O maior segredo da história recente da República está guardado em uma sala-cofre do terceiro andar do edifício-sede do Supremo Tribunal Federal (STF). Trata-se de 800 depoimentos que compõem a delação premiada dos 77 executivos da Odebrecht encaminhados ao tribunal pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na segunda-feira 19. Normalmente o material ficaria no gabinete do ministro Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato. Mas o volume da documentação e a sensibilidade das informações levaram o ministro a adotar uma solução alternativa.

BACKUP Todos os 800 depoimentos foram digitalizados e armazenados num cofre imune até a incêndio
BACKUP Todos os 800 depoimentos foram digitalizados e armazenados num cofre imune até a incêndio

Teori se antecipou à chegada do material e conversou com a presidente do Supremo, Cármen Lúcia, sobre onde ficaria a papelada. Resolveram, então, preparar um local específico para a delação da Odebrecht, caso inédito até o momento na Lava Jato. Cármen teve a ideia de usar uma sala que fica no mesmo andar do gabinete da Presidência e, portanto, já é extremamente protegida pelos seguranças do local. O esquema de acesso é restritíssimo: apenas a equipe de Teori e a própria presidente do STF têm chaves da sala-cofre. O local é simples e não-recomendado aos claustrofóbicos: sem janelas, há uma mesa grande de trabalho com as pilhas de processos montadas ao redor. Lá estão 77 pastas levadas por servidores da PGR, uma específica para cada delator, que passaram despercebidas por uma das entradas principais do STF.

Mas nem mesmo um ataque que destruísse o prédio do Supremo livraria os políticos das graves acusações trazidas pela Odebrecht: ninguém na corte confirma oficialmente, até por uma questão de segurança. Mas há back ups do material, que inclui gravações e depoimentos digitalizados, armazenados em outra sala-cofre do Supremo, um espaço de 43 metros quadrados, localizado em um dos anexos. Esse local possui avançados recursos para preservar a integridade física das máquinas: temperatura regulada por três aparelhos de ar-condicionado, instalados de forma que um sempre esteja em funcionamento, paredes resistentes a tiros, inundações e incêndios, que suportam, por exemplo, a pelo menos 50 minutos de exposição direta ao fogo. Sensores internos são capazes de detectar qualquer princípio de incêndio, cessado instantaneamente com o uso de um gás que impede a combustão. Entre os equipamentos protegidos, estão o computador principal, todos os servidores da rede e uma fitoteca robotizada. A importância dos dados armazenados nessa sala é imensa: hoje, praticamente todos os processos do Supremo, mesmo aqueles físicos, são digitalizados e disponibilizados para as partes no sistema eletrônico do STF.

Na época da sua implantação, o então secretário de Tecnologia do Supremo, Paulo Pinto, comparou a sala-cofre à caixa-preta de um avião. Segundo ele, tudo lá dentro é mantido intacto mesmo se ocorram danos externos. Entre os equipamentos protegidos estão o computador principal, todos os servidores da rede e uma fitoteca robotizada para guardar os acervos da TV Justiça e da Rádio Justiça.

A ideia de instalar a sala-cofre no terceiro andar do STF foi da ministra Cármen Lucia, por ser o local mais protegido do tribunal

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FORÇA – TAREFA O ministro Teori vai falar com todos os 77 executivos da Odebrecht antes de homologar os acordos de delação

A Procuradoria-Geral da República, naturalmente, também guardou backup de todo o material da delação premiada. Lá, a segurança também é reforçada: a sala usada pela equipe da Lava Jato tem acesso restrito e fechadura com digital. Para escapar dessa, só mesmo andando na linha e não cometendo crimes. É na sala-cofre que a equipe de Teori Zavascki vai passar o recesso do Judiciário, lendo os termos de depoimentos para verificar se estão adequados ao cumprimento da lei. A partir de fevereiro, com o retorno dos trabalhos do Supremo, deve ocorrer a homologação da delação, permitindo que Janot comece formalmente a abrir inquéritos para investigar os fatos relatados pela maior empreiteira do Brasil. Tantos cuidados são facilmente compreensíveis e justificáveis: em 2017, é para a ala sul da Praça dos Três Poderes, onde fica o Supremo, que todas as atenções estarão voltadas, com fortes impactos previstos para seus prédios vizinhos.

A sete chaves

• O cofre do STF fica no 3º da sede do tribunal

• Está perto da sala da presidente Cármen Lucia, fortemente vigiado

• Só terão acesso o ministro Teori Zavascki, sua equipe, e a ministra Cármen

• O acesso é por fechadura com abertura digital

• Ficarão guardados 800 depoimentos

• De 77 executivos da Odebrecht, incluindo o de Marcelo Odebrecht

• Os documentos serão analisados por Teori Zavascki durante as férias