A música do compositor polonês Krzysztof Penderecki é marcada por tantas idas e vindas que é difícil defini-la. Ou talvez seja preciso buscar tal definição longe das referências colocadas pelas vanguardas sobre a música do século 20 e 21 – e se voltar ao próprio artista. “Minha obra, se é preciso defini-la, é pautada por aquilo que me pareceu importante ao longo de toda a minha trajetória. O desejo de ser livre, e poder criar a partir disso, é algo que sempre senti com força”, explica o músico.

Penderecki, aos 83 anos, é um dos mais importantes nomes da composição recente em todo o mundo. E esta semana se apresenta no Brasil, à frente da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, em três concertos, nesta quinta, 14, sexta-feira, 15, e sábado, 16. Ao seu lado, estará a violinista alemã Isabelle Faust, artista em residência da temporada deste ano da Osesp, que além de atuar com a orquestra faz, no domingo, 17, uma das apresentações mais aguardadas do ano, com o ciclo das seis sonatas e partitas para violino solo de Bach.

Nos concertos, Penderecki vai reger o Concerto para violino de seu conterrâneo Szymanowski e, em seguida, duas peças suas: o Hino a São Daniel, escrito para celebrar os 850 anos de Moscou, e a Sinfonia n.º 4, comemorativa dos 200 anos da Revolução Francesa. Os episódios que inspiraram as obras são importantes porque, na carreira de Penderecki, música e atenção aos episódios políticos e sociais sempre estiveram ligadas. Nos anos 1960, por exemplo, ele escreveu a Trenódia em homenagem às vítimas de Hiroshima. Do início dos anos 1980, o Réquiem polonês foi descrito por ele como “retrato do sofrimento de um país sob o regime soviético” – e nasceu de uma encomenda do Solidariedade, sindicato de trabalhadores liderados por Lech Walesa, símbolo da resistência civil ao governo polonês.

Falando das obras de seus concertos em São Paulo, o compositor, no entanto, prefere enxergá-las à luz de um olhar bastante pessoal. O concerto para violino de Szymanowski, por exemplo, ele lembra, foi a primeira peça que tocou como violinista na juventude. E o Hino a São Daniel também o leva de volta aos seus anos de formação. “Vivendo no Leste Europeu, viajar para o Ocidente era algo improvável. Nós íamos, então, para a Rússia e eu me formei musicalmente ouvindo as grandes orquestras daquele período, algo que carrego no coração até hoje. É por isso que acho que o programa que vou reger em São Paulo é, acima de tudo, afetivo”, revela também.

Mas se é preciso falar da obra de Penderecki no contexto da produção musical do século 20, o que talvez melhor o defina é a tentativa de encontrar uma possibilidade de diálogo entre a tradição e a inovação. Não é algo que agrade a boa parte das vanguardas, para quem ele, após um início de carreira pautado pela experimentação, acabou se voltando para uma linguagem mais conservadora. Mas o próprio compositor coloca essa questão em perspectiva. “Nunca acreditei na experimentação como um fim em si próprio. Se me aproximei da vanguarda no início foi porque aquelas técnicas de composição me permitiam uma sensação de liberdade perante a ideia de música proposta pelo realismo soviético”, ele explica, ressaltando que o mesmo desejo de liberdade o afastaria mais tarde de qualquer dogma preestabelecido. Não, porém, como uma afirmação estética ou política, mas como fruto de sua personalidade como artista. Ele dá um exemplo. “Escrever música sacra na Polônia comunista, claro, era algo diferente, este não era um repertório bem aceito. Mas se me dediquei a ele foi, antes de mais nada, porque aquilo fazia sentido para mim”, acrescenta Penderecki.

OSESP E PENDERECKI

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As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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