Cerca de 150 cientistas de toda a África estão reunidos em Abidjan para criar a Sociedade Africana de Primatologia (SAP) com o objetivo de salvar os macacos ameaçados de extinção no continente.

A situação dos primatas é catastrófica: mais da metade das espécies africanas estão ameaçadas de extinção. E em Madagascar, 85% das espécies de lêmures poderiam desaparecer, segundo Inza Koné, diretor de pesquisa e desenvolvimento no Centro suíço de pesquisas científicas da Costa do Marfim.

Nesse país, a população de chimpanzés – os primatas mais parecidos com os humanos – diminuiu 90% em 20 anos.

As principais causas da redução da população de primatas na África são: a caça, sobretudo a furtiva, e o desaparecimento do seu habitat, particularmente das florestas, devido à extensão das atividades humanas como a agricultura, exploração florestal, mineração e urbanização.

Tais causas são difíceis de combater sem convencer as comunidades locais da importância da defesa dos primatas e do seu entorno.

“Os africanos, tanto os que tomam decisões como os cidadãos comuns, respondem melhor quando o discurso vem de um cientista africano”, estima o professor Koné, ressaltando que o mundo da primatologia está dominado por especialistas americanos ou europeus.

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Os primatologistas africanos são pouco conhecidos em escala internacional, têm acesso a um menor financiamento e dirigem escassos projetos de pesquisa ou de conservação, inclusive em seu próprio continente, explica.

“É o momento” de criar a SAP, “necessitamos realmente uma organização africana administrada por africanos”, junto com a Sociedade Internacional de Primatologia existente, considera o americano Russell Mittermeier, uma eminência mundial no assunto e em lêmures de Madagascar.

– Formar os jovens –

Rachel Ikemeh criou uma ONG para salvar os colobos-vermelhos da região do Delta na Nigéria, macacos com cerca de 10 kg e pelagem avermelhada nas costas que se encontram em perigo crítico de extinção.

Há 20 anos havia dezenas de milhares de exemplares, agora restam entre 500 e 1.000 nesta região petroleira. Há muitos interesses internacionais em jogo, e é difícil conscientizar sobre a importância da defesa do meio-ambiente, explica Ikemeh.

A SAP permitirá aos cientistas africanos “intercambiar conhecimentos, experiências, constituir redes”, e também “formar jovens primatologistas”, afirma Ikemeh, uma das promotoras do projeto junto com o professor Koné.

Rose-Marie Randrianarison, primatologista da Universidade de Ankatso em Antananarivo e especialista em indris, um tipo de lêmur, veio de Madagascar para o nascimento da SAP. Estes animais de pelagem preta e branca também estão em risco pelo desaparecimento do seu habitat.

“É preciso sensibilizar as autoridades locais, às quais a população presta atenção” e também “informar e envolver os que tomam decisões políticas”, aponta a primatologista.

O vice-presidente da organização americana de proteção da natureza Conservation International, Russell Mittermeier, recorda o início da primatologia no Brasil, outro país no qual é especialista e que conta com o maior número de espécies de primatas (150).

“Em 1971, só havia um primatologista brasileiro”, diz. Graças à criação da Sociedade Brasileira de Primatologia, que formou jovens maciçamente, o país contava com “centenas” deles no final dos anos 1980. Um exemplo para a África.


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