Eles vão à missa, suas casas estão tomadas de figuras religiosas e honram a Deus como seu pai, mas os católicos ultraconservadores da Colômbia consideram “non grata” a visita do Papa Francisco.

É um Papa “ilegítimo”, dizem em coro. Apesar de reconhecer que são minoria, exercem influência política e difundem sua mensagem por canais de operadoras de televisão por assinatura.

Suas opiniões causam alvoroço em um país de 48 milhões de habitantes e de maioria católica, que o pontífice visitará a partir de quarta-feira (6) para apoiar a paz e a reconciliação nacional.

“Como dizem os diplomatas, a visita é ‘non grata’. Por que é ‘non grata’? Porque um falso Papa, um falso profeta de Deus, em vez de trazer bênçãos para o país, deve trazer maldições e males”, afirma à AFP O ex-aspirante à candidato presidencial José Galat.

Apresentador de um programa semanal, com uma audiência de 400.000 pessoas, Galat, de 89 anos, questiona as declarações de Francisco e acredita que o pontífice argentino não respeita o Evangelho, nem a autoridade de Cristo.

Os “ultraconservadores” se abstêm de chamá-lo de Santo Padre, Sumo Pontífice, ou papa. Para eles, é somente Bergoglio, o falso profeta que, segundo a Bíblia, outorga poderes a Satanás no final dos tempos.

Eles garantem que sua eleição como alto hierarca foi o resultado de uma confabulação mafiosa e reformista. E o apontam como populista, maçom, marxista, ou iluminista, características desestimadas pelo Vaticano.

Pelos comentários e opiniões de Galat, a Conferência Episcopal da Colômbia publicou um comunicado no final de julho, criticando-o por “ferir gravemente a comunhão da Igreja” e incorrer e induzir outros a um cisma.

– Sem concessões –

Há 24 anos, nasceu em Bogotá a Corporação Belém Casa Fraterna. Sua sede fica em um setor residencial do noroeste da cidade, onde dezenas de fiéis de todas as idades se reúnem entre segunda-feira e sábado.

Trata-se de uma casa tradicional de dois andares, com fachada branca, em cujas paredes há retratos e fotografias de João Paulo II, de Paulo VI e da Virgem Maria. Também há uma biblioteca com títulos como “O reino do anticristo” e “Profecia assombrosa. O hoje e o que vem”.

Bento XVI – que se aposentou em 2013 – é para eles o único papa legítimo. Sobre Jorge Mario Bergoglio dizem o que vem à cabeça e usam suas imagens para denunciar as mensagens subliminares em sua roupa, ou supostos símbolos maçons, ou iluministas, nos acessórios.

Com um silêncio reverencial, ouvem o presidente da Corporação, Rafael Arango. De costas para um crucifixo, ele se senta no meio de uma mesa retangular para transmitir sua mensagem.

Francisco tem “uma popularidade impressionante, porque é o que a gente quer ouvir: que o pecado não é pecado, que todo mundo pode comungar”, explica Arango.

No começo, esse advogado e cientista político de 78 anos e com um passado ateu, seguiu as mensagens de Francisco, mas se desencantou. Segundo ele, trata-se de uma corrente reformista dentro da Igreja que se afasta do dogma cristão.

“Um papa não pode exceder a palavra de Deus, nem modificá-la, nem reformá-la. A única coisa que é imutável e eterna é a Bíblia”, assegura.

– ‘Populista de fé’ –

Para os ultraconservadores, os atos e as declarações de Francisco alteram a fé.

Não o perdoam por se contrapor ao escrito na Bíblia, como apontar que todo mundo pode se salvar, negar a existência do inferno, mostrar-se partidário de dar mais espaço à mulher na Igreja e se aproximar de gays e divorciados.

“É um populista da fé. Quer agradar a todo mundo”, indica Galat.

Por enquanto, esse grupo de fiéis não pretende boicotar a visita do papa, apenas ignorá-lo.

Francisco “acha que é mais importante aliviar a fome física do que levar a outros a palavra de Deus”, afirma Guillermo Rodríguez, de 36 anos, ocasional visitante da comunidade ortodoxa, antecipando que não assistirá a nenhum dos eventos de Francisco no país.

O líder da corporação pensa o mesmo.

“Deus me livre de assistir a um de seus eventos. Não posso ir contra minha própria consciência, nem contra a Bíblia, estou expondo minha alma”, alega.