Carrinhos de bebê, bicicletas, patinetes e vestidos de princesa se misturavam às roupas camufladas e fuzis de militares na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema, bairro nobre da zona sul do Rio, na manhã deste sábado. Motivada pelos Jogos Olímpicos, a presença dos fuzileiros navais foi reforçada pela visita do presidente em exercício, Michel Temer, para a inauguração da Linha 4 do metrô, com direito a carro do Grupo Antibomba, cães farejadores e caminhões militares.

O aparato de segurança ostensivo despertou sentimentos contraditórios nos moradores do bairro que aproveitavam a manhã ensolarada de sábado para brincar com os filhos na pracinha. A servidora pública Aline Vinhas, 37 anos, considerou a companhia dos fuzileiros mais positiva que negativa. “Apesar de toda essa roupa, armas, traz uma sensação enorme de segurança. Deixo o carrinho da minha filha e ando a praça toda. Normalmente, teria que brincar com ela e ficar de olho”, disse ela, para quem o período de obras da Linha 4 do metrô, inaugurada neste sábado, abriu espaço para mais assaltos.

É nítido, entretanto, que os fardados e seus fuzis impactaram a rotina das famílias. A pequena Luísa, de 8 anos, indagou a reportagem do Estado de S. Paulo o que estava acontecendo e por que os soldados estavam ali. Uma outra criança mencionou a palavra terrorismo depois de cumprimentar um militar ao lado de sua mãe. O administrador de empresas Rodrigo Martinez, pai de Luísa e também de Rafael, 10, resumiu o estranhamento. “Acho bom ter segurança ostensiva, pena que é algo temporário. Ao mesmo tempo, dá um certo medo de estar acontecendo alguma coisa, um atentado. A gente fica se sentindo um alvo”, afirmou.

Mãe dos pequenos Alice e Alban, a francesa Emilie Attolini passeava com os dois e não gostou do que viu. “É bem assustador. Quando cheguei no parquinho achei que tinha algo errado acontecendo”, disse a gerente de projetos, que mora no Brasil há quatro anos.

A Praça Nossa Senhora da Paz ficou interditada e cheia de tapumes por quase quatro anos em função da construção. Após sua reinauguração, moradores continuaram a reclamar da falta de segurança e da presença de menores cheirando cola. Apesar de estar no coração da zona sul carioca, a praça também já foi palco de muitos episódios de violência. No ano passado, uma comerciante foi baleada por um assaltante em uma “saidinha de banco”. Um outro episódio emblemático ocorreu em 1998, quando um policial militar matou à queima-roupa dois homens que assaltaram uma agência da Caixa Econômica Federal na praça.