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ETs de Brasília

Atolados em impopularidade e descrédito, os nossos políticos continuam fornecendo evidências de que desprezam os riscos do seu divórcio litigioso com a opinião pública. Mais que isso, dia sim, outro também, dobram a aposta na certeza de que vencerão a queda de braço com a população, a despeito da crescente impaciência coletiva.

Quanto mais os cidadãos exigem mudanças nos padrões moral e ético de suas excelências, mais são afrontados pelos senhores das casas legislativas e da máquina pública. Há quem suspeite, não sem lógica, que esse alheamento decorre de um fenômeno cósmico: a política brasileira é dominada por seres de outro planeta, de forma física e fisiologia idênticas à humana, mas que se movem segundo outra ordem de interesses e valores. Faz sentido… Afinal, não fosse essa a razão, o que explica a absoluta falta de constrangimento na conduta cotidiana da avassaladora maioria dos parlamentares e governantes? Só nos últimos dias, três episódios deram substância a essa tese. No primeiro, o peemedebista Romero Jucá apresentou projeto proibindo processar os presidentes da Câmara e do Senado por quaisquer crimes – inclusive matar a própria mãe – que tenham cometido antes de ungidos aos respectivos cargos. Desnecessário dizer que os alvos da proteção, Eunício Oliveira e Rodrigo Maia, estão citados nas delações premiadas da Lava Jato.

No segundo exemplo, a Câmara insistiu em incluir parentes de políticos na lista dos contribuintes que poderão repatriar capitais enviados para o exterior, ao arrepio da Receita Federal. No terceiro, o mesmo Maia avisou que submeterá a checagem individual os mais de 2,2 milhões de assinaturas em apoio às Dez Medidas contra a Corrupção, numa cínica confissão que condenará ao limbo o projeto de iniciativa popular mais celebrado da história da República. Nas duas primeiras iniciativas, os “marcianos” recuaram, porém, impressiona a ousadia com que chegaram a defendê-las. Talvez seja preciso mudar a legislação penal. Um novo artigo absolverá os políticos pelos crimes que cometeram, já que a impunidade de fato predomina. Mas passaria a puní-los pelas intenções que manifestam.As penas seriam perpétuas.

Lava Jato
Força de expressão?

Na reta final da sabatina para o STF, Alexandre de Moraes provoca polêmica. Em reunião reservada com senadores na semana passada, o ministro licenciado da Justiça e Segurança Pública voltou à Lava Jato. Afirmou que após o Carnaval virão novas ações da força-tarefa, tendo como alvo muitos políticos. Nas eleições de 2016 disse algo parecido, o que faz crer segue tendo informações sigilosas sobre as investigações.

AGU
Teto em risco

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Paulo Roberto Costa (foto) pediu a Sérgio Moro para depor por videoconferência na Justiça Federal do RJ, dia 10 de março, alegando não poder pagar passagem aérea para Curitiba. O ex-diretor da Petrobras tem que se virar. É um dos alvos das cinco ações de improbidade administrativa movida pela AGU e a força-tarefa da Lava Jato, cobrança que soma R$ 26 bilhões. Não pagando haverá bloqueios e penhora de bens, inclusive da mansão na serra de Petrópolis, onde cumpre pena de 39 anos e cinco meses.

Marinha
Dinheiro sobrando

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A caminho do ferro velho, o porta-aviões “São Paulo”, sucata francesa comprada em 2000 por Fernando Henrique Cardoso, poderá dar novas despesas ao contribuinte brasileiro. Em 17 anos na Armada, seu “poder de fogo” produziu seis incêndios a bordo e matou um tripulante. No resto do tempo, consumiu milhões de dólares em “modernizações” caricatas e ficou inoperante em reparos. Agora, há no almirantado quem defenda uma grande festa de despedida, para a qual o banheirão receberia, antes, uma nova (e dispendiosa) pintura geral.

Armas
Pólvora em alta

Enquanto muitos segmentos ainda sofrem as dores da recessão, a indústria brasileira de defesa – que exibirá inventos a partir de 4 de abril – faz contas positivas. Vigésimo quinto maior exportador de armamento militar e de sistemas para as Forças Armadas, o Brasil projeta figurar entre os “top five” mundiais “num futuro próximo”. O negócio é parrudo: só em 2014, o setor faturou quase R$ 200 bilhões. Se Donald Trump continuar ajudando, não faltará mercado.

Congresso
Homem-teste

Quem se submeter à pesquisa clínica feita por instituições públicas ou privadas, tomando remédio experimental, terá direito ao produto de graça, a partir da licença dada a um laboratório para produzi-lo. A benesse valerá até o produto ser incluído na rede do SUS. Este é um dos pontos do projeto de lei aprovado pelo Senado na semana passada. O relator da matéria, Otto Alencar, é um sobrevivente da pesquisa. Descobriu o baço liquidado por esquistossomose, ao entrar na Universidade Federal da Bahia, em 1966. Ingeriu à época Mansil (oxamniquina), ainda em teste.

Trabalho
Folia dos juros

A Força Sindical contratou a Escola de Samba Imperador do Ipiranga para um pré-carnaval na quarta-feira 2, em frente ao BC, durante reunião do Copom, que decidirá sobre a nova taxa Selic. O “Bloco dos Juros Baixos” tem até marchinha: “Você pensa que os juros estão baixos! Os juros não estão baixos não! Eles só agradam os banqueiros e prejudicam o povão!”.  Como se vê, uma paródia da música “Cachaça”, hit da Folia de Momo.

Indústria
Lá e cá

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A lista dos top 10 de medicamentos no Brasil, em 2016, tem curiosidades. Em primeiro lugar apareceu o Dorflex, da Sanofi. Buscopan, da Boehringer, figurou na 10º posição. O antirreumático Torsilax, da NeoQuímica, ficou em 5º e Gligage, da Merck, em 7º . O quarteto também se destacou em volume de produção, segundo a consultoria Quintiles IMS, para alegria dos fabricantes.

Carnaval
Batuque geral

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O samba será duas vezes homenageado no carnaval carioca. No desfile das 12 escolas do Grupo Especial, no grande palco da Marques do Sapucaí, e no camarote da Rio Samba e Carnaval. É tema da decoração do espaço VIP de 1.400 m e ao seu ritmo, em shows exclusivos nos intervalos de apresentação das agremiações, serão entregues “tamborins de ouro” a dez estrelas do gênero, como Paulinho da Viola, Monarco e Martinho da Vila.  Por noite, 1.200 artistas, empresários e convidados, em sinergia e com vista privilegiada, curtirão 100% o samba – orgulho nacional.

Saúde
Língua solta

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Por ignorar em 2016 a norma da Comissão de Ética da Presidência que proíbe autoridades de, em campanhas eleitorais, prometer cargos, o ministro da Saúde, Ricardo Barros (foto), deve receber “censura pública” da CEP, na segunda-feira 20.