A dona de casa Janiele Job Albuquerque, de 35 anos, que acorrentou o filho de 17 anos ao próprio corpo para impedi-lo de consumir crack, em Itapetininga, interior de São Paulo, correu o risco de ser morta, por causa dos furtos praticados pelo rapaz e das dívidas com drogas. “As pessoas vieram para pegar meu filho. Se quiserem pegar, vão ter de me pegar também, por isso amarrei ele em mim.” Mãe de mais três filhos, ela tenta refazer a vida da família, destruída pelo vício do adolescente.

Até ser internado, no dia 7, em uma clínica de recuperação, ele transformou a casa da avó em um espaço vazio. “Ele vendeu tudo, trocou tudo por droga e, quando não tinha nem uma lâmpada na casa, passou a furtar os vizinhos. Foi aí que pensei: ‘Ou prendia ou iriam matá-lo”, conta Janiele. Ela usou uma corrente de seis metros para amarrar o filho ao próprio corpo. O caso chamou a atenção da clínica e o garoto está em tratamento.

Os estragos que deixou para trás afligem Janiele. “Preciso refazer a casa da minha mãe, que tem 62 anos, está sozinha e doente. Fui eu que pedi para ela ficar com meu filho e, coitada, não conseguiu segurar ele.” O garoto voltou a morar com a avó depois de ter criado problemas no trabalho do padrasto, em uma fazenda em Mato Grosso do Sul, de onde foi expulso.

A mãe conta que ele bebia, usava drogas e arrumava briga com outros funcionários. “Meu marido estava a ponto de ser mandado embora por causa dele, então resolvi levá-lo de volta para a casa da minha mãe, em Itapetininga (em um bairro de periferia em Itapetininga)”

O adolescente se lembra de ter chegado de Mato Grosso do Sul com R$ 70 no bolso. “Ia fumar só uma (pedra de crack), mas quando vi já tinha fumado todo o dinheiro. Aí comecei a pegar as panelas de casa e vender como sucata de alumínio. Comecei a mexer na casa dos outros, na vizinhança. Tirava até lâmpada, puxei os fios de casa e das outras casas e vendi”, disse ele à reportagem.

Desesperada, a avó telefonou para Janiele, pois os vizinhos foram à casa em busca do rapaz. Ao desembarcar na cidade, ela passou por uma loja de material de construção e comprou a corrente. “As pessoas tinham ameaçado e, quando vi ele drogado, querendo sair, disse: ‘Você vai ficar aqui comigo, na corrente. Coloque agora ou vou chamar a polícia.’ Ele colocou, só que no dia seguinte sentiu falta da droga e começou a me xingar e ameaçar. No outro dia, falou em me dar uma facada, pegou um machado e pôs embaixo do sofá”, conta Janiele.

“Veio um monte de gente pra me bater. Minha mãe falou que ia me acorrentar e eu não acreditava. Ela pegou uma correntona e me prendeu. Eu tinha mexido na casa de uma moça e os parentes dela vieram me pegar. Foram três dias amarrado”, diz ele.

Nova chance

Quando a mãe já pensava em entregar o filho à polícia, uma clínica telefonou. “O dono chegou com três seguranças, conversou e convenceu a ir com eles.” A família, diz, não tinha dinheiro para pagar uma clínica e fugia do Centro de Atendimento Psicossocial (Caps). O garoto usa drogas desde 12 anos e, por causa do vício, nunca parou em nenhuma escola. “Ele só estudou até o terceiro ano (do fundamental).”

O proprietário da clínica Luz do Mundo, Pedro Henrique Araújo, disse que o rapaz tem dependência grave e pode ficar internado até nove meses. “O bom é que ele está aceitando o tratamento, participa das atividades e manifesta intenção de ficar longe das drogas.”

A clínica, em Bady Bassit, região de São José do Rio Preto, tem 60 dependentes internados e reserva 10% das vagas para atendimento social.

O adolescente tem tratamento gratuito. A mãe tem de bancar as viagens e roupas. “Quando sair, vamos fazer o acompanhamento dele”, promete Araújo.

O rapaz diz que pretende aproveitar a nova oportunidade. “Quero sair daqui bom, arrumar um serviço para ajudar minha avó e minha família. Chega desta vida. Amo muito minha mãe e minha avó. Vou me cuidar.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.