HORA DE ACELERAR O presidente da Kia Motors, José Luiz Gandini, diz que o novo o governo traz credibilidade
HORA DE ACELERAR
O presidente da Kia Motors, José Luiz Gandini, diz que o novo o governo traz credibilidade (Crédito:Claudio Belli/Valor)

Em uma entrevista concedida no final do ano passado, o ex-ministro da Fazenda Antônio Delfim Netto disse que o Brasil não sairia do atoleiro enquanto não resgatasse a confiança dos cidadãos em seus governantes. Sem acreditar naqueles que detém o poder, os empresários não investem, as pessoas não consomem, e o estado de paralisia contamina o País inteiro. Nos últimos 2 anos, essa sensação dominou milhões de brasileiros. Desde que Michel Temer assumiu a Presidência, porém, a roda começou a girar em sentido oposto. Se ainda é cedo para dizer que a nação está sendo varrida por uma onda de otimismo, não é impreciso afirmar que há sinais positivos vindos de muitos lugares. Nos últimos dias, empresários de diversos setores não só declararam apoio irrestrito aos planos do novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, como anunciaram a intenção de retomar investimentos no País. A reação do setor produtivo e do mercado financeiro não poderia ter sido melhor. A confiança está de volta – e com ela a expectativa de que a crise possa, enfim, ser debelada.

Fonte: IBGE – Contas Nacionais Trimestrais
Fonte: IBGE – Contas Nacionais Trimestrais

Para o presidente da Kia Motors, José Luiz Gandini, a vantagem do novo governo começa na equipe econômica montada por Temer. “Estamos conscientes de que não vai ser fácil”, diz. “Mas é evidente que há otimismo por parte dos empresários. A chegada do Meirelles traz credibilidade. Agora é hora de trabalhar.” Na semana passada, a empresa lançou uma campanha de publicidade que tem como mote a retomada da confiança. No anúncio, a Kia informa que pretende colocar nas ruas 37 novos modelos até 2020, o que dá a impressionante média de quase 10 por ano. Também na semana passada, o vice-presidente global da Nestlé, Laurent Freixe, confirmou aportes de R$ 500 milhões no Brasil em 2016, e que vai contratar 7 mil profissionais nos próximos três anos. Outra gigante, a Coca-Cola, anunciou a injeção de R$ 3,2 bilhões no País em 2017, ou 10% a mais do que nos últimos cinco anos.

Investimentos maciços, é bom lembrar, levam a um efeito propagador: são eles que alimentam os cofres do governo com impostos, criam empregos e geram negócios para fornecedores e empresas parceiras. Enfim, engordam o PIB. “Ficamos mais esperançosos de que esse governo tome medidas para racionalizar a economia e reverter o processo de retração”, diz Mario Ernesto Humberg, coordenador do Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBE). Uma das apostas para reativar a economia é o programa de concessões que o novo governo quer lançar. Entre as novidades do projeto de Temer, está a não obrigatoriedade da participação da Infraero nas licitações dos aeroportos, o que deve ser um fator decisivo para atrair investidores estrangeiros.

FUTURO Bryan Smith, presidente da Coca-Cola na América Latina: reforço nos investimentos no Brasil
FUTURO Bryan Smith, presidente da Coca-Cola na América Latina: reforço nos investimentos no Brasil (Crédito:Divulgação)

Em seus primeiros pronunciamentos, o presidente interino afirmou que estimular os investimentos é uma das prioridades de seu governo. Temer tem razão, mas não será uma tarefa simples. Entre o terceiro e o segundo trimestre do ano passado, os investimentos recuaram 12,9%, a maior queda em muitos anos. Sob o governo Dilma Rousseff, estava evidente que não havia mais disposição para interromper a sangria. Agora, tudo indica que será diferente. “A minha expectativa é que o Temer haja como o Mauricio Macri, o novo presidente da Argentina”, afirma Edgard Corona, presidente da rede de academias Bio Ritmo. “É um momento em que é melhor ser impopular e fazer o que tem que ser feito.” Ser impopular significa lançar iniciativas indispensáveis, como a reforma da Previdência e o plano de ajuste fiscal. Ao contrário de sua antecessora, Temer parece disposto a assumir o imenso desafio. O humor do mercado também melhorou com o novo governo. Na semana passada, o banco Santander publicou um relatório com projeções animadoras. Segundo o banco, a estimativa de crescimento do PIB para 2017 subiu de 1,2% para 2%. Depois de um longo período de trevas, a economia brasileira finalmente vê um horizonte mais nítido.

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