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Ao aderir à delação premiada, um privilegiado grupo de acusados de desviar milhões dos cofres da Petrobras teve o direito ao tão sonhado benefício de cumprir o restante da sentença no aconchego de casa e não em uma cela ao lado de outros delinquentes. Mais do que residências, a generosa contrapartida à delação permite que esses criminosos do colarinho branco descansem em mansões, na maioria das vezes, compradas e mantidas com dinheiro sujo. Entre os premiados estão os ex-diretores Petrobras Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró e o ex-gerente da estatal, Pedro Barusco. Este último, embora não tenha sido condenado ainda, desfruta do conforto noturno de seu suntuoso lar, enquanto seus comparsas se espremem entre as grades e os companheiros de uma cela no complexo penitenciário de Pinhais, no Paraná. Do mesmo modo, encontra-se o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que também ganhou o direito de ficar recluso na prisão de luxo de sua casa, em Fortaleza, antes de passar as agruras impostas pelo rigoroso sistema da penitenciária que tem sido a casa dos envolvidos no Petrolão.

Cumpre lembrar que as colaborações possibilitaram que os integrantes da Lava Jato pudessem elucidar crimes impossíveis de serem desvendados, não fossem os testemunhos de quem atuou ativa e pessoalmente no coração do esquema. Seria um colossal contrassenso colocar em questão a importância dos acordos. Mas o risco de um retrocesso no combate à impunidade é inegável quando o benefício é desproporcional ao ilícito cometido e aos danos provocados à sociedade.

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Cerveró trocou as grades da cela do Complexo Médico-Penal em Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, pela vista bucólica que cerca sua aconchegante e confortável casa no pacato Bairro de Itaipava em Petrópolis (RJ) no último dia 24. Em seu depoimento à justiça, Cerveró acusou a presidente afastada Dilma Rousseff de ter mentido sobre a compra da refinaria de Pasadena e disse supor que a petista sabia que políticos do PT recebiam propina da estatal. Cerveró ficou preso em regime fechado um ano e seis meses. As reminiscências de Pinhais dificilmente serão esquecidas pelo preso condenado a 17 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. Lá, ele dividia o pequeno espaço 12 metros quadrados com dois detentos, que se ajeitavam para usar um vaso e um chuveiro.

Beneficiado pelo acordo de delação premiada, Cerveró teve a pena reduzida para três anos. E é na residência em Itaipava que ele deve cumprir um ano e meio no regime domiciliar. O imóvel fica na Estrada Neusa Brisola, 800, tem 5.000m2, piscina, cascata e integra o conjunto de bairros que compõe a região de Petrópolis. O município tem cerca de 300 mil habitantes e fica a 1h30 da capital fluminense. O preço das casas varia de R$ 400 mil a R$ 10 milhões. O local se destaca por ser uma das regiões mais tranquilas do estado.

Modéstia não é o ponto forte de Sérgio Machado. Réu confesso de ter desviado mais de R$ 70 milhões da empresa para irrigar as contas de integrantes do PMDB, ele vai continuar desfrutando de uma vida de rei. O delator cumprirá uma pena de dois anos e três meses em prisão domiciliar, o que não será exatamente um castigo. A remissão de seus erros será no luxuoso Bairro Dunas, que fica no litoral de Fortaleza. A mansão de 3.000m² possui quadra poliesportiva, piscina e garagem para 10 carros. Como parte do pacote de bondade por ele ter desvelado o esquema de desvio de dinheiro, terá permissão para receber advogados, agentes de saúde e 27 familiares.

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Na esteira de réus da Lava Jato beneficiários com a prisão domiciliar, Paulo Roberto Costa encontra-se em regime semiaberto. Condenado a uma pena de 12 anos de prisão em regime fechado, por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva, Costa ficou apenas seis meses enclausurado na prisão do Paraná. Logo que assinou o acordo de delação, foi transferido para sua casa no Condomínio Rio-Mar, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. O imóvel também não deixa a desejar. Além de piscina e um belo jardim, a propriedade tem dois andares, onde no primeiro há uma sala e cozinha e quatro quartos no segundo piso. É avaliada em R$ 3 milhões. A delação rendeu a Paulo Roberto uma nova comutação da pena para o regime semiaberto em outubro de 2015. A partir de 1º de outubro, ele passará ao regime aberto e poderá, inclusive, viajar, se tiver autorização judicial. O réu se comprometeu a devolver R$ 55 milhões.

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Se dois dos três réus anteriores precisaram amargar o sofrimento de passar meses e até ano em uma cela, o mesmo ainda não ocorreu com gerente executivo de Engenharia da Petrobras Pedro Barusco. Até agora, tem se mantido ileso das acusações a que lhe são imputadas. Seu advogado se orgulha de repetir a proeza. “Nunca foi preso”, limitou-se a comentar o assunto o advogado Antônio Figueiredo. Barusco é suspeito de receber pelo menos US$ 100 milhões em propinas. As denúncias são de funcionário da Petrobras. Segundo eles, entre 1979 e 2010, o ex-gerente teria recebido dinheiro de fornecedores da estatal para fechar contratos.

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As propinas eram dividas com o ex-diretor da Petrobras Renato Duque. Ao contrário de Renato Duque, que está preso desde março de 2015 em Curitiba, também pela Operação Lava Jato, Barusco tem as noites de sono veladas dentro de uma casa com piscina e vista para o mar no Bairro de Joatinga, considerada uma das vistas mais belas da cidade maravilhosa. Segundo corretores da região, o valor dos imóveis está em torno de R$ 6 milhões. Pedro Barusco era chamado de braço direito de Duque. Em seu acordo de delação premiada, se comprometeu a estornar ao erário US$ 100 milhões.

O lobista Fernando Baiano, apontado pela Justiça como operador de propinas do PMDB, foi condenado a 16 anos de prisão por lavagem de dinheiro e corrupção. Mas, também com a delação, já cumpre pena em seu apartamento de 800 m², na avenida Vieira Souto, no Rio, – um dos metros quadrados mais caros do Brasil. Terá de devolver pouco mais de R$ 2 milhões. Seu apê é avaliado em R$ 12 milhões. Desde que foi para casa, faz valer seu direito de dar festas regadas a vinhos caríssimos para amigos. A vida pode nunca mais ser como antes. Mas só a impressão de que o crime pode ter compensado já é desalentador para pessoas de bem. Péssimo para o avanço na direção de uma sociedade realmente mais justa.


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