Produzida com esmero impecável e ancorada em anos de minuciosa pesquisa sobre o reinado de Henrique VIII (1491–1547), a série britânica “The Tudors” elevou o patamar dos programas televisivos dedicados a recapitular a história oficial. Além dos folguedos sexuais do soberano famoso por suas seis esposas, a produção vencedora de uma dezena de prêmios teve um importante papel pedagógico ao detalhar as ideias que permitiram ao Reino Unido se tornar a maior potência mundial por séculos, criando sua própria igreja (anglicana), uma invencível armada e um império onde o sol jamais se punha. Atualmente em exibição no Brasil pela Rede TV!, “The Tudors” é um exemplo de como a TV pode despertar o interesse pela memória de uma nação.

O mesmo propósito poderia ser aplicado à novela “Novo Mundo”, que a Rede Globo exibe desde a semana passada na faixa das 18h. Escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson, essa aventura romântica ambientada no Brasil do início do século 19 tem como pano de fundo a luta dos brasileiros pela construção de uma nação independente. Embora seus protagonistas sejam personagens ficcionais, a trama se entrelaça com a história real da corte. Os autores garantem que jamais tiveram a intenção de fazer da novela uma aula de história, mas algumas passagens permanecem bastante fieis aos fatos.

“Novo Mundo” mostra como a arquiduquesa austríaca Leopoldina (vivida pela atriz Letícia Colin) viajou ao Brasil para se tornar esposa de Dom Pedro (Caio Castro).

A trama tem início em 1817, com o Brasil já elevado à condição de reino unido a Portugal. Um ano antes, representantes do governo da Áustria e da coroa portuguesa haviam firmado uma aliança entre os dois países e assinado um contrato de casamento entre a filha de Francisco I (Leopoldina) e o primogênito de D. João VI, Pedro.

realeza D. Pedro I e Leopoldina: ela morreu quatro anos após ter sido coroada
REALEZA D. Pedro I e Leopoldina: ela morreu quatro anos após ter sido coroada

Como já ocorreu em algumas das produções brasileiras que retratam a vida da família real portuguesa no Rio de Janeiro, o tom é um tanto caricato, apesar do requinte dos cenários e figurinos. É verdade que a atual leitura não tem o deboche do seriado humorístico “O Quinto dos Infernos” (2002), também produzido pela TV Globo, e nem o sarcasmo do longa-metragem “Carlota Joaquina”, dirigido por Carla Camurati em 1995. Mesmo assim, estão lá os aspectos folclóricos que se fixaram à imagem pública da família Orleans e Bragança, como o insaciável apetite de D. João VI e a promiscuidade de seu filho Pedro.

NOVO OLHAR

O interesse pela figura histórica de Maria Leopoldina Carolina Josefa de Habsburgo-Lorena (que nasceu em Viena, em 22 de janeiro de 1797, e morreu precocemente, no Rio de Janeiro, em 11 dezembro de 1826) tem crescido devido a uma efeméride: os 200 anos de sua chegada ao Brasil.

E é bom que se diga, a personagem merece ser melhor conhecida. Dois livros já haviam jogado novas luzes sobre a nobre que foi a promeira-dama do Brasil: “Cartas de uma Imperatriz” (Estação Liberdade, 2006), e “A Biografia Íntima de Leopoldina” (Planeta, 2015), de Marsilio Cassotti. A eles soma-se o recém-lançado “D. Leopoldina — A história não contada: a mulher que arquitetou a Independência do Brasil” (Leya). O autor sustenta que foi em grande parte graças a ela que o Brasil se tornou uma nação. Paulo Razzuti, vencedor do prêmio Jabuti em 2016 por sua biografia de D. Pedro I, se baseia nas informações do diário da condessa Maria Ana von Kühnburg (1782-1824), que acompanhou Leopoldina em sua viagem de Viena até o Rio de Janeiro. Segundo ele, a prometida de D. Pedro “abraçou o Brasil como seu país, os brasileiros como o seu povo e a Independência como a sua causa”.

RETRATOS DA IMPERATRIZ
Livros contam a vida da esposa de D. Pedro I e seu papel no Brasil