02/09/2016 - 12:15
O ouvidor das polícias do Estado de São Paulo, Júlio César Fernandes Neves, afirmou em entrevista à Rádio Estadão na manhã desta sexta-feira, 2, que a Polícia Militar (PM) precisa deixar os funcionários da corporação “psicologicamente bem preparados para conter os excessos dos manifestantes”. “Quando a PM se coloca para que não haja confronto, ele não existe. Temos que deixar claro que as manifestações fazem parte da democracia. Agora, a PM tem que também deixar os policiais preparados para conter os excessos dos manifestantes. Eles têm que estar psicologicamente bem preparados.”
A declaração aconteceu após a estudante Deborah Fabri, de 19 anos, afirmar ter perdido a visão do olho esquerdo por estilhaços de bombas lançadas pela PM em um protesto anti-impeachment na quarta-feira, 31, no centro de São Paulo.
Na ação, dois repórteres fotográficos foram presos, agredidos e tiveram os equipamentos destruídos.
O ouvidor disse que é preciso uma situação de entendimento, não de reação, “que teve como consequência essa lesão corporal gravíssima que entristece qualquer cidadão”. Ele falou, porém, que os manifestantes provocaram os bombeiros em um dos protestos contra a posse de Michel Temer e, assim, “houve uma reação ali”.
Neves ressaltou que o “papel da ouvidoria está sendo feito” após o encaminhamento de ofício ao Procurador-Geral de Justiça de São Paulo, Gianpaolo Paggio, nessa quinta-feira, 1º. No documento é sugerida a abertura de procedimento investigatório para apurar a atuação da Polícia Militar contra os manifestantes nos atos. “Fomos ao Ministério Público Federal para que ele assuma o papel para exercer o controle efetivo da Polícia Militar de São Paulo. Ele têm a competência legal para iniciar a procedência penal. Que os culpados sejam identificados, indiciados, punidos e expulsos da corporação.”
Na entrevista, o ouvidor ainda pediu que as pessoas denunciem o que aconteceu e que as imagens sejam reveladas. “Pedimos que os feridos venham pessoalmente também. Muita gente não vem e não denuncia. Ficamos sabendo às vezes depois de anos, porque nunca houve ocorrência. Ou por medo ou porque (a pessoa) foi policial.”
Ele ainda defendeu a imparcialidade da ouvidoria e negou que a corporação atua de forma mais “rigorosa” em manifestações da “esquerda”, visão política contrária ao atual governo do Estado de São Paulo.
Em relação à proibição de protestos na Avenida Paulista neste domingo, 4, devido à passagem do revezamento da tocha paralímpica, Neves confirmou ter sido procurado por movimentos sociais dispostos a alterar o horário dos atos, mas a questão ainda precisa ser discutida com o secretário de Segurança Pública, Mágino Álves Barbosa Filho. “Não sei se vai ser possível.”