O presidente cubano, Raúl Castro, completará dez anos no poder no próximo domingo, um período marcado por reformas antes inimagináveis na ilha comunista e uma histórica reaproximação com os Estados Unidos.

Raúl saiu da sombra do irmão e assumiu a presidência em 31 de julho de 2006, quando problemas de saúde forçaram Fidel a deixar o poder que mantinha desde a revolução que liderou para derrubar o ditador Fulgêncio Batista, em 1959.

Raúl, que lutou ao lado de Fidel, foi ministro da Defesa de seu governo desde então, abrindo a via para suceder seu irmão, que completa 90 anos em 13 de agosto.

Os óculos de armação de aço escondem o olhar afiado de Raúl, 85 anos e tão discreto quanto seu irmão é volúvel.

Mas logo que assumiu o cargo, Raúl começou a deixar sua marca, conduzindo Cuba para uma nova era.

Após consolidar seu controle, apoiado pelos militares, Raúl começou, passo a passo, a abrir a sua economia baseada no modelo soviético.

Abriu espaço para a iniciativa privada, permitindo que pequenos empresários, conhecidos como “cuentapropistas”, abrissem seus negócios.

Hoje, meio milhão de cubanos trabalham por conta própria ou em pequenos negócios de família, embora empresas oficialmente privadas sejam ilegais desde 1968.

Em 2011, Raúl permitiu que cubanos comprassem e vendessem casas e veículos, terminando com décadas de verdadeiros labirintos transformados em apartamentos e trocas de carros, fugindo da antiga proibição.

Para modernizar a economia, aprovou uma nova lei de investimento para frear o uso de dinheiro estrangeiro e lançou um novo e enorme porto em Mariel, nos arredores de Havana, além de um parque industrial que oferece incentivos fiscais para empresas estrangeiras.

Em paralelo, lançou uma série de iniciativas diplomáticas para atrair novos aliados.

Iniciou negociações com a União Europeia para normalizar a relação tensa entre os dois e em dezembro de 2105 assinou um acordo com o Clube de Paris de países credores para reestruturar sua dívida de 25 anos.

Negociou também dívidas com a China, a Rússia e o México.

Fim da Guerra Fria

Mais importante, ele aproveitou a oportunidade de aproximar do inimigo mais antigo de Cuba – os Estados Unidos -, com a chegada do presidente Barack Obama à Casa Branca, em 2008.

A mudança teve tanto motivos práticos quanto ideológicos: o líder de esquerda da Venezuela, Hugo Chávez – principal benfeitor de Cuba desde o colapso da União Soviética – estava mergulhando em problemas econômicos.

Mas as mudanças de fato são reais.

Apesar da tensão persistente – principalmente sobre o embargo americano, que continua em vigor -, os amargos inimigos da Guerra Fria reabriram embaixadas nas duas capitais.

Navios de cruzeiro viajam de Miami para Havana, e viajantes podem se hospedar no hotel Four Points, da linha Sheraton, operado por americanos, enquanto voos comerciais entre os dois países começarão a operar nos próximos meses.

Selando a reconciliação anunciada pela primeira vez em dezembro de 2014, Obama visitou Raúl em março desse ano, na primeira viagem de um presidente americano à Cuba desde 1928.

Entre outras grandes reformas, Raúl terminou também com a proibição dos cubanos de viajar para outros países, permitiu o acesso à internet para todos e fixou um limite de 10 anos para o mandato de altos funcionários, inclusive para ele mesmo.

Raúl Castro, que atuou como interino em seus dois primeiros anos no cargo, assumindo oficialmente a Presidência em 2008, anunciou que vai deixar o poder em 2018.