Na última quinta-feira, 23, a Matilha Cultural, casa de eventos no centro de São Paulo, foi sede de um evento que reuniu o melhor da moda da periferia da cidade. Nas passarelas da quarta edição do Periferia Inventando Moda, nada de roupas caríssimas e modelos magérrimas. O que se viu foi o trabalho de estilistas e criadores que vivem em bairros pobres da capital paulista e têm talento de sobra para mostrar.

A primeira edição do evento ocorreu em 2014 a partir de uma iniciativa de Alex Santos, que na época cursava moda. “Assisti a um desfile grande do João Pimenta e passei a refletir que eventos daquele porte nunca chegariam à minha comunidade”, conta o morador de Paraisópolis. Então, a coordenadora da faculdade sugeriu que ele fizesse uma apresentação no bairro, com algumas de suas vizinhas como modelos. Nascia assim o projeto, cujo principal objetivo é difundir a cultura de moda dentro de comunidades.

Essa foi a primeira vez que o evento aconteceu fora da periferia. “Nós fazemos um evento de boa qualidade, mas porque é da comunidade, ninguém vai. Por isso mudamos de lugar”, diz Alex. Ao todo, ocorreram seis desfiles com referências baseadas no street style. Moletom, jeans, transparências, metalizados e, claro, grafite – expressão artística que ganhou status fashion até nas passarelas da Gucci – apareceram de origem e de forma criativa, ousada e inovadora nas criações de jovens estilistas.

“Quando você dá destaque para alguém que sai de uma situação difícil, acaba mexendo com a autoestima da pessoa”, diz Nilson Mariano, diretor executivo do projeto. “Desfilar, tirar fotos, colocar esse jovem no centro das atenções faz com que ele cresça e comece a entender o lugar que ocupa no mundo”. Tanto criadores quanto modelos integram o projeto.

O maquiador Max Weber, que assina a beleza de desfiles das principais semanas de moda do país e está acostumado a cuidar de modelos do porte de Gisele Bündchen, também fez questão de apoiar a iniciativa. “Minha vontade era realmente participar de algo que beneficiasse outras pessoas, sem pagar nem receber”, conta. Além de dar aulas de maquiagem no projeto, ele também criou o visual dos modelos do desfile de Alex Santos – uma maquiagem composta por formas geométricas em cores neon, inspiradas na arte do grafiteiro Kobra.