Biólogo e técnico de enfermagem, Jeová Silva, de 41 anos, se considera a pessoa mais famosa de sua cidade, a pequena Santa Luzia do Pará, no Norte do Estado e a 200 quilômetros de Belém. A notoriedade se deve à sua paixão pelo Rock in Rio. Desde 2001 ele vai ao festival, que aprendeu a amar ainda menino, pelas transmissões televisivas. Em todas as edições, Silva acampa em frente à Cidade do Rock, sempre com o objetivo de estar o mais perto possível do palco principal. Dessa vez, chegou uma semana antes da abertura dos portões, e instalou sua bandeira preta, com o nome das atrações preferidas bordado, numa das grades de proteção do terreno.

Como ainda não tem concorrência, Silva está hospedado numa colônia de pescadores da Barra da Tijuca, e passa apenas parte do dia marcando seu primeiro lugar na fila. Planeja montar sua barraca só nesta quinta-feira, 14, véspera do primeiro dia de shows, quando mais gente deve chegar. Como companhia, espera amigos que fez em sua estreia no festival, há seis anos. Eles mantêm contato pelas redes sociais. “Acho que sou o maior fã do Rock in Rio no Pará. Todo mundo lá me acha maluco, mas eles também queriam vir, só não têm dinheiro e coragem”, brinca.

A aventura carioca está lhe custando R$ 8 mil, dinheiro que estava guardado para reformar sua casa. Só com ingressos para seis dias de festival – o descanso será dia 17 – gastou R$ 2.888. Silva trabalha num hospital e só tira férias em setembro, mês do Rock in Rio. O planejamento dura dois anos: acaba uma edição, ele já começa a pensar na próxima.

Este ano, sua grande expectativa é rever o Guns N’ Roses e o Red Hot Chili Peppers, aos quais já assistiu no mesmo festival, e curtir também The Offspring, Def Leppard, Bon Jovi, Maroon 5 e Tears for Fears. “Sou eclético”, justifica Silva, que vai usar a sexta-feira, dia pop que tem como atração principal a cantora Lady Gaga, que o interessa menos, para explorar a Cidade do Rock.

Na terça, 12, ele já pôde conhecer as novas instalações, no Parque Olímpico, abertas a convidados pela organização. Achou “estupendas”. Passou 5h30 brincando nos brinquedos, passeando e tirando fotos. “Coloquei mais de cem no Facebook. O Rock in Rio é único. Quando os portões se abrem e eu ouço a música-tema (“se a vida começasse agora…”), qualquer problema da vida acaba na hora, vem a adrenalina. As pessoas deveriam tirar o chapéu para o Roberto Medina (idealizador do festival). Trouxe uma camiseta com a bandeira do Pará que queria dar de presente para ele”.

Para o paraense, só tem graça ver show colado à grade, mesmo que isso signifique ficar praticamente sem poder se mover por doze horas. A alimentação ele leva numa bolsa – sanduíche e biscoitos. Para beber, conta com a água distribuída em galões gratuitamente. “Xixi a gente faz nos infláveis em formato de martelo dados pela produção. Nunca passei mal”, gaba-se.

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Sol de meio-dia na cabeça, o técnico de enfermagem diz não se importar com o calor que enfrenta em frente à Cidade do Rock. “No Pará faz mais calor, e o vento também é quente; aqui a brisa é fresca”, explica Silva. Ele conta que destoa de seus conterrâneos no gosto musical. “Lá as pessoas ouvem só brega e forró. Sou roqueiro. Comecei a ouvir criança e me apaixonei pelo Guns N’ Roses. Em 2001, quando o Rock in Rio voltou, eu queria ter vindo, mas minha mulher estava grávida e não deixou. Em 2011, adiei a compra de um carro para custear a viagem. Na próxima quero trazer meu filho.”


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