O bombardeio contra um hospital da ONG Médicos Sem Fronteiras na cidade afegã de Kunduz no ano passado aconteceu devido a uma série de erros e deve ser punido, mas não pode ser considerado um crime de guerra, afirmou o Pentágono.

Em uma coletiva de imprensa, o general Joseph Votel, do Comando Central das Forças Armadas americanas (Centcom), explicou que no ataque realizado em 3 de outubro de 2015, a tripulação do avião AC-130 não dispunha de uma lista de locais protegidos na região de Kunduz.

“A investigação concluiu que alguns membros do pessoal (militar) não respeitaram as regras de combate e o direito que rege os conflitos armados. Ao contrário, não se concluiu que estes erros sejam um crime de guerra”, disse Votel, taxativo, ao revelar um extenso informe com mais de três mil páginas.

Votel argumentou aos jornalistas que o bombardeio do hospital ocorreu devido a “uma combinação de erros humanos, erros de procedimento e falhas técnicas. Nenhum dos militares (envolvidos) sabia que se dirigia a atacar um hospital”.

“O termo crime de guerra se reserva aos atos internacionais que buscam, de forma deliberada, transformar em alvo dos ataques civis, lugares ou objetos protegidos”, acrescentou o chefe do Centcom.

Segundo autoridades americanas, a aeronave equivocadamente dirigiu seu ataque contra o centro médico onde eram atendidos pacientes com traumas, o que provocou 42 mortes entre pacientes, familiares e pessoal sanitário.

Escândalo mundial

A incursão aérea sobre o hospital, que se prolongou por quase uma hora, ocorreu no âmbito do apoio americano às tropas afegãs para recuperar Kunduz, uma cidade estratégica, na época nas mãos dos talibãs.

Até agora, os Estados Unidos anunciaram sanções disciplinares e administrativas contra dez militares pelos equívocos que levaram ao bombardeio de uma instalação médica. Nesta sexta-feira, a cifra de militares sancionados foi elevada a 16.

A organização Médicos sem Fronteiras (MSF), que pediu a abertura de uma investigação internacional com especialistas independentes, rejeita a versão entregue até agora por Washington e destaca que o ataque é fruto “uma importante negligência das tropas americanas e viola o direito de guerra”.

Segundo a MSF, pouco depois de iniciado o bombardeio foram feitas ligações a uma base militar americana para notificar que instalações médicas onde havia doentes em tratamento estavam sendo atacadas.

“O ataque era dirigido a matar e destruir”, destacou a ONG, que não parece estar satisfeita com a forma como os Estados Unidos lideraram com o terrível incidente que, inclusive, obrigou o presidente Barack Obama a ligar do Salão Oval para a presidente internacional da Médicos sem Fronteiras, Joanne Liu, para pedir desculpas.

Ao contrário, o governo americano parece convencido de ter agido de forma transparente. Seis meses depois do drama, “o presidente está persuadido de que esta investigação foi conduzida de forma objetiva”, destacou o porta-voz da Casa Branca, Josh Earnest.

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