Os versos da marchinha de carnaval “Daqui não saio/ Daqui ninguém me tira” virou um hino para a maioria dos líderes dos principais partidos na Câmara. Na reforma política que articulam, fazem de tudo para aprovar o Fundo Público Eleitoral, que contará com R$ 3,6 bilhões de dinheiro da União para torrarem em suas campanhas. E, ao mesmo tempo, defendem com unhas e dentes a introdução do Distritão. Com essas duas indecências, eles legislam em causa própria para garantir a renovação de seus mandatos nas eleições de outubro do ano que vem.

O deputado José Fogaça (PMDB-RS) explica o que significa o Distritão para ele e os colegas que defendem o novo sistema eleitoral. “Hoje, faço campanha em Porto Alegre e na região metropolitana para me eleger. Com o Distritão, vou ter de rodar o estado inteiro”, diz. Os atuais parlamentares, que já são conhecidos e terão prioridade na partilha do dinheiro público colocado à disposição dos partidos, terão facilidade para se reeleger. Os novos candidatos ficarão sem dinheiro para percorrer um grande número de cidades.

Dinheiro público.

A bandeira do Distritão foi empunhada pela primeira vez pelo ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha, preso pela Lava Jato, mas o bastão foi passado para o atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Ele é diretamente interessado na mudança. Nas eleições de 2104, se elegeu na segunda vaga das duas a que sua coligação teve direito no Rio de Janeiro. Pelo Distritão, ele seria o 29° de 46 vagas. Ou seja, se elegeria com um pé nas costas.

Ao tentar impor a reforma política que beneficia diretamente a casta de caciques em detrimento à renovação reivindicada nas ruas do País, a Câmara demonstra mais uma vez que a maior bancada da Casa é a do corporativismo. Deputados que compõem a chamada base do governo e da oposição, principalmente o PT, costuram às escondidas um acordo para aprovar as duas propostas indecorosas: o Distritão, para puxar à ribalta quem está caindo pelas tabelas, e a criação do Fundo Público de R$ 3,6 bilhões para substituir o atual modelo que capta recursos apenas das pessoas físicas, sem onerar os cofres da União.