Aeleição suplementar para o governo do Amazonas tinha tudo para ser um bom termômetro para 2018. Depois de descoberto o escândalo de corrupção por compra de votos em 2014 que culminou na cassação do ex-governador José Melo (PROS), e de seu vice, Henrique Oliveira (SD), os amazonenses tiveram uma nova chance de eleger seus representantes no último domingo 6. A surpresa, no entanto, foi a ausência de candidatos que expressassem mudanças. Dos nove nomes que disputaram o primeiro turno, os dois candidatos que disputarão o cargo no próximo dia 27, em segundo turno, Amazonino Mendes (PDT) e Eduardo Braga (PMDB), são figuras conhecidas do eleitorado, após aparecerem no noticiário sobre a Lava Jato e outras investigações policiais.

Mendes, que teve 38,77% dos votos, é o representante da velha política do Amazonas. Governou o estado por três vezes e por outras três foi prefeito de Manaus – em um de seus mandatos como prefeito, chegou a ter sua cassação determinada pela Justiça. Em 2015, o político teve seus bens bloqueados pelo Ministério Público por suspeita de fraude em contratos na implantação do sistema de engenharia de trânsito na capital do Estado. Seu concorrente, Braga, foi seu sucessor no governo estadual e administrou o Amazonas pelo período de 2003 a 2010, e teve 25,36% dos votos no primeiro turno. O ex-líder do governo da ex-presidente Dilma, e também seu ex-ministro, é alvo da Lava Jato por suspeita de receber R$ 1 milhão em propina da Odebrecht quando ainda era governador. “As eleições do Amazonas deixam claro que nem sempre o que acontece no Congresso repercute na opinião pública”, afirma Leandro Consentino, cientista político e professor do Insper. “De um lado há a indignação que não se converte em mudança no voto, e de outro uma apatia derivada da completa falta de perspectiva na política brasileira.” O nível de abstenção, apesar de estar dentro do esperado pela Justiça Eleitoral, pode ser um sinal da crise de perspectiva. Dos mais de 2,3 milhões de eleitores aptos a votar, 24,14%, ou seja, quase 550 mil eleitores, não compareceram às urnas.

PT EM BAIXA

Em terceiro e em quarto lugar ficaram Rebecca Garcia (PP), com 18,06% dos votos, e José Ricardo (PT), com 12,17%. Em 2014, o PT não teve candidato ao governo do Amazonas, mas a presidente Dilma Rousseff teve mais de 65% dos votos dos amazonenses no segundo turno. “A população puniu a ex-presidente Dilma pela associação entre a gênese da crise econômica e a corrupção, e isso acabou resvalando no PT agora”, afirma Consentino. A senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT, participou de eventos com o candidato da sigla e chegou a dizer que José Ricardo é um “exemplo de enfrentamento para uma sigla abalada após uma perseguição sistemática nos últimos três anos”.

ABSTENÇÃO Dos mais de 2,3 milhões de eleitores aptos a votar, quase 550 mil não compareceram às urnas (Crédito:Suamy Beydoun)

No Amazonas os políticos novos não tiveram preferência entre os eleitores

Entre os presidenciáveis para 2018, apenas Marina Silva visitou o Amazonas para apoiar o candidato da Rede. Para Jerson Carneiro, professor de direito administrativo e gestão do Ibmec/RJ, foi um erro dos demais candidatos, que não estiveram no Estado. “É bom lembrar que Lula venceu com folga nas duas eleições no estado do Amazonas e ajudou Dilma a vencer tranquilamente também”, diz. A candidata Rebecca Garcia chegou a afirmar que a eleição no Amazonas “foi ignorada pelo Brasil, que não percebeu que ela se trata de uma prévia para 2018”. O recado dos amazonenses, na verdade, foi de alerta. “Sem uma liderança nova, com poder de articulação, e sem a capacidade das pessoas de transformar sua indignação em algo palpável na política, corremos o risco de termos mais do mesmo”, disse Consentino. Não seria a primeira vez.

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