O conhecimento total sobre o funcionamento do cérebro permanece sendo para a medicina a última e mais difícil fronteira. Faltam informações que ajudem a fechar o quebra-cabeça que consiste o complexo órgão humano. Aos poucos, porém, os avanços estão ocorrendo. Na semana passada, cientistas das universidades de Bristol e da Central Lancashire, na Inglaterra, anunciaram ao mundo o encontro de uma peça fundamental para o entendimento da engenharia cerebral, descoberta que terá impacto na forma de estudar e formular terapias para melhorar o aprendizado, a memória e doenças neurológicas como a demência, o Parkinson e também enfermidades psiquiátricas, entre elas a depressão.

Os pesquisadores encontraram mais um fator desencadeante das sinapses, o mecanismo por meio do qual as informações são transmitidas de um neurônio a outro. Sem ele, nenhuma das cem bilhões de células nervosas presentes no cérebro conseguiria se comunicar com outra, o que simplesmente inviabilizaria qualquer ação. Trata-se de um esquema sofisticado composto por várias etapas e substâncias e que, de tão vital, precisa ser completamente compreendido. Erros na sua execução levam a deficiências em todas as funções desempenhadas pelo cérebro. Por essa razão, saber como nascem e são desenvolvidas as sinapses é há décadas um dos grandes desafios da neurociência e, também por este motivo, o achado dos cientistas ingleses foi tão comemorado pela comunidade científica.

GRANDE IMPACTO

Em um artigo publicado na última edição da Nature Neuroscience – revista na qual são divulgados apenas trabalhos de extrema relevância científica -, os pesquisadores descreveram o importante papel de um receptor celular no desencadeamento das sinapses. Receptores são uma espécie de fechadura presente nas membranas das células onde determinadas substâncias se encaixam, formando um modelo perfeito de chave-fechadura. Conhecia-se a função de dois outros receptores e o terceiro anunciado agora representa a peça que faltava. “O principal objetivo do nosso trabalho era descobrir o mecanismo por trás do processo pelo qual as conexões entre os neurônios são aprimoradas para permitir o desempenho de habilidades como a cognição, o aprendizado e a memória”, disse à ISTOÉ o cientista Jeremy Henley, professor de Neurociência Molecular da Universidade de Bristol e principal autor do trabalho.“A informação que obtivemos é decisiva para entendermos de que maneira as sinapses são orquestradas e os circuitos neuronais formados e mantidos.”

Parceiro de Henley na pesquisa, Milos Petrovic, da Universidade Central Lancashire, vislumbra o impacto da descoberta. “É um achado extremamente importante e que afetará a todos”, disse. “Acabamos de encontrar um alvo fundamental para o bom funcionamento cerebral. Poderemos criar drogas que ajudem a curar doenças devastadoras como o Alzheimer, caracterizado por perdas de sinapses” Na lista de enfermidades cujos tratamentos deverão ser beneficiados estão ainda males como a epilepsia.

TRANSMISSÃO EFICIENTE

O cérebro humano tem 100 bilhões de células nervosasCada uma faz cerca de 10 mil conexões com outras células, chamadas de sinapsesPor meio delas são transmitidas informações entre os neurônios

• Um processo chamado potenciação de longa duração (PLD) aumenta a força do fluxo de informações entre as sinapses, tornando mais eficiente a transferência de dados entre um neurônio e outro

• Este mecanismo é como o cérebro trabalha a nível celular para permitir o aprendizado e a memorização

• Quando algo dá errado na sua evolução, pode haver o desenvolvimento de doenças neurológicas ou psiquiátricas

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O QUE OS PESQUISADORES INGLESES DESCOBRIRAM

Um novo tipo de PLD induzida por receptores de glutamato, uma das substâncias que fazem a transmissão de dados entre as células nervosas

A informação foi considerada peça vital para o entendimento das sinapses e o desenvolvimento de terapias contra doenças como o Alzheimer e a depressão