Além de comandar um País ainda em crise, fruto do legado deixado pelo PT, o presidente Michel Temer está às voltas também com problemas caseiros, os quais precisa contornar para conseguir fazer a máquina deslanchar e aprovar projetos cruciais pela frente. Ele está tendo que equilibrar ministros ameaçados por delações premiadas, além do humor do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e o do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso preventivamente em Curitiba. A ameaça de uma delação de Cunha assombra o Palácio do Planalto. É como uma metralhadora carregada, com poder para atingir vários dos seus principais ministros.

Também é com apreensão que Temer acompanha o estado de espírito do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Apesar de não ser o mais amado pelo Palácio, Renan vem garantindo uma relação estável entre Legislativo e Executivo, mas se continuar tentando medir forças com o Judiciário, como fez na semana passada, o senador pode atrapalhar apreciações de matérias fundamentais ao governo, como a PEC do Teto de Gastos.

O que já era tenso piorou com a votação nesta semana, pelo Supremo Tribunal Federal, que decidirá se um réu pode se manter na linha sucessória da Presidência da República. O STF suspendeu a votação porque o ministro Dias Tóffoli pediu vistas. Mas seis integrantes da corte já haviam votado a favor da medida. O assunto não atinge Renan diretamente, pois, apesar de ele responder a 11 inquéritos, seu mandato se encerra em fevereiro e dificilmente o STF vai fechar questão até lá. A medida, porém, afetará a disputa pelo comando do Senado em 2017.

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Ministros na lista da odebrecht

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Depois de um início turbulento, marcado pelas saídas dos ministros Fabiano Silveira (Transparência), Romero Jucá (Planejamento), Henrique Eduardo Alves (Turismo) – os dois últimos por suposta relação com as denúncias da Lava Jato -, Temer não esperava ter de enfrentar novas instabilidades este ano. A agenda de Curitiba, no entanto, aquela que ninguém controla, poderá ser nova fonte de dor de cabeça para o governo. Quatro nomes do primeiro escalão de Temer são apontados por delatores como beneficiários do Petrolão. A situação deles pode piorar de vez se for confirmada a homologação do acordo de delação premiada de executivos da maior empreiteira do país, a Odebrecht. Entre as negociações em curso com o Ministério Público Federal e Procuradoria-Geral da República está a do próprio Marcelo Odebrecht, dono da empreiteira.

Os depoimentos de Marcelo e de outras dezenas de executivos da Odebrecht são comprometedores. Eles incluem na profusão de nomes citados alguns ministros do primeiro escalão, como Wellington Moreira Franco (Programa de Parceria de Investimentos), Eliseu Padilha (Casa Civil) e José Serra. Apesar de estar fora do radar da Odebrecht, Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) também está envolto em escândalo de corrupção.

Além de tisnar os principais quadros do ministério de Temer, o envolvimento de ministros e aliados do Palácio com pagamento de propina pode ter implicações nas pretensões do governo. O presidente deve encontrar dificuldade caso as denúncias contra seu pelotão de choque se confirmem e virem ações no Supremo. O maior reflexo está na intenção de Temer de colocar em pauta a tão necessária reforma da Previdência, que ainda não tem data para ser encaminhada ao Congresso. Além disso, a queda de quadros importantes ligados ao governo também atrapalharia a conclusão da votação no Senado da PEC que estabelece o limite para gastos públicos. A matéria passou com folga na Câmara, mas precisa seguir rito parecido no Senado.

Três dos principais articuladores dessas propostas no Congresso estão na mira da investigação. Eliseu Padilha, ministro-chefe da Casa Civil, se defende como pode da citação que Marcelo Odebrecht fez ao seu nome durante o pré-acordo com a força-tarefa da Lava Jato. O executivo teria afirmado que repassou de R$ 10 milhões ao PMDB e, desse total, aproximadamente R$ 4 milhões foram parar nas mãos de Padilha.

O que o governo mais teme é que possíveis denúncias atrapalhem
a conclusão da votação no Senado da PEC dos gastos

Outro que também está carimbado com a inscrição de investigado é Geddel Vieira Lima. Escalado para a articulação com o Congresso, Geddel foi envolvido na Lava Jato depois que a Polícia Federal interceptou mensagens de celular do empresário Lúcio Funaro. Apontado como operador de Cunha, Funaro acabou descoberto quando procurou Fábio Cleto, ex-vice-presidente da Caixa, para falar de Geddel. Em um dos diálogos entre os dois, eles reclamam da pressão de Geddel para aprovar uma operação de R$ 330 milhões à J.Malucelli Energia com recursos do FI-FGTS.

A lista de ministros do primeiro escalão que foram arrastados para o epicentro da Lava Jato tem ainda o titular das Relações Exteriores, José Serra (PSDB). A campanha do então candidato à Presidência da República em 2010 é apontada como a destinatária de um repasse de R$ 23 milhões feito pela empreiteira Odebrecht.

Na berlinda

Completam o time de citados na Lava Jato o ministro Moreira Franco. O executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho afirmou aos procuradores federais que ele recebeu R$ 3 milhões de propina para cancelar plano para a construção do aeroporto de Caiceiras (SP). A Polícia Federal também investiga se Moreira Franco favoreceu a Andrade Gutierrez em leilão do Aeroporto de Confins (MG).

Moreira Franco também está na mira de Eduardo Cunha, que encontra-se preso em Curitiba. Antes de seguir para a cadeia, Cunha chegou a declarar que ele estaria por trás de irregularidades na operação para financiar obras no Porto Maravilha, no Rio.

O ministro do Esporte, Leonardo Picciani, engrossa a lista de integrantes do governo envolvidos com irregularidades. Segundo declarou ao MPF a ex-funcionária da Carioca Engenharia, que é investigada na Lava Jato, a empresa adquiriu “vacas superfaturadas” da Agrobilara Comércio e Participações Ltda., empresa que tem como sócios o ministro e seus familiares. Parte do valor pago pelos animais foi devolvida para a Carioca.

Do outro lado da rua, no Senado, as denúncias da Lava Jato também podem minar a influência do governo no parlamento, o que afetaria as propostas encaminhadas pelo Planalto. Um dos pilares de Temer é o senador Romero Jucá. Mesmo depois de ser exonerado do Ministério do Planejamento em maio, por ter sido gravado pelo ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, conspirando contra a operação, Jucá continua com crédito. Além disso, o ex-diretor da Andrade Gutierrez Flávio Barra afirmou que Jucá recebia propina por intermédio da empresa Ibatiba Assessoria, Consultoria e Intermediação de Negócios. Os R$ 30 milhões que a empresa recebeu teriam sido desviados de obras da Usina Angra 3.

Fotos: André Coelho/Agência O Globo; Marcelo Camargo/Agência Brasil; Alan Marques/Folhapress; Bruno Santos/Folhapress; Pedro Ladeira/Folhapress