O presidente dos EUA, Barack Obama, é de fato quem entendeu, já nos primeiros momentos, o significado e os desdobramentos sociais do atentado na cidade texana de Dallas, no qual os erroneamente chamados “franco-atiradores” mataram pelo menos cinco policiais e feriram outros sete na noite da quinta-feira da semana passada – o ataque ocorreu justamente em meio à uma manifestação de negros contra a violência promovida por policiais brancos nos estados de Minnesota e Luisiana, onde dois homens foram assassinados em blitz de rotina. A compreensão do mais importante primeiro mandatário do planeta se traduziu em seu pronunciamento imediato: ele criticou diretamente o modo como a polícia vem operando em bairros negros e também deixou claro que a participação de diversos “franco-atiradores” mostra que eles não são tão “lobos solitários” como se pode imaginar: ao contrário, agiram de forma organizada e coordenada (tanto que até a tarde da sexta-feira havia dois homens e uma mulher presos, e outro atirador fora morto por um robô da polícia que o encurralou e o explodiu com uma bomba quando se aproximou o suficiente para atingi-lo). O conflito racial abre nos EUA um ferida que dificilmente será cicatrizada num futuro próximo – é só lembrarmos dos conflitos da década de 1960, lembrarmos dos ativistas Martin Luther King Jr. (pacifista) e Malcolm X (pregava ações armadas). “O que aconteceu é uma questão que não se restringe a negros e hispânicos. É uma questão da história americana. Precisamos rever os métodos policiais, porque o país e todos nós somos melhores que tudo isso que está acontecendo”, declarou Obama. Atentados de ambos os lados, no país que se aproxima das eleições presidenciais e tem o racista Donald Trump concorrendo, é óleo na fervura para a extrema direita (não para os conservadores) do Partido Republicano.