chamada.jpg
CONTRA-ATAQUE
Carlos Brito, da AB Inbev, vai brigar pela fabricante da Corona:

“(A ação do Departamento de Justiça) é inconsistente
com a lei, os fatos e a realidade do mercado”

Uma ameaça à concorrência dentro de um mercado já altamente concentrado. Foi com esse argumento que, na semana passada, a divisão antitruste do Departamento de Justiça dos Estados Unidos bloqueou a compra do Grupo Modelo, fabricante mexicana da cerveja Corona, pela belga-brasileira Anheuser-Busch InBev, gigante controladora da Ambev. O negócio, da ordem de US$ 20,1 bilhões, levaria a AB Inbev a deter metade do mercado americano – o suficiente para incomodar o governo de Barack Obama, temeroso de que a aquisição facilitasse a coordenação dos preços entre a líder Inbev e a vice-líder MillerCoors. “Nós permanecemos confiantes em nossa posição e pretendemos contestar vigorosamente a ação do Departamento de Justiça na corte federal”, disse a Inbev em comunicado. A empresa, porém, já não espera mais que o negócio seja assinado no primeiro trimestre de 2013.

ECO-02-IE.jpg

Para especialistas, é improvável que a Inbev recue. “Não há a menor chance de a AB Inbev desistir desse negócio”, disse à ISTOÉ Hans D’Haese, analista do banco belga Degroof. “Ele é muito importante para simplesmente abandoná-lo.” A AB Inbev já possui 50% da cervejaria mexicana e, agora, pretende adquirir o restante. Para isso, a Modelo venderia sua parte na importadora Crown, responsável pela distribuição dos produtos do grupo nos EUA, num movimento que criaria uma “concorrência de fachada” na avaliação de William Baer, chefe da divisão antitruste. Os analistas apostam que as empresas farão concessões – entre elas, abrir mão de algumas instalações da Modelo no México – para conseguir a aprovação do acordo e, assim, evitar uma desgastante briga judicial. D’Haese calcula que os ganhos de sinergia, previamente estimados em US$ 600 milhões por ano, devem ser reduzidos depois disso. A estimativa dele é de que a negociação leve, pelo menos, mais seis meses. Em caso de rompimento do acordo, a AB Inbev terá que pagar à Modelo uma multa de US$ 650 milhões.

ECO-03-IE.jpg
DUOPÓLIO
Para William Baer, chefe da divisão antitruste, a AB Inbev
pratica reajustes de preços coordenados com a MillerCoors

No centro do interesse da AB Inbev, além da consolidação de sua liderança nos EUA, está o mercado mexicano, que se beneficia de uma economia que cresceu 4% no ano passado e um perfil demográfico favorável (classe média ascendente e taxas de urbanização e gastos do consumidor em expansão).“O Grupo Modelo tem sido um dos nossos parceiros mais importantes por mais de 20 anos e estamos satisfeitos de envolver nosso longo e bem-sucedido relacionamento nessa combinação”, disse o brasileiro Carlos Brito, presidente global da AB Inbev, no anúncio do acordo, em 2012. No período citado por Brito, a Modelo importou e distribuiu a Budweiser e a Bud Light, marcas da Inbev, no México. Em solo americano, contudo, a Modelo vinha ganhando espaço ao resistir à escalada de preços coordenada pela própria Inbev. “As duas maiores cervejarias, AB Inbev e MillerCoors, frequentemente acham que é mais lucrativo seguir os preços de cada uma do que competir agressivamente por uma fatia maior do mercado cortando os preços”, diz o Departamento de Justiça em documento oficial. “Entre outras coisas, a ABI inicia o reajuste anual de preços com a expectativa de que os preços da MillerCoors seguirão os seus. E eles seguem.”

IEpag66e67_Ambev-2.jpg

Para Bill Knoedelseder, autor do livro “Bitter Brew: The Rise and Fall of Anheuser-Busch and America’s Kings of Beer” (“Bebida Amarga: A Ascensão e a Queda da Anheuser-Busch e dos Reis da Cerveja dos EUA”, numa tradução livre para o português), “a AB Inbev não é conhecida por fazer boas cervejas, mas por ficar cada vez maior e entregar bons retornos aos investidores.” A empresa nasceu há nove anos da fusão da brasileira Ambev com a belga Interbrew e, em 2008, adquiriu a americana Anheuser-Busch por US$ 52 bilhões. As vendas da Budweiser, até há pouco tempo a cerveja mais popular entre os americanos, estão caindo (só no terceiro trimestre do ano passado o recuo foi de 7% em volume). No mesmo período, incluindo todas as suas marcas, as vendas da Inbev caíram 0,3% no mundo, sem contar os negócios gerados por aquisições. “A Inbev faz dinheiro cortando custos, demitindo pessoas e aumentando os preços”, disse Knoedelseder à ISTOÉ. “No fim das contas, a cerveja é o que menos importa.”

Fotos: Yves Herman/REUTERS; Carolyn Kaster/AP; Diego M. Radzinschi/THE NATIONAL LAW JOURNAL