A Polícia Federal deteve nesta segunda-feira, no âmbito da Operação Lava Jato, Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda e homem-chave dos governos de Lula e Dilma Rousseff, em um novo golpe no PT vinculado ao escândalo de corrupção na Petrobras.

Palocci é acusado pelo Ministério Público Federal (MPF) de ter recebido subornos do Grupo Odebrecht, uma das principais construtoras envolvidas na trama de pagamento de subornos para manipular licitações na petrolífera estatal e desviar parte desta arrecadação a partidos políticos.

“Foi preso em São Paulo com um mandado de prisão temporária por cinco dias e deve ir para Curitiba hoje mesmo”, declarou à AFP um assessor do MPF desta cidade, onde se concentram os casos da investigação Lava Jato que não envolvem funcionários com foro privilegiado.

O juiz Sérgio Moro, que lançou a investigação em 2014, também autorizou o bloqueio de ativos bancários de Palocci e de outros suspeitos.

Segundo declarações do delegado Filipe Hille Pace em uma coletiva de imprensa em Curitiba, as autoridades têm em suas mãos uma planilha onde consta que “entre 2008 e o final de 2013, foram pagos mais de R$ 128 milhões ao PT e seus agentes, incluindo Palocci. Remanesceu, ainda, em outubro de 2013, um saldo de propina de R$ 70 milhões, valores estes que eram destinados também ao ex-ministro para que ele os gerisse no interesse do Partido dos Trabalhadores”.

A detenção ocorre quatro dias após a de Guido Mantega, que sucedeu Palocci no Ministério da Fazenda, por supostos desvios nas licitações de duas plataformas petrolíferas para obter fundos de campanha. Mantega foi liberado horas depois.

O caso também se concentra em Lula, particularmente depois que Moro aceitou neste mês uma denúncia do MPF contra ele por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, como suposto beneficiário de favores do esquema que fraudou a Petrobras.

O PT recebeu outro golpe fatal em agosto, com o afastamento definitivo de Dilma Rousseff da presidência (estava suspensa desde maio) pelo Senado, em um processo de impeachment por manipulação das contas públicas. A presidente foi substituída por seu vice-presidente, Michel Temer.

– Vantagens fiscais –

Palocci, de 55 anos, foi ministro da Fazenda de Lula entre 2003 e 2006 e ministro-chefe da Casa Civil de Dilma em 2011, assim como um importante operador político do PT.

As autoridades investigam “negociações entre o Grupo Odebrecht e o ex-ministro (Palocci) para tentar aprovar um projeto de lei” que buscaria “imensas vantagens fiscais”, assim como o “aumento da linha de crédito junto ao (banco de fomento) BNDES para país africano” com a qual a empresa tinha relações comerciais, além de “interferência no procedimento licitatório da Petrobras para aquisição de 21 navios sonda para exploração da camada pré-sal”, disse a PF.

Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva seu sobrenome, cumpre uma condenação de 19 anos e quatro meses de prisão por este caso.

Durante o dia, também foram emitidas outras duas ordens de detenção, 15 de condução coercitiva e 27 de busca e apreensão de documentos.

– PT denuncia “política-espetáculo” –

Lula e o PT denunciam manobras políticas por trás do cerco judicial. O ex-presidente estimou na semana passada que as acusações contra ele são uma farsa que têm por objetivo impedir que ele apresente sua candidatura nas eleições presidenciais de 2018.

O advogado de Palocci, José Roberto Batochio, também atribuiu nesta segunda-feira a uma vontade de “espetáculo” as acusações contra seu cliente.

Palocci “não fez absolutamente nada que violasse a lei. Mas vai ter muita gente que vai ser presa sem ter violado a lei. O espetáculo continua”, disse o advogado em São Paulo.