32ª Bienal de São Paulo – Incerteza Viva/Pavilhão da Bienal, SP/ de 7/9 a 11/12
SABERES Instalação móbile de Carolina Caycedo, realizada com redes de pesca de populações ribeirinhas brasileiras
SABERES Instalação móbile de Carolina Caycedo, realizada com redes de pesca de populações ribeirinhas brasileiras (Crédito:Fotos: Pedro Ivo Trasferetti/ Fundação Bienal de São Paulo)

Não se trata de fuga, muito menos de escapismo. Pelo contrário. A curadoria da 32ª Bienal de São Paulo argumenta que para lidar com as grandes questões do nosso tempo – entre elas o aquecimento global, a instabilidade econômica e política, as migrações e o avanço da xenofobia – é preciso desvincular a incerteza do medo e encarar o desconhecido. Em “Incerteza Viva”, título da exposição que abre na quarta-feira 7, no Pavilhão da Bienal, no Ibirapuera, 81 artistas de 33 países propõem interrogações a tudo aquilo que consideramos conhecido.

O interesse em relação aos sistemas de conhecimento indígenas são a primeira demonstração de abertura ao campo das incertezas. Isso se manifesta logo na entrada da megaexposição, onde está instalada “Ágora: OcataperaTerreiro” (2016), de Bené Fonteles, cercada por um monumental conjunto de esculturas de Frans Krajberg feitas de cipós, troncos e raízes. É essa oca sincrética, feita com materiais usados em construções indígenas e caboclas, que dará as boas-vindas ao público, oferecendo uma programação contínua de encontros, concertos musicais e rituais, com convidados como o líder indígena Airton Krenak, o músico Egberto Gismonti e o artista Ernesto Neto.

SINCRETISMO Escultura de madeira de queimada e pigmentos naturais, de Krajcberg, e a “Ágora: OcaTaperaTerreiro”, de Bené Fonteles
SINCRETISMO Escultura de madeira de queimada e pigmentos naturais, de Krajcberg, e a “Ágora: OcaTaperaTerreiro”, de Bené Fonteles (Crédito:Fotos: Pedro Ivo Trasferetti/ Fundação Bienal de São Paulo)

Outros três artistas da 32ª Bienal elaboram ecoconstruções. A finlandesa Pia Lindman assimila práticas centenárias de comunidades rurais em um ambiente imersivo onde irá realizar um tratamento terapêutico para os visitantes. A partir de estudos de construções de povos da Amazônia, a peruana Rita Ponde de León elaborou uma escultura penetrável que será “ativada” por um dançarino de butô. A instalação “Dois Pesos, Duas Medidas” (2016), da brasileira Lais Myrrha, ocupa o espaço icônico do Pavilhão da Bienal, junto à rampa central. É composta por duas torres, uma feita com materiais empregados em construções indígenas, e a outra com materiais da construção civil brasileira. No coração da Bienal, os dois totens de Lais Myrrha colocam em condição de igualdade a lógica da cultura ocidental e a sabedoria ancestral.

TÓTENS “Dois Pesos, Duas Medidas”, instalação de Lais Myrrha no vão central da Bienal
TÓTENS “Dois Pesos, Duas Medidas”, instalação de Lais Myrrha no vão central da Bienal (Crédito:Fotos: Pedro Ivo Trasferetti/ Fundação Bienal de São Paulo)

A natureza e seus processos biológicos, botânicos, alquímicos, paisagísticos e alimentícios é outro forte viés da exposição. Há, por exemplo, algumas hortas cultivadas dentro do pavilhão e nos arredores. A portuguesa Carla Filipe montou na Praça das Bandeiras uma horta de PANCs (Plantas Alimentícias Não-Convencionais), que serão colhidas pelo paulista Jorge Menna Barreto para utilização em sua escultura ambiental “Restauro” (2016). O projeto, um restaurante cujo cardápio prioriza o reino vegetal, certamente será um dos grandes destaques de “Incerteza Viva”. Conta com colaboração da chef Neka Menna Barreto e parcerias de redes de produção de alimentos sustentáveis como agroflorestas, produtores orgânicos e sistemas dedicados à recuperação de solos e da biodiversidade. Aberto de setembro a dezembro no mezanino da bienal, o Restauro servirá na hora do almoço um PF vegetariano a R$ 12, potencializando a pegada popular dessa edição.

Com a curadoria multicultural de Jochen Volz (Alemanha/Brasil), Gabi Ngboco (África do Sul), Júlia Rebouças (Brasil), Lars Bang Larsen (Dinamarca/ Espanha) e Sofía Olascoaga (México), a exposição coloca em foco sistemas alternativos de pensamento e transfere para o espaço sua preocupação ecológica ao organizar a montagem das obras como “bosques” e “parques”, dentro do raciocínio paisagístico do jardim.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias