O Banco Central (BC) voltou a ressaltar, em sua ata, a importância das reformas estruturais para a continuidade do processo de desinflação. Além disso, a execução de reformas e aumento no investimento na economia permitirão melhorar a produtividade e o ambiente de negócios no Brasil.

No parágrafo 24 do documento, os diretores do BC defendem que a aprovação e implementação de ajustes e reformas, especialmente a fiscal, “são fundamentais para a sustentabilidade da desinflação, para o funcionamento pleno da política monetária e para a redução da taxa de juros estrutural da economia”. Esse cenário traria “amplos benefícios para a sociedade”, cita o documento.

Com essa percepção, os membros do Copom destacaram mais uma vez a importância de outras reformas e investimentos em infraestrutura. Esse quadro aumentaria a produtividade da economia, traria ganhos de eficiência, maior flexibilidade da economia e melhoria do ambiente de negócios. “Esses esforços são fundamentais para a estabilização e a retomada da atividade econômica e da trajetória de desenvolvimento da economia brasileira.”

Corte na Selic

O Copom voltou a argumentar que a expectativa de inflação ancorada somada à elevada ociosidade na economia estão por trás do ritmo mais forte da queda do juro anunciado em abril. Os diretores do BC ressaltaram várias vezes no texto que a extensão do ciclo de queda do juro depende de vários aspectos, como inflação, atividade e juro estrutural.

“Os membros do Comitê reafirmaram o entendimento de que, com expectativas de inflação ancoradas, projeções de inflação em torno da meta para 2018 e um pouco abaixo da meta para 2017, e elevado grau de ociosidade na economia, o cenário básico do Copom prescreve antecipação do ciclo de distensão da política monetária”, cita o documento no parágrafo 18. Na semana passada, o juro foi reduzido em 1 ponto porcentual, em velocidade superior à observada na decisão anterior.

Nesse mesmo trecho do documento, no parágrafo 17, voltaram a explicar que a extensão do ciclo de queda “dependerá da evolução da atividade econômica, dos demais fatores de risco e das projeções e expectativas de inflação para 2018 e 2019”. Além disso, a extensão desse ciclo será influenciada pelo juro neutro da economia brasileira. “Essas estimativas naturalmente envolvem incerteza e poderão ser reavaliadas pelo Comitê ao longo do tempo”.

Apesar das variáveis que envolvem incerteza, o BC defende que o ritmo mais forte de queda da taxa Selic equivale a “um maior grau de antecipação” desse movimento de desaperto monetário. “Em relação ao ritmo de flexibilização ao longo do ciclo, o Comitê entende que, para uma dada estimativa de sua extensão, uma intensificação do ritmo equivale a um maior grau de antecipação do ciclo”, cita o documento no parágrafo 19.

Diante desse cenário, o trecho 20 cita que “todos os membros do Copom concordaram que a evolução da conjuntura desde sua reunião em fevereiro é compatível com a redução da taxa Selic para 11,25%”. “Todos também concordaram que essa intensificação moderada em relação ao ritmo das reuniões de janeiro e fevereiro mostra-se, no momento, adequada”.

Efeitos primários

O BC defende que a ancoragem das expectativas de inflação permite à instituição atuar com mais foco em possíveis efeitos secundários de ajustes de preços relativos que podem ocorrer ao longo do tempo. Nesse trecho do documento, os diretores da casa voltaram a reafirmar que a política monetária não deve reagir aos efeitos primários de eventuais choques de oferta, como o visto recentemente nos alimentos.

“Os membros do Copom voltaram a enfatizar que o ambiente com expectativas de inflação ancoradas permitiria ao Comitê se concentrar em evitar possíveis efeitos secundários de ajustes de preços relativos que possam ocorrer ao longo do tempo”, cita o documento no parágrafo 23. O texto exemplifica o fenômeno ao citar o choque de oferta favorável nos preços de alimentos.

Para os diretores do BC, “o Copom deve buscar identificar os efeitos primários desse choque de oferta, aos quais a política monetária não deve reagir, levando em conta as condições de demanda no setor”. Para o Comitê, “a política monetária deve concentrar-se, então, em possíveis efeitos secundários desse choque, que podem contribuir para quedas adicionais das expectativas de inflação e da inflação em outros setores da economia”. Ou seja, ocorrências como o choque de alimentos deve ser monitorada, mas só haverá reação em eventual efeito secundário.

No parágrafo 21, os diretores do BC ressaltaram que a “condição fundamental” para qualquer decisão futura é de que a medida “seja compatível com manutenção das projeções de inflação na meta nos horizontes relevantes e com ancoragem das expectativas de inflação”.

Durante a reunião, os diretores também debateram como a política monetária “contribuiria para o processo de estabilização e posterior retomada da atividade econômica”. O debate entre diretores também avaliou “efeitos defasados que a política monetária pode ter sobre a inflação para os próximos anos”.