Nem sempre os foragidos têm uma ficha extensa na polícia. Na lista dos mais procurados, figuram pessoas que nunca haviam cometido um crime, mas se envolveram em assassinatos que chocaram pela violência e pela motivação banal.

Um desses crimes mudou a rotina da Rua Engenheiro Alberto Schiesser, no Jardim Primavera, na zona norte de São Paulo. Antes tranquila, a vizinhança precisa conviver com batidas policiais desde 2013. Lá, morava Caio Rodrigues, condenado por matar o estudante Diego Ribeiro Cassas, de 18 anos, com quatro tiros no estacionamento do McDonald’s, em Pinheiros, após uma briga em uma boate.

“Ninguém acreditou na notícia, o Caio era um menino doce”, diz a cabeleireira Ane Gomes, de 27 anos, moradora da região. Rodrigues sumiu logo após o crime e, mesmo com o passar dos anos, continuam as denúncias de que o foragido foi visto perto da casa. “Há um rapaz morando lá que é parecido com o Caio. Ele sempre mostra os documentos para provar que não é ele”, diz Ane.

O advogado de defesa, Ronaldo Tovani, diz que Rodrigues mudou de casa, mas nunca deixou o Jardim Primavera. “A polícia já foi lá várias vezes. Chega pela frente, o Caio sai pelos fundos. Eles fazem muito alarde, chegam em 20 viaturas, tocando sirene”, afirma.

Rodrigues foi julgado à revelia. Segundo Tovani, contudo, ele estava no fórum durante o júri. “Ficou aguardando na lanchonete”, diz. “Ele esperou o término porque eu iria apresentá-lo de imediato ao juiz, mas, como o promotor apelou, entendemos que ele deveria aguardar o julgamento da apelação.”

Os investigadores não acreditam na versão do advogado. Para os policiais, o condenado está fora do Brasil. Uma das suspeitas é de que ele esteve no México, junto com a mãe.

A família de Diego Cassas oferece dinheiro pela captura do assassino. Em redes sociais, é comum a mãe da vítima, Rosana Cassas, pedir por Justiça e, não raro, se refere a Rodrigues como “demônio”. “Cuidado com o amanhã, aqui se faz, aqui se paga”, escreveu.

Mais antigo

O procurado mais antigo é o sul-coreano Woo Young Choi, o “Renato”. Ele é acusado de matar a facadas a estudante Juliana Maria Daniello Dias, de 19 anos, no elevador de um prédio no Cambuci, no centro, em 1997. Na época, Choi tinha 24 anos, morava no Brasil e vivia do dinheiro da mãe. Segundo a polícia, era usuário de drogas.

Após descobrir rápido a autoria do crime, os policiais acreditaram que seria fácil prender Choi. “Ele simplesmente desapareceu, tenho quase certeza de que foi para outro país”, afirma o delegado Marco Antonio Desgualdo, que atuou nas investigações do DHPP.

A mãe e a namorada dele viajaram para a Coreia do Sul pouco depois do assassinato, deixando para trás carro, apartamento e roupas. A mãe morava no oitavo andar do prédio onde o crime ocorreu. Juliana, no nono.

Para tentar levantar pistas, foram chamados até policiais que não eram do DHPP, mas que falavam coreano. Também foram acionadas a Interpol e a Polícia Federal, mas nunca houve registro dele em voo internacional no País. Por isso, a principal hipótese é que Choi tenha ido para Foz do Iguaçu, no Paraná, e depois cruzado a fronteira para o Paraguai. Uma vez fora do Brasil, seria mais fácil sair de avião.

Interior

Outro caso que causa espanto é do vigia Aurelito Borges Santiago, que desapareceu na frente de todo mundo em 2014. Ele chegou a sentar no banco dos réus, aguardando o júri que o condenaria a mais de 21 anos de prisão, mas fugiu do Fórum da Barra Funda, enquanto os jurados discutiam sua sentença.

Santiago matou pelas costas o estudante Rodrigo Cintra de Prado Pereira Bonilha, de 18 anos, em Ribeirão Preto, em 2008. “É tudo surreal”, diz Fernando Bonilha, pai da vítima. “Para entrar no fórum, perguntaram quem eu era, passei por detector de metais. Mas não observaram se ele ia fugir ou não.”

Há suspeita de que Santiago se escondeu na Bahia, onde nasceu. “A sensação é de total impunidade. Não temos nem a quem recorrer”, diz Bonilha. “O pior é que um elemento perigoso está solto e pode fazer outra vítima.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.