A gestão do prefeito João Doria (PSDB) decidiu usar uma compensação ambiental devida por uma empresa que construiu um condomínio residencial no Morumbi, zona sul de São Paulo, para viabilizar a instalação do muro verde na Avenida 23 de Maio. O projeto, que começou a ser executado nesta semana, prevê o plantio de quase 10 mil metros quadrados de jardim vertical ao longo do corredor norte-sul, ao custo de R$ 9,7 milhões. A primeira fase, na altura do Viaduto Tutoia, deve ser concluída em 30 dias.

O muro verde foi anunciado por Doria no fim de janeiro, logo após a Prefeitura ter coberto os grafites da 23 de Maio com tinta cinza. Na ocasião, a gestão ainda não sabia como financiar o projeto, que poderia ter investimento público e doações de empresários. Em fevereiro, contudo, o Município decidiu usar o saldo de compensação ambiental da empresa Tishman Speyer, que cortou 856 árvores de um terreno no Morumbi para construir três torres com apartamentos de alto padrão. Como contrapartida, a empresa se comprometeu a construir oito jardins verticais.

Implementada pela gestão do ex-prefeito Fernando Haddad (PT), em 2015, a adoção de jardins verticais é elogiada por biólogos e ambientalistas, mas recebe críticas quando feita para compensar o corte de árvores nativas e exóticas. A compensação já foi questionada até pelo atual secretário municipal do Verde e do Meio Ambiente, Gilberto Natalini, que assinou um termo aditivo permitindo a prática no muro da 23 de Maio. Segundo críticos, o plantio de mudas em paredes, além de mais caro, tem um ganho ambiental inferior ao do replantio.

“O muro verde é como um paciente na UTI. Ele custa muito caro, precisa de manutenção permanente e não sequestra carbono como as árvores. Nós estimamos que o serviço ambiental prestado por duas árvores corresponde a cerca de 1,5 mil metros quadrados de parede verde. A diferença é absurda”, afirma o biólogo Marcos Buckeridge, pesquisador do Instituto de Biociências e do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo (USP).

Ou seja, para compensar as 856 árvores derrubadas no Morumbi seriam necessários 642 mil metros quadrados de muro verde, 64 vezes mais do que o projeto da 23 de Maio. “É um caso típico de greenwashing (termo em inglês usado para descrever ações ambientalmente enganosas). Uma árvore dura centenas de anos e, após um período, vive sozinha, enquanto que a planta de parede, além do passivo ambiental de toda estrutura que a acompanha, precisa de irrigação artificial, caso contrário morre. Não se pode substituir uma coisa pela outra. Estão suprimindo o patrimônio ambiental e compensando com algo provisório”, afirma o ambientalista Nik Sabey. A gestão Haddad diz que a medida é benéfica para a cidade pois os jardins funcionam como isolante térmico.

Alteração. O Termo de Compensação Ambiental (TCA) do condomínio no Morumbi foi assinado em 2012, ainda na gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD), e previa como contrapartida pelo corte de quase 900 árvores a conversão de 26.281 mudas compensatórias, equivalentes a cerca de R$ 13 milhões, em obras para instalação de quatro parques lineares na zona sul: Horto do Ipê, Paraisópolis, Morumbi Sul e Itapaiuna.

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Em 2015, porém, a gestão Haddad alterou o TCA, permitindo que a compensação fosse feita com a construção de oito jardins verticais nas empenas cegas de edifícios privados na região do Minhocão. O saldo remanescente seria depositado pela empresa no Fundo Especial do Meio Ambiente (Fema) para a manutenção da vegetação após vencido o prazo de seis meses em que a própria empresa arca com os custos. Cinco jardins já foram implementados. Agora, a gestão Doria mudou o TCA para que o saldo de R$ 9,7 milhões seja usado no muro da 23 de Maio e não mais em prédios privados. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


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