Mundo/Sociedade  1989

Nenhuma cidade do mundo simbolizou tão bem a radicalização das ideologias quanto Berlim. Entre agosto de 1961 e novembro de 1989, por quase 30 anos, um muro dividiu-a em duas partes: no lado Oriental, estava a Berlim comunista alinhada com a União Soviética; no Ocidental, a capitalista que seguia a cartilha dos EUA. Era o auge da Guerra Fria, na qual as grandes potências globais mediam forças com base em seu arsenais nucleares. Nessa disputa, 136 berlinenses que tentaram passar do lado oriental para o ocidental foram mortos por tiros pelos guardas da fronteira.

Com a derrocada política e econômica da ex-URSS, o Muro de Berlim foi euforicamente derrubado pela população. “As pessoas que conheci tinham opiniões diferentes [sobre a queda]”, diz a cineasta Ioulia Isserlis, de 27 anos, que aos nove se mudou com a família da Rússia para Dresden, na Alemanha Oriental. “A convulsão social mexeu com eles, que viam uma sociedade mais estruturada no passado. A maioria das pessoas que eu vi, no entanto, estava muito feliz de que os velhos tempos tinham ficado para trás.”

Outros muros

Apesar de sua geração não ter testemunhado a queda, Ioulia, que mora em Berlim, diz se lembrar da existência do muro quase todos os dias, uma vez que há pedaços remanescentes espalhados pela cidade. “Muitas vezes nem nos damos conta do que esse passado significou na vida de gerações antes da nossa”, ela afirma. “Temos muita sorte de ver o muro em ruínas. Nas últimas décadas, Berlim se tornou uma metrópole multicultural onde pessoas de backgrounds diferentes se unem. Espero que fiquemos assim nas próximas gerações.”

Apesar dessa esperança, Ioulia sabe que outros “muros” vêm crescendo no mundo. Do Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) à ameaça do candidato Donald Trump de construir um muro entre os EUA e o México ou a crise dos refugiados, a radicalização e a xenofobia têm aumentado em diferentes partes do mundo. “Uma consequência possível é que nossa sociedade se torne mais e mais dividida”, diz ela, que sofreu bullying de professores e colegas de escola na Alemanha, por ser imigrante russa. “Um dos objetivos da minha geração deve ser denunciar a xenofobia, a discriminação e partidos como o AfD [Alternativa para a Alemanha, de extrema direita] e não nos deixar levar pelo ódio, mas incorporar o engajamento social, político e cultural em nossas vidas. Distribuir uma mensagem de tolerância e animar as pessoas e repensar suas posições.”

“Temos muita sorte de ver o muro em ruínas. Nas últimas décadas, Berlim se tornou uma metrópole multicultural. Espero que fiquemos assim pelas próximas gerações” Ioulia Isserlis, 27 anos, cineasta
“Temos muita sorte de ver o muro em ruínas. Nas últimas décadas, Berlim se tornou uma metrópole multicultural. Espero que fiquemos assim pelas próximas gerações” Ioulia Isserlis, 27 anos, cineasta

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