a fase da apuração. Foram mais de 150 fontes de consulta (devidamente reproduzidas no fim do livro), adquiridas em sebos, bibliotecas e “na maravilhosa invenção chamada Estante Virtual”, escarafunchadas sem nenhuma ajuda. “O pesquisador contratado traz exatamente o que você pede”, explica. “E é muitas vezes da informação inesperada que saem as passagens mais interessantes do trabalho”, diz. “Além do que, confesso, adoro a fase de pesquisa. Já escrever, para mim, é um fardo.” O escritor tem consciência de que a boa costura de seu fardo faz toda a diferença na apreciação do público.

Não são apenas os desconcertos pessoais, as pequenas falhas e curiosidades da vida privada e grandes personalidades históricas que fecharam o 1,5 milhão de compras do primeiro e do segundo livro do autor, “1822” (quase um ano encabeçando o rol de mais vendidos), mas também a forma atraente com que eles são embalados. “São só técnicas jornalísticas. Isso inclui jogar muita luz nos personagens, no que eles têm de banal ou comovente”, ensina o autor, que no mês que vem lança “1808” nos Estados Unidos – um mercado fechadíssimo, do qual apenas 2% dos títulos são estrangeiros.

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FINAL
O último volume da série mostra como a República brasileira só começaria,
de fato, com o movimento das Diretas Já. Não por acaso, a data e os personagens
ligados a ela, segundo o autor, são menos lembrados que os legados pela Monarquia

Na esteira do sucesso internacional, veio também o incômodo da academia. “O que faço hoje é jornalismo. Meus livros são reportagens. E é da natureza da imprensa sofrer represálias dos especialistas.” Entre críticas, “estridentes e até agressivas”, conta, e declarações derramadas de estudantes que puderam entender passagens relatadas de forma árida pelos livros didáticos, o autor se sente feliz com a média afetiva de seu público. “Fico envaidecido de saber que os historiadores olham para os meus livros. Mas minha maior vitória, até por ser um desafio autoimposto a cada livro, é chegar de forma clara aos estudantes. Eles se divertirem com a leitura é lucro puro.”

Não são só os estudantes que se divertem com o contorno pitoresco com que Laurentino Gomes apresenta os personagens, cujas características extrai de pesquisa bem fundamentada. Das consultas ao levantamento do historiador José Maria Bello, referência sobre a vida social da República Velha, o escritor apresenta Deodoro da Fonseca, figura central da Proclamação da República, em atos que revelam que, além da fragilidade ideológica e física, o marechal alagoano padecia de um estado de ânimo errático que flutuava entre o drama e a histeria. Para renunciar à presidência, o ex-imperialista escolheu abrir o discurso se dizendo “o derradeiro escravo do Brasil.” Dois meses depois o proclamador do novo regime morreu e foi enterrado sem farda. Do governante seguinte, Floriano Peixoto, Gomes reuniu descrições ácidas de intelectuais do período, que na narrativa, como em uma boa ficção, têm o efeito redentor de ver o vilão como alvo de chacota e críticas. “Não se pode ter medo do tamanho dos fatos ou dos personagens.” O próximo livro? “Não sei. Me interessam muito as revoltas do período, a Revolução Federalista, Canudos. Seria algo como ‘Um Brasil em Chamas’”, diz. “Mas, com certeza, só posso dizer que o próximo não terá um número na capa.”

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