Quando privado de oxigênio, o rato-toupeira-pelado tem uma capacidade única de converter açúcar em energia, uma habilidade que um dia pode ajudar a tratar vítimas de ataque cardíaco e acidente vascular cerebral, disseram pesquisadores nesta quinta-feira.

Estes mamíferos de sangue frio são uma fonte de fascínio para os cientistas, porque podem viver 30 anos, raramente têm câncer e não parecem sentir a maioria dos tipos de dor.

Pesquisadores relataram na revista Science que quando os ratos-toupeira-pelados são expostos a níveis de oxigênio baixos o suficiente para matar uma pessoa em minutos, eles podem sobreviver por pelo menos cinco horas.

A espécie é capaz, ainda, de sobreviver até 18 minutos na ausência total de oxigênio. No mesmo experimento, ratos submetidos a esta condição morreram em cerca de um minuto.

Os ratos-toupeira-pelados fazem isso ao agir como plantas, convertendo a frutose em energia para manter suas células cerebrais vivas.

Na ausência de oxigênio, grandes quantidades de frutose fluíram para as suas correntes sanguíneas, e foram transportadas para as células do cérebro.

“O rato-toupeira-pelado simplesmente reorganizou alguns blocos básicos do metabolismo para torná-lo super tolerante às condições de baixo oxigênio”, disse Thomas Park, autor principal do estudo e professor de ciências biológicas na Universidade de Illinois, em Chicago.

Esses roedores entram em um estado de animação suspensa (desaceleração dos processos vitais do corpo por meios externos sem levar à morte), movendo-se muito pouco e diminuindo seu pulso e taxa de respiração, e usam a frutose para sobreviver até que o oxigênio esteja disponível novamente.

“O rato-toupeira-pelado é o único mamífero conhecido a usar a animação suspensa para sobreviver à privação de oxigênio”, disse o estudo.

Este metabolismo incomum dos ratos-toupeira-pelados poderia ser uma adaptação para viver em tocas lotadas onde o oxigênio é escasso, aponta o estudo.

“O ar pode ficar muito abafado nessas tocas subterrâneas”, disse Gary Lewin, coautor do estudo e pesquisador do Centro Max Delbruck de Medicina Molecular da Associação Helmholtz.

Quando exposto a níveis baixos de oxigênio, a frequência cardíaca do rato-toupeira-pelado cai de 200 batimentos por minuto para cerca de 50. Uma vez que o oxigênio fica disponível novamente, eles voltam a se mexer, como se nada tivesse acontecido, segundo o estudo.

Se os cientistas pudessem aproveitar esse processo e aplicá-lo aos seres humanos, ele poderia ajudar pessoas que foram privadas de oxigênio durante ataques cardíacos ou derrames a sobreviver.

“Nosso trabalho é a primeira evidência de que um mamífero pode mudar sua fonte de combustível para a frutose”, disse Lewin.

“Teoricamente, poucas mudanças podem ser necessárias para adotar esse metabolismo incomum”, acrescentou.

Mas ainda não se sabe se as células humanas poderiam ser induzidas a se comportar desta forma.

“Pacientes que sofrem um infarto ou acidente vascular cerebral apresentam danos irreparáveis após apenas alguns minutos de privação de oxigênio”, observou Lewin.