O presidente do Instituto Aço Brasil (IABr), Marco Polo de Mello Lopes, disse ter “inveja” dos americanos, que têm um presidente como Donald Trump, defensor de medidas protecionistas do setor siderúrgico norte-americano. O executivo demonstrou preocupação com a concorrência de chineses nos projetos de infraestrutura incluídos no Programa de Parcerias de Investimento (PPI), do presidente Michel Temer, e projetou que a recuperação brasileira só acontecerá após 2025.

“Quando pego um presidente que olha para a siderurgia dele, americana, e dá preferência, que olha para emprego e para a defesa comercial, e, de fato, prioriza a indústria americana, qual o sentimento? Inveja. Na verdade, ele está priorizando a indústria americana de aço. Não há ingenuidade por parte do governo americano. E aqui estamos ouvindo discurso de flexibilização”, afirmou Lopes, em coletiva de imprensa para avaliar o desempenho do setor siderúrgico no primeiro trimestre deste ano e as projeções para o fechamento deste ano.

O Brasil pode ser afetado pelas barreiras protecionistas dos Estados Unidos, segundo Lopes. Nesse caso, a opção será buscar outros mercados, já que a exportação é vista pelas siderúrgicas reunidas no Instituto Aço Brasil como uma solução ao desaquecimento da economia no País. “Vamos ter de conviver com a exportação nos próximos dez anos, até que o mercado interno se recupere”, ressaltou o presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil, Alexandre de Campos Lyra.

Internamente, as siderúrgicas travam duas batalhas com o governo brasileiro. A primeira é para que proteja a indústria de transformação nacional contra a competição com chineses, principalmente. A segunda é para que eleve a alíquota do Regime Especial de Reintegração de Valores Tributários para Empresas Exportadoras (Reintegra) de 2% para 5%, para que as siderúrgicas consigam recuperar impostos pagos ao longo da cadeia produtiva. Mas, segundo Lopes, “o governo só é rápido quando tem interesse”.

Nas discussões em Brasília, as siderúrgicas se apoiam em dois grupos de indústrias que compartilham o discurso protecionista. De um lado está com os grandes fornecedores de máquinas e equipamentos no movimento “Produz Brasil”, para pressionar pela compra de produtos nacionais pelas grandes petroleiras. Do outro, formou uma coalizão com grandes consumidores de aço, como o setor automotivo e elétrico, em prol da aprovação do Reintegra.

O principal argumento junto ao governo é a geração de emprego e investimento que as medidas protecionistas podem garantir. De acordo com o instituto, desde que o setor siderúrgico entrou em crise, 46.788 postos de trabalho foram fechados e US$ 3,2 bilhões deixaram de ser investidos, o que teria gerado perda de 9 mil empregos diretos e indiretos.

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Num cenário positivo, de crescimento do PIB de 2,5% em 2018 e 2019, e de 3,5% nos anos seguintes, seria possível retomar em 2025 o pico de vendas, de 2013, quando foram comercializados 24,5 milhões de toneladas. “Mas essas projeções de crescimento do PIB estão bastante otimistas, o que significa que a retomada só acontecerá depois”, avaliou Lopes.

O Aço Brasil projetou, em novembro, que as vendas internas cresceriam 3,6% neste ano e o consumo aparente, 3,5%, comparado a 2016. Mas, passados os primeiros meses do ano, reviu suas projeção para 1,3% e 2,9%, respectivamente. “O governo também está ficando mais pessimista com a economia”, disse o presidente do instituto


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