Há motivos para confiar no aquecimento econômico. Uma pesquisa realizada pela Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi) na semana passada mostrou que 47% dos brasileiros estão otimistas quanto à retomada da economia a partir de 2018. Depois de dois longos e difíceis anos de recessão, a crença na recuperação econômica se justifica: os preços estão caindo, o crédito está mais barato e o País voltou a abrir vagas de emprego. Em 2015, quando a inflação anual ultrapassava os 10%, era impossível acreditar que, dois anos depois, o índice ficaria abaixo do centro da meta. Os indicadores positivos mostram que a economia, enfim, está reagindo — uma recuperação lenta, porém palpável.

Para os consumidores, as melhoras começam a ser sentidas no bolso. A inflação anual, de acordo com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), medido pelo IBGE, alcançou o patamar mais baixo desde fevereiro de 1999. O setor de alimentos acumula três meses de deflação, o que demonstra que a queda de preços não está relacionada apenas ao clima ou à sazonalidade. Até o crédito ficou mais barato. A queda da inflação puxou para baixo a taxa básica de juros, a Selic. Em 2016, quando o presidente Michel Temer chegou ao governo, ela estava a 14,25%. Agora, a 9,25%, a Selic ficou abaixo de dois dígitos pela primeira vez em quatro anos. Isso fez com que os grandes bancos públicos e privados também diminuíssem suas taxas de juros para linhas de crédito pessoal e empresarial. “Vimos mudanças relevantes a partir da troca da equipe econômica”, diz Paulo Azevedo, professor de estratégia financeira do Ibmec SP. “Dadas as condições econômicas, não havia como fazer um milagre, mas a equipe mostrou austeridade, buscando mecanismos para diminuir gastos e aumentar a arrecadação, o que o mercado tem visto com bons olhos.”

“A equipe econômica mostrou austeridade, buscando mecanismos para diminuir gastos e aumentar a arrecadação” Paulo Azevedo, professor do Ibmec SP

Um dos sinais da caminhada rumo ao fim da recessão foi o resultado positivo do PIB no primeiro trimestre, que cresceu 1%. Foi o primeiro resultado positivo em oito trimestres. Agora, o País precisa entrar em um ciclo virtuoso: restabelecer a confiança do consumidor, que passará a comprar mais, fazendo com que as empresas aumentem a produção, a indústria diminua sua capacidade ociosa e o País gere empregos. É um ótimo sinal que, pelo quarto mês consecutivo, o emprego formal, com carteira assinada, registre elevação. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério do Trabalho na quarta-feira 9, em julho deste ano o Brasil gerou 35.900 vagas. A outra boa notícia é que, após o bom desempenho da agricultura este ano, a indústria também passa a dar sinais de recuperação. Tanto que a maior parte dos empregos em julho foi criada pela indústria de transformação. “A recessão que estamos vivendo foi longa e bastante dura, por isso, assim como a retomada econômica, a retomada do emprego vai ser lenta e gradual”, afirma Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE. Segundo o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, não veremos números negativos de geração de postos até novembro.

DEMANDA AQUECIDA A indústria de transformação foi o setor que mais gerou empregos formais em julho (Crédito:Rodolfo Buhrer)

FGTS E PIB

Para 2017, o governo prevê que o PIB cresça 0,5%. O avanço também é fruto de uma medida bem-sucedida do Planalto: a liberação do saque das contas inativas do FGTS. Segundo o Ministério do Planejamento, o impacto dos saques no PIB pode somar 0,61 ponto percentual. Na prática, sem a injeção desses recursos, o resultado poderia ser de retração de 0,11%. “O FGTS foi uma medida muito importante não apenas para estimular o consumo, mas para diminuir o endividamento das famílias brasileiras”, diz Azevedo, do Ibmec. O mercado prevê uma alta menor para o PIB em 2017: 0,38%. “A economia foi afetada ao longo desse período por diferentes crises políticas, a última ainda este ano, com a delação da JBS, mas ainda assim teremos um resultado melhor do que o do ano anterior”, afirma. “Precisamos primeiro parar de cair para, então, começar a crescer.” Um caminho que já começamos, desta vez de maneira consciente e sustentável.

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