01/09/2016 - 22:00
32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva/Pavilhão da Bienal, SP/ de 7/9 a 11/12
Não se trata de fuga, muito menos de escapismo. Pelo contrário. A curadoria da 32ª Bienal de São Paulo argumenta que para lidar com as grandes questões do nosso tempo – entre elas o aquecimento global, a instabilidade econômica e política, as migrações e o avanço da xenofobia – é preciso desvincular a incerteza do medo e encarar o desconhecido. Em “Incerteza Viva”, título da exposição que abre na quarta-feira 7, no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, 81 artistas de 33 países propõem interrogações a tudo aquilo que consideramos conhecido.
O interesse em relação aos sistemas de conhecimento indígenas são a primeira demonstração de abertura ao campo das incertezas. Isso se manifesta logo na entrada da megaexposição, onde está instalada “Ágora: OcataperaTerreiro” (2016), de Bené Fonteles, cercada por um monumental conjunto de esculturas de Frans Krajberg feitas de cipós, troncos e raízes. É essa oca sincrética, feita com materiais usados em construções indígenas e caboclas, que dará as boas-vindas ao público, oferecendo uma programação contínua de encontros, concertos musicais e rituais, com convidados como o líder indígena Airton Krenak, o músico Egberto Gismonti e o artista Ernesto Neto.
Outros três artistas da 32ª Bienal elaboram ecoconstruções. A finlandesa Pia Lindman assimila práticas centenárias de comunidades rurais em um ambiente imersivo onde irá realizar um tratamento terapêutico para os visitantes. A partir de estudos de construções de povos da Amazônia, a peruana Rita Ponde de León elaborou uma escultura penetrável que será “ativada” por um dançarino de butô. A instalação “Dois Pesos, Duas Medidas” (2016), da brasileira Lais Myrrha, ocupa o espaço icônico do Pavilhão da Bienal, junto à rampa central. É composta por duas torres, uma feita com materiais empregados em construções indígenas, e a outra com materiais da construção civil brasileira. No coração da Bienal, os dois totens de Lais Myrrha colocam em condição de igualdade a lógica da cultura ocidental e a sabedoria ancestral.
A natureza e seus processos biológicos, botânicos, alquímicos, paisagísticos e alimentícios é outro forte viés da exposição. Há, por exemplo, algumas hortas cultivadas dentro do pavilhão e nos arredores. A portuguesa Carla Filipe montou na Praça das Bandeiras uma horta de PANCs (Plantas Alimentícias Não-Convencionais), que serão colhidas pelo paulista Jorge Menna Barreto para utilização em sua escultura ambiental “Restauro” (2016). O projeto, um restaurante cujo cardápio prioriza o reino vegetal, certamente será um dos grandes destaques de “Incerteza Viva”. Conta com colaboração da chef Neka Menna Barreto e parcerias de redes de produção de alimentos sustentáveis como agroflorestas, produtores orgânicos e sistemas dedicados à recuperação de solos e da biodiversidade. Aberto de setembro a dezembro no mezanino da bienal, o Restauro servirá na hora do almoço um PF vegetariano a R$ 12, potencializando a pegada popular dessa edição.
Com a curadoria multicultural de Jochen Volz (Alemanha/Brasil), Gabi Ngboco (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca/ Espanha) e Sofía Olascoaga (México), a exposição coloca em foco sistemas alternativos de pensamento e transfere para o espaço sua preocupação ecológica ao organizar a montagem das obras como “bosques” e “parques”, dentro do raciocínio paisagístico do jardim.