Em sua defesa contra as acusações da Lava Jato, o ex-presidente Lula falou como candidato a presidente em 2018. Defendeu os 12 anos de governo do PT (o último não conta…) e a inclusão social, comparou-se a Jesus Cristo e a Tiradentes, revelou que prepara-se para viver mais 20 anos e chamou à luta os jovens que gritam Fora Temer nas ruas. Vestiu vermelho e beijou a camiseta, como fazem os jogadores de futebol. Até sua voz rouca voltou à velha forma, numa oratória preparada para emocionar a militância petista e engajá-la na difícil tarefa de eleger prefeitos e vereadores na eleição de outubro, a primeira após o impeachment de Dilma. Atrás dele, os cabelos da valente senadora e ex-loira Gleisi Hoffmann e do grisalho Lindbergh Farias, que um dia presidiu a UNE, teimavam em mostrar como o PT mudou. Mas Lula, apesar da aparência envelhecida, continua o mesmo.

O candidato, sob o canto de “guerreiro do povo brasileiro”, foi às lágrimas em defesa de seu nome e de sua família. Criticou os jovens procuradores públicos que o acusam de ser o “comandante máximo da propinocracia” e foi além. Como os “meninos” não apresentaram provas cabais contra ele, apenas convicções, seu discurso político cresceu – afinal, sem a arma do crime nem outra evidência incontestável, não há punição justa. Contra a “pirotecnia de Curitiba”, Lula subiu ao palanque. Em sua velha tática de dividir o Brasil entre “nós e eles”, ironizou os adversários tucanos FHC e Alckmin, prometeu defender os trabalhadores contra as reformas de Temer e criticou a imprensa – instituição cara à Democracia e que tanto lhe foi útil no passado, mas hoje é convenientemente taxada de golpista.

O discurso de candidato cresceu, mas não trará de volta os eleitores decepcionados com o PT

A retórica emocionante de Lula ainda pode ser uma ferramenta poderosa junto a ouvidos convertidos ou incautos. Quem sabe, será útil para o PT juntar alguns cacos do que restou do poder perdido em meio às ruínas de um governo manchado pela corrupção e pela recessão, que dizimou boa parte da nova classe média brasileira antes de deixar o Palácio do Planalto. Porém, dificilmente vai trazer de volta os eleitores que acreditaram na revolução social do seu governo, mas se decepcionaram profundamente com a roubalheira do mensalão e do petrolão e, agora, sofrem na pele os efeitos da degradação das finanças públicas e da economia na gestão Dilma. Fica a pergunta: se Lula escapar de Sérgio Moro e disputar a Presidência, quem escolherá para vice?


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