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SOBREVIVÊNCIA
Índios waura no lago Piulaga, no Alto Xingu

Numa época marcada pela produção rápida e incessante de imagens, o brasileiro Sebastião Salgado adota uma atitude oposta. Ele não está em busca de assuntos fáceis: vai atrás do que nunca foi visto. Tal obstinação demanda tempo, mas traz grandes recompensas. Sem se preocupar com prazos e agendas, Salgado passou oito anos viajando por lugares remotos do planeta para mostrar que, apesar da ameaça sobre a vida na Terra, ainda existem regiões alheias à noção de progresso. Cenários de natureza intocada, como os mares gelados da Patagônia argentina onde vivem as baleias-francas, e sociedades que sobrevivem intactas em seus costumes ancestrais, a exemplo do povo mentawi, da Indonésia, aparecem nas 250 fotografias em preto e branco de seu novo livro “Gênesis” (Taschen). A aguardada publicação será lançada na Inglaterra ainda este mês, precedendo a exposição de mesmo nome, a ser aberta em abril no Museu de História Natural, em Londres. ISTOÉ revela imagens inéditas que estarão no livro e na mostra, que chega ao Brasil em maio, resultado de 32 viagens a diferentes países. “Esses são os últimos lugares na Terra que nos permitem entender nossas origens como espécie”, afirma o fotógrafo, para quem a noção de civilização separada da natureza se tornou impensável.

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Baleia-franca na Patagônia argentina: espera pela melhor luz

Para registrar esses verdadeiros santuários, regiões que, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), ainda correspondem a 46% do planeta, Salgado adotou a posição de aventureiro. Viajou com uma equipe mínima e sempre acompanhado de um guia que dominava a língua ou o dialeto local. Caminhou centenas de quilômetros, encarou desertos e geleiras e criou estúdios usando tecidos e folhas. Na hora de fazer as fotos, o que mandava era a paciência de quem sabe que uma boa imagem não vem de graça. Sem usar flash, ele chegava a esperar uma semana pela luz ideal. Foi assim que conseguiu as fantásticas tonalidades de cinza na documentação do povo Nenet, habitantes da Sibéria, no norte da Rússia, que sobrevive há séculos da pesca em geral e da caça de renas. A mesma espera pelo melhor momento se deu ao retratar os índios waura, que habitam o Alto Xingu. Embaixador da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), e criador do Instituto Terra, que trabalha com conservação da biodiversidade, desenvolvimento sustentável e educação, Salgado não pretende que essas fotos apenas embelezem estantes ou mesas de centro: elas servem como um alerta. “O mundo está em perigo, tanto a natureza quanto a humanidade. No entanto, esse grito de alarme vem sendo tão repetido, que agora passou a ser ignorado”, afirmou ele em artigo recente no jornal inglês “The Guardian”.

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PROJETO
O livro é resultado de um trabalho de 8 anos e 32 viagens

Especialmente revelador nesse sentido é o retrato do hábitat natural das baleias-francas, na Patagônia. Dois séculos atrás, havia 300 mil desses animais no lugar. Milhares foram dizimados pela caça e hoje não chegam a mil exemplares e, mesmo assim, estão ameaçados pelo tráfego de embarcações na região de Puerto Pirámides. O registro da resistência de animais, culturas e paisagens testemunha o delicado equilíbrio entre o ser humano e o ambiente em que vive. Denúncias como essa aparecem nas imagens belas e dramáticas que caracterizam a obra de Salgado.

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"Esses são os últimos lugares na Terra que nos
permitem entender nossas origens como espécie"

Sebastião Salgado, fotógrafo

Fotos: Sebastião Salgado; Robbie Reynolds


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