Terror 2015/Mundo

Férias na Côte D’Azur, um show numa casa noturna badalada ou mesmo uma reunião de trabalho em Paris. O que fazia parte da rotina de quem vive ou visita a França passou a ser uma atividade de risco depois que uma série de atentados terroristas deixou centenas de feridos e quase 300 mortos. Desde 2015, o país se tornou o principal alvo do radicalismo islâmico, com atentados que chocaram e comoveram o mundo. Em 15 de janeiro daquele ano, dois irmãos fortemente armados mataram 14 pessoas, das quais 12 trabalhavam na redação do jornal “Charlie Hebdo”, conhecido por publicar charges consideradas ofensivas ao Islã. Em 15 de novembro, outra série de atentados, incluindo-se um tiroteio na casa de shows Bataclan e uma bomba na arena Stade de France, deixou mais 180 mortos. No dia 14 de julho de 2016, durante as comemorações da Queda da Bastilha, um caminhão dirigido por um terrorista solitário avançou sobre uma rua fechada para pedestres em Nice e atropelou centenas de pessoas, das quais 85 morreram.

“Há vários motivos para que a França venha enfrentando tantos ataques terroristas”, diz Antoine Vagneur-Jones, 21 anos, assistente do departamento de Oriente Médio da Fundação para Pesquisas Estratégicas da França. “Para o porta-voz do Estado Islâmico, a França é um símbolo dos valores ocidentais, personificando ideais enraizados no secularismo liberal”, diz ele. Esse não é o único motivo. Segundo Vaugneur-Jones, a França adotou uma política estrangeira agressiva em países muçulmanos, colocando suas tropas em lugares como a Líbia e o Mali. “Além disso, sucessivas administrações têm tido posturas duras em questões religiosas — num país com uma grande comunidade muçulmana”, ele afirma. “Esse verão tivemos o escândalo do burkini (traje de banho feminino muçulmano, proibido e depois liberado pela Justiça francesa). Esses procedimentos dão munição àqueles que percebem o país em guerra contra o Islã.”

“Sucessivas administrações têm sido duras em questões religiosas na França, país com uma grande comunidade muçulmana” Antoine Vagneur-Jones, 21 anos, pesquisador da Fundação para Pesquisas Estratégicas da França
“Sucessivas administrações têm sido duras em questões religiosas na França, país com uma grande comunidade muçulmana” Antoine Vagneur-Jones, 21 anos, pesquisador da Fundação para Pesquisas Estratégicas da França (Crédito:fotos: VALERY HACHE; reprodução)

Interceptações 

Apesar de as autoridades francesas afirmarem ter interceptado pelo menos 10 ataques terroristas desde 2015, o país é frágil em seu aparato de segurança doméstica. “É difícil falar de ‘terroristas’ como um grupo único, totalmente coordenado”, diz Vaugneur-Jones. Para ele, a estrutura fragmentada das organizações jihadistas complica ainda mais a tarefa de antecipar os ataques. “Depois de perder Mossul e outros territórios na Síria e no Iraque, há alguma possibilidade de o Estado Islâmico lançar uma série de novos ataques no Ocidente.”

Sentindo-se ameaçados em sua própria casa principal consequência tem sido o aumento da xenofobia, especialmente entre os mais jovens. A extrema direita tem crescido em diferentes países europeus, mas na França o movimento é ainda mais forte.

ISTOÉ dedicou duas reportagens de capas aos ataques na França, firmando sua posição em defesa da liberdade de expressão e ajudando o leitor a compreender as consequências das ações terroristas para o Brasil e o mundo.

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PELA LIBERDADE Uma capa do jornal “Charlie Hebdo”, atacado por jihadistas, e as edições da ISTOÉ: informação contra o terror