Paris está sofrendo o pior e mais prolongado episódio de poluição invernal dos últimos dez anos, o que levou à adoção de um questionado rodízio de veículos que entrará no terceiro dia consecutivo na quinta-feira.

Este episódio se deve a um aumento na emissão de partículas causado pelo tráfego e pela calefação com lenha, e por persistentes condições meteorológicas – clima frio e poucos ventos – que dificultam a dispersão destes elementos, indicou nesta quarta-feira o organismo de vigilância de qualidade do ar na capital francesa, Airparif.

A “superação do nível de alerta por poluição com partículas”, ou seja, uma concentração superior a 80 microgramas/m3 de partículas finas no ar, ocorre há uma semana e se prolongará na quinta-feira, segundo a agência.

O dia 1º de dezembro, quinta-feira, bateu recordes de poluição, com concentrações máximas de 146 microgramas/m3. Na quarta-feira, estas baixaram para 91 microgramas/m3.

Pela quarta vez em 20 anos, as autoridades francesas impuseram na terça e nesta quarta-feira um rodízio de automóveis em Paris e seus arredores, para tentar combater a poluição.

Os veículos com placas pares puderam circular na terça-feira, e os com placas ímpares nesta quarta, além dos automóveis com ao menos três ocupantes e os que têm alguma derrogação.

Para desincentivar o uso de veículos privados, as autoridades estabeleceram a gratuidade dos transportes públicos de Paris e região, impuseram limites de velocidade nos grandes eixos viários e proibiram os caminhões de transitar pela capital, entre outras medidas.

A poluição também afetou na terça-feira as cidades de Lyon (centro-leste), e as regiões próximas de Chambéry e Annecy.

Mortes prematuras

Apesar das medidas adotadas, houve engarrafamentos nos arredores da capital, em parte devido a um problema na linha ferroviária que liga Paris ao aeroporto de Roissy, a segunda mais utilizada da Europa, com cerca de 900.000 passageiros por dia. As autoridades esperavam que o funcionamento da linha fosse restabelecido no final da tarde.

A eficácia do rodízio é questionada por um relatório parlamentar que ressalta que este dispositivo “não se destina aos veículos mais poluentes”. Um novo sistema que já está sendo testado em algumas cidades da França deverá substituí-lo no início de 2017.

Na quarta-feira, o candidato presidencial ecologista Yannick Jadot defendeu a adoção de medidas voltadas para os veículos mais poluentes e para o diesel, que domina a frota de automóveis da França.

A poluição também afeta outras capitais, como Pequim, Teerã, Santiago e Nova Délhi. No mês passado, a capital indiana, a cidade mais poluída do mundo, registrou um episódio extremo no qual os moradores foram surpreendidos pela fumaça dentro de casa.

As partículas finas são especialmente nocivas para a saúde. Podem causar câncer, asma, alergias ou doenças respiratórias ou cardiovasculares. O dióxido de nitrogênio, emitido sobretudo por motores a diesel, provoca asma e doenças pulmonares nas crianças.

A poluição provoca, ainda, dores de cabeça e ardência nos olhos, motivo pelo qual os estudantes de Paris foram proibidos de fazer exercícios físicos ao ar livre.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a poluição do ar é responsável por 42.000 mortes prematuras na França por ano.