Da celebração pela volta da democracia em 1985 à revolta contra a corrupção externada na edição de 2013 – quando as ruas do Rio ferviam com protestos -, culminando no grito atual contra o presidente Michel Temer (PMDB), o Rock in Rio sempre rendeu manifestações políticas, de artistas e do público. Este ano, os escândalos que envolvem milhões de reais e as ameaças à Amazônia estão presentes nos discursos desde a sexta-feira, 15, primeiro dia de shows.

Já na abertura dos portões da Cidade do Rock, o “Fora, Temer” ecoou. Quem aguardava para entrar se manifestou diante de câmeras de TV, que mostravam a expectativa para o festival. Mais tarde, na apresentação de Pabllo Vittar num pequeno palco da Cidade do Rock, na de Fernanda Abreu no Palco Sunset e na homenagem ao samba, também no Sunset, foi ouvido de novo. Este último foi pontuado por uma fala de Criolo que quase passou em branco: ele incitou ocupações em Saudosa Maloca, de Adoniran Barbosa.

No sábado, o “Fora, Temer” chegou ao palco, na boca da cantora Mariana Aydar, integrante do tributo ao músico João Donato no Sunset. Depois, no mesmo Sunset, viria a Blitz. A banda carioca que, em seu show no Rock in Rio de janeiro de 1985, saudara o recém-eleito presidente Tancredo Neves. Na ocasião, um jovem Herbert Vianna, além de Cazuza, cantou por dias mais felizes no Brasil que se anunciavam.

O Evandro Mesquita de 2017 convocou: “Vamos mudar a porra do Brasil!”. Pôs um cocar na cabeça e clamou pela Amazônia – numa referência à liberação da mineração numa área antes protegida – depois revogada pelo governo Temer diante das reações negativas: “A Amazônia está seriamente ameaçada por políticos corruptos, mineradores, pecuaristas, por cobiça. O governo Temer quer salvar seu pescoço sucateando a Amazônia. Demarcações já!”. Foi mais um momento de “Fora, Temer” na plateia. O que se repetiu ontem, no show de Johnny Hooker, Liniker e Almério. Quando o telão mostrou “Amar sem Temer”, uma bandeira LGBTQ que ataca em duas frentes, o público vibrou.

A escolha de músicas de cunho político demarca o posicionamento dos artistas. A Blitz fez um cover de Aluga-se, de Raul Seixas, que em 1980 já zombava: “Os estrangeiros eu sei que eles vão gostar/ Tem o Atlântico com vista pro mar/ A Amazônia é o jardim do quintal/ E o dólar dele paga o nosso mingau”. O Skank pinçou a sua Indignação. Frejat, ontem, lembrou Ideologia e Pro dia nascer feliz, ambas carregadas de simbologia. Ao ouvir um sonoro “Fora, Temer” da plateia, retrucou: “Tá na hora”.

No sábado, o discurso de Samuel Rosa, do Skank, não fez menção a um político em específico, mas à classe. “A gente não se parece com vocês, políticos brasileiros. Vocês são piores do que ladrões. Graças a Deus, a apatia do povo está se dissipando.” No Rock in Rio de 2013, ele já havia feito referência ao esquema de corrupção do mensalão. No mesmo ano, Dinho Ouro Preto disparou, ao cantar com o Capital Inicial Que país é esse? e Saquear Brasília: “Não sei o que é pior: Natan Donadon, o primeiro presidiário congressista, ou o Congresso, por deixar ele lá.”

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Chapa branca

A proteção da Amazônia, causa encampada pelo Rock in Rio com o projeto Amazônia Live, de restauração de árvores, já estava presente no Palco Mundo desde sexta-feira, nas vozes de Ivete Sangalo e Gisele Bündchen. Mas a retórica da cantora e da modelo, assim como a do festival, passam ao largo da conjuntura atual – até porque o Rock in Rio tem como parceiro o Ministério do Meio Ambiente.

O festival garante que não dá orientação para que os artistas se mantenham neutros no palco. “O palco é do artista, ele fala o que ele quiser”, disse Zé Ricardo, curador do Sunset. A vice-presidente do Rock in Rio, Roberta Medina, afirmou: “Não há nada nesse sentido. Defendemos a liberdade de expressão”.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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